A NEGOCIAÇÃO (The negotiator, 1998, Regency Enterprises, 140min) Direção: F. Gary Gray. Roteiro: James De Monaco, Kevin Fox. Fotografia: Russell Carpenter. Montagem: Christian Wagner. Música: Graeme Revell. Figurino: Francine Jamison-Tanchuck. Direção de arte/cenários: Holger Gross/Richard Goddard. Produção executiva: David Nicksay, Robert Stone, Webster Stone. Elenco: Kevin Spacey, Samuel L. Jackson, David Morse, Ron Rifkin, John Spencer, J. T. Walsh, Paul Giamatti. Estreia: 29/7/98
Quem disse que um filme-pipoca, feito para divertir a plateia durante duas horas e meia em uma sala de cinema no meio do verão não pode ter inteligência e qualidade? Certamente não foi o diretor F. Gary Gray. Vindo de um surpreendente êxito de crítica com seu "Até as últimas consequências", que revelou as atrizes Queen Latifah e Jada Pinkett Smith e o destacou dentre a leva de cineastas afro-americanos elogiados nos anos 90, Gary demonstrou, em seu filme seguinte, "A negociação" - com um orçamento cinco vezes maior - que sabia como ninguém construir um clima de tensão e violência sem deixar de lado o respeito pelo cérebro do espectador.
Tudo bem que o sucesso de "A negociação" - em termos de qualidade, não exatamente de bilheteria - tem muito a ver com a escalação acertadíssima de seus atores centrais. Enquanto Kevin Spacey vinha de um Oscar de coadjuvante por "Os suspeitos" (e trocou de papel quando Sylvester Stallone pulou fora do projeto), Samuel L. Jackson caminhava para se tornar um dos atores negros mais respeitados dentro da indústria, graças principalmente à sua parceria com Quentin Tarantino - "Pulp fiction" lhe deu uma indicação ao prêmio da Academia e "Jackie Brown" iria estrear poucos meses mais tarde. Juntos, Spacey e Jackson transformaram um "filme de verão" em um embate de gigantes, a despeito de um roteiro que, apesar de funcionar em ritmo e suspense, nunca atinge o potencial de sua premissa inicial.
Jackson interpreta Danny Roman, um conceituado negociador da policia de Chicago, capaz de reverter quadros aparentemente insolúveis. Logo depois de mais um sucesso na carreira, porém, ele é injustamente acusado pelo assassinato de um colega, que ele sabia estar investigando um caso de corrupção dentro da própria corporação. Desesperado, ele invade um prédio do governo, faz um grupo de reféns e exige que outro famoso negociador, Chris Sabian (Kevin Spacey), assuma o diálogo e o ajude a descobrir a verdade sobre o crime. Sabian - um profissional dedicado e inteligente - passa a acreditar em Roman, mas vai precisar ir contra toda a equipe policial que parece esconder muito mais do que aparenta.
"A negociação" não é um filme extraordinário e desprovido de pecados. Talvez o que mais incomode é sua duração excessiva - quase duas horas e meia de projeção exigiriam um ritmo mais ágil, em contraste com a prolixidade do roteiro, que em determinado momento chega a tornar-se cansativo mesmo com as atuações superlativas de Jackson e Spacey. Ainda assim, o ato final consegue atingir níveis de tensão o suficiente para manter o público ligado - e talvez até proporcionar-lhe um susto inesperado, valorizado justamente pela direção de Gray, atenta aos detalhes e às técnicas de edição e sonorização. Mais do que um Supercine de luxo, "A negociação" é um espetáculo de atores no auge de seu talento.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
terça-feira
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