COPLAND (Copland, 1997, Miramax Films, 104min) Direção e roteiro: James Mangold. Fotografia: Eric Alan Edwards. Montagem: Craig McKay. Música: Howard Shore. Figurino: Ellen Lutter. Direção de arte/cenários: Lester Cohen/Karen Wiesel. Produção executiva: Meryl Poster, Bob Weinstein, Harvey Weinstein. Produção: Cathy Konrad, Ezra Swerdlow, Cary Woods. Elenco: Sylvester Stallone, Robert DeNiro, Harvey Keitel, Ray Liotta, Peter Berg, Janeane Garofalo, Robert Patrick, Michael Rapaport, Annabella Sciorra, Cathy Moriarty, Noah Emmerich, John Spencer, Eddie Falco. Estreia: 06/8/97
James Mangold é um diretor atípico. Mesmo que seu nome não seja imediatamente reconhecível por fãs menos antenados, sua carreira é repleta de filmes bastante competentes, dos mais variados gêneros. Seu primeiro longa, o estranho "Paixão muda", aproveitou-se da estrela ascendente de Liv Tyler para fazer sucesso entre os espectadores de cinema independente. E seu segundo, "Copland", lançado em 1997, chamou a atenção mais pela mudança de visual de Sylvester Stallone do que por seus inúmeros méritos. Emulando o cinema policial cerebral dos anos 70 - que tinha na corrupção policial um de seus temas preferidos - o filme acabou sendo elogiado mas esquecido nas cerimônias de premiação. Um esquecimento que não faz jus à sua qualidade.
Mesmo que Stallone chame a atenção com sua performance - corajosa por romper a imagem heroica que sempre acompanhou sua carreira - o mais interessante em "Copland" é seu roteiro, que liga com maestria várias tramas paralelas que acabam revelando-se a mesma. Eclipsado pela genialidade de "Los Angeles, cidade proibida", que também falava sobre o assunto (ainda que com enfoque substancialmente diferente) e foi lançado à mesma época, o filme de Mangold é menos ambicioso do que a obra-prima de Curtis Hanson, mas, apostando no realismo e na crueza de sua trama, atinge todos os seus objetivos: é inteligente, bem dirigido, bem interpretado e surpreendente na medida certa. E Stallone é apenas a ponta do iceberg.
O eterno Rambo vive Freddy Heflin, o xerife de uma cidade próxima a Nova York que é predominantemente habitada por policiais, a chamada "Copland". Impossibilitado de tornar-se policial devido à surdez em um dos ouvidos - consequência de um salvamento que fez na juventude - Heflin não é muito considerado pelos moradores da cidade, mas é ele quem acaba desvendando uma rede de corrupção que envolve até mesmo os respeitados veteranos da corporação. Tudo começa quando o jovem Murray Babitch (Michael Rapaport), considerado um exemplo de dedicação e coragem, se envolve na morte de uma dupla de rapazes negros e tem a cena do crime alterada. Seu suicídio forjado abre a porta para uma série de irregularidades investigadas pela Corregedoria - na figura de Moe Tilden (Robert DeNiro). Além disso, Heflin também começa a desvendar uma teia de relações extra-conjugais que inclui até mesmo a sua grande paixão, Liz (Annabella Sciorra), a jovem que ele salvou de afogar-se e que é casada com Joey Randone (Peter Berg).
Equilibrando com talento raro uma história de sujeiras escondidas debaixo do tapete com o drama de um homem frustrado que tenta superar suas limitações por amor à justiça e à verdade, Mangold criou um espetáculo capaz de agradar a qualquer fã de cinema policial - mesmo que deixe o sempre esperado tiroteio para as cenas finais, onde a carnificina só não é exagerada porque é coerente com o resto da trama. Mesmo quando deixa de lado as tramoias corruptas que são a base de seu roteiro, o cineasta consegue o feito raro de prender a atenção do público com diálogos diretos e atuações nunca aquém de excelentes - até mesmo de atores jovens como Michael Rapaport. E é também bastante ousado, especialmente para um filme realizado sob os auspícios de Hollywood, que os personagens caminhem na tênue linha entre a honestidade e seus próprios interesses - com é o caso de Ray Liotta, que conquista justamente por sua dubiedade de caráter.
Filmado de forma direta, sem maiores arroubos de criatividade - talvez mais uma herança da geração 70 que deu ao mundo filmes como "Serpico" e "Operação França" - "Copland" é uma grata surpresa. Um filme simples, inteligente e que empolga muito mais pelo que diz do que pela forma como o faz. E isso é sempre raro em um gênero onde cortes histéricos são mais valorizados do que roteiros coesos.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
quarta-feira
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