sexta-feira

O PRÍNCIPE DAS MARÉS

O PRÍNCIPE DAS MARÉS (The prince of tides, 1991, Columbia Pictures, 132min) Direção: Barbra Streisand. Roteiro: Pat Conroy, Becky Johnston, romance de Pat Conroy. Fotografia: Stephen Goldblatt. Montagem: Don Zimmermann. Música: James Newton Howard. Figurino: Ruth Morley. Direção de arte/cenários: Paul Sylbert/Cary Heller, Arthur Howe Jr., Leslie Ann Pope. Produção executiva: Cis Corman, James Roe. Produção: Andrew Karsh, Barbra Streisand. Elenco: Nick Nolte, Barbra Streisand, Blythe Danner, Kate Nelligan, Melinda Dillon, Jeroen Krabbé, George Carlin, Jason Gould. Estreia: 25/12/91

07 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Ator (Nick Nolte), Atriz Coadjuvante (Kate Nelligan), Roteiro Adaptado, Fotografia, Trilha Sonora Original, Direção de Arte/Cenários
Vencedor do Golden Globe de Melhor Ator/Drama (Nick Nolte)

Uma das polêmicas do Oscar 92 - que merecidamente consagrou "O silêncio dos inocentes" nas cinco principais categorias - foi a exclusão de Barbra Streisand entre as indicadas ao prêmio de melhor direção. Indicada ao Golden Globe e pela associação de diretores da América, Streisand foi esnobada pela mesma Academia que deu a seu filme sete indicações à estatueta, incluindo melhor filme. O que na época soou com uma afronta, porém, hoje em dia parece um raro acerto dos votantes. Apesar da delicadeza de vários momentos e da sutileza em conduzir temas pesados como tentativa de suicídio, estupro infantil e traumas familiares, Streisand falha em imprimir a seu "O príncipe das marés" o mais importante: personalidade.

Baseado em romance do escritor Pat Conroy - que co-escreveu o roteiro com Becky Johnston e concorreu ao Oscar por isso - "O príncipe das marés" tem uma trama instigante: Tom Wingo (Nick Nolte), um treinador de futebol americano desempregado, vive um desgaste em seu casamento e vê, aos poucos, sua família desintegrando-se. Sulista convicto, ele é praticamente obrigado a fazer uma viagem a Nova York depois da tentativa de suicídio de sua irmã gêmea, Savannah (Melinda Dillon) e encontra-se com sua psiquiatra, Susan Loweinstein (Barbra Streisand), uma médica conceituada que também está com o casamento - com um famoso violinista - em sérias dificuldades. Enquanto tenta fazer com que Tom revele alguns dos segredos de sua família - o que poderia explicar o comportamento de Savannah e ajudá-la em seu tratamento - Susan pede a ele que seja o treinador de seu filho adolescente, Bernard (Jason Gould, filho de Streisand na vida real, com o ator Elliott Gould), que deseja ser jogador mas se vê dividido pela pressão paterna a tornar-se músico. Cada vez mais próximos, acabam por envolver-se romanticamente, o que leva o retraído Tom a abrir para a psiquiatra uma traumática noite guardada no fundo de sua memória - principalmente devido ao controle obsessivo de sua mãe, Lila (Kate Nelligan, indicada ao Oscar de coadjuvante).


Fotografado esplendidamente por Stephen Goldblatt - responsável pela belíssima sequência inicial - "O príncipe das marés" tropeça em suas boas intenções. A história interessante acaba esvaziada por uma direção quase automática, que não busca soluções que não as mais óbvias. Nick Nolte - elogiadíssimo por seu desempenho, que chegou a ser favorito para um Oscar - não ultrapassa as limitações dos diálogos superficiais a que é submetido e sua química com Streisand não causa faíscas - seu romance parece existir mais como artimanha do roteiro do que uma relação orgânica e apaixonada. A própria Streisand não deixa de expor seu egocentrismo, sendo constantemente elogiada por seu protagonista e não hesitando em escolher sempre os ângulos que lhe favorecem em detrimento de uma edição mais ágil e eficaz - teria sido mais inteligente ficar apenas atrás das câmeras e escolhido outra atriz para estrelar o filme.

O elenco coadjuvante também tem altos e baixos. Enquanto Kate Nelligan e Melinda Dillon brilham como dois extremos da família Wingo - a força e a fragilidade - o filme perde sempre que entra em cena Jason Gould, que, em uma prova extrema de nepotismo, tem uma atuação abaixo da média como o filho rebelde sem causa de Loweinstein: sua transformação, assim como a de Tom e da própria Susan, soam falsas, forçadas e repentinas. Até mesmo a forte cena em que Tom abre seu coração e revela à médica seu maior trauma de infância remete mais às novelas da Globo do que a um filme com pretensões sérias. O roteiro mira em Freud, mas acerta em Glória Perez.

Porém, é inegável que "O principe das marés" tem suas qualidades. É elegante, é adulto e flerta com temas sérios - ainda que passe superficialmente por eles. Faz bom uso da fotografia e da trilha sonora e tem um final coerente e sensível. Não é uma obra-prima, mas cumpre boa parte do que promete, desde que não se busque mais do que um filme bem produzido.

Um comentário:

Hugo disse...

É um daqueles que filmes que sempre via na locadora e acabei não assistindo.

Abraço

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