COVA RASA (Shallow grave, 1994, Channel Four Films, 92min) Direção: Danny Boyle. Roteiro: John Hodge. Fotografia: Brian Tufano. Montagem: Masahiro Irakubo. Música: Simon Boswell. Figurino: Kate Carin. Direção de arte/cenários: Kave Quinn/Karen Wakefield. Produção executiva: Alan Scott. Produção: Andrew MacDonald. Elenco: Ewan McGregor, Kerry Fox, Christopher Eccleston. Estreia: 22/11/94 (Austrália)
O time que deu ao cinema dos anos 90 um de seus filmes icônicos - o já clássico "Trainspotting, sem limites" - já demonstrava, em seu primeiro trabalho como grupo, o peculiar gosto pelo humor negro e pelo virtuosismo visual. "Cova rasa" é um suspense repleto de diálogos afiados que apresentou ao mundo o diretor Danny Boyle, o roteirista John Hodge e o ator Ewan McGregor. Juntos, eles ainda fariam - além da citada adaptação do romance de Irvine Welsh - a bizarra comédia romântica "Por uma vida menos ordinária", com menos sucesso e menos verve. Em seu primeiro filme, Boyle já deixa claro seu talento em louvar o anti-herói, aqui representado por três amigos divididos pela ganância que tem a sua vida transformada por um acontecimento fortuito e macabro.
Alex (Ewan McGregor), Juliet (Kerry Fox) e David (Christopher Eccleston) dividem um amplo apartamento, mas percebem que precisam de uma quarta pessoa para rachar as despesas. Depois de várias entrevistas com possíveis locatários - que eles dispensam por motivos fúteis e superficiais, como o modo de vestir, falar ou se comunicar - eles finalmente concordam em aceitar o misterioso Hugo (Keith Allen), que se descreve como escritor. O que parecia uma solução satisfatória para a crise financeira dos amigos sofre uma reviravolta logo em seguida, quando Hugo é encontrado morto, aparentemente vítima de overdose. Antes de chamar a polícia, porém, eles descobrem uma maleta abarrotada de dinheiro e resolvem, por unanimidade, mantê-la, como forma de ficar ricos. No entanto, depois de livrar-se do corpo, o trio inicia uma sufocante jornada de desconfiança, paranoia e ambição, que os leva a virar-se uns contra os outros.
Uma das maiores qualidades de "Cova rasa" é a sua forma de saltar de uma comédia despretensiosa e anódina sobre um grupo de amigos quase arrogantes e egocêntricos para um suspense arrebatador e surpreendente, que não se furta a apelar para cenas que, em mãos menos capazes, seriam simplesmente chocantes. Comandada por Boyle - cujo senso estético e artístico é inegável - a sequência em que os amigos esquartejam o cadáver de Hugo, por exemplo, é sutil e impressionante, mais pelo que esconde do que pelo que mostra. E a descida de um dos personagens rumo à loucura é ilustrada com extremo bom gosto, fugindo dos clichês visuais que soterram os filmes do gênero.
E o elenco é um capítulo à parte: Ewan McGregor, que seria consagrado por sua atuação no filme seguinte de Boyle, já revela um carisma que prenunciava seu sucesso futuro. Christopher Eccleston dá o tom exato a seu personagem, o mais complexo do trio. E Kerry Fox faz o possível para despertar a simpatia do espectador, apesar da frieza de Juliet - que encontra eco, aliás, em seus amigos, pouco afeitos a grandes sentimentos. Aliás, uma das críticas feitas ao filme de Boyle dizia respeito à frieza de seus protagonistas, que jamais transmitem qualquer tipo de sentimento que não a ambição. É uma constatação verdadeira, mas que serve para ilustrar com perfeição sua falta de empatia em relação aos outros - principalmente quando dirigida com perceptível gosto.
"Cova rasa" é bizarro, é tenso, é quase desagradável em seu retrato do ser humano. Mas, a seu modo, é divertido, é insanamente engraçado e um extraordinário cartão de visitas para seu diretor, seu ator principal e seu roteirista.
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quinta-feira
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Um comentário:
É um ótimo longa de humor negro que já mostrava o talento de Danny Boyle.
Abraço
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