A
PROVA (Proof, 2005, Miramax, 100min) Direção: John Madden. Roteiro:
David Auburn, Rebecca Miller, peça teatral homônima de David Auburn.
Fotografia: Alwin H. Kuchler. Montagem: Mick Audsley. Música: Stephen
Warbeck. Figurino: Jill Taylor. Direção de arte/cenários: Alice
Normington/Barbara Herman-Skelding. Produção executiva: Julie Goldstein,
James D. Stern, Bob Weinstein, Harvey Weinstein. Produção: Robert
Kessel, Alison Owen. Elenco: Gwyneth Paltrow, Anthony Hopkins, Jake
Gyllenhaal, Hope Davis. Estreia: 05/9/05 (Festival de Veneza)
Em
1998, o diretor John Madden e a atriz Gwyneth Paltrow estiveram à
frente de um grande sucesso de bilheteria e Oscar (sete estatuetas,
incluindo melhor filme) com a deliciosa comédia romântica "Shakespeare
apaixonado", que especulava a respeito de uma história de amor proibido
entre o dramaturgo de "Romeu e Julieta" e uma dama da sociedade inglesa
comprometida com outro homem e que sonhava tornar-se estrela dos palcos.
Sete anos mais tarde, eles voltaram a se encontrar para tentar
reconquistar os membros da Academia, dessa vez em um tom mais sério, com
a adaptação para as telas de uma peça teatral sobre assuntos não muito
atraentes: matemática e loucura. Não deu certo, pelo menos em termos de
reconhecimento e prestígio: mesmo com o apoio luxuoso de Anthony Hopkins
no elenco, "A prova" - baseado no texto original de David Auburn que
estreou nos palcos em 2000 - não chegou a entusiasmar nem o público nem a
crítica. Não deixa de ser uma pena, já que é um filme interessante e
correto, calcado em atuações intensas e uma trama mais inteligente que a
média.
Ciência é o ponto de partida de "A prova":
depois da morte do prestigiado e louvado Robert (Anthony Hopkins) -
autor de vários teoremas matemáticos louvados por mestres e alunos - sua
filha caçula, Catherine (Gwyneth Paltrow), que cuidou dele em seus
últimos anos, entra em uma severa crise nervosa, temendo sofrer dos
mesmos problemas mentais do pai. Aos vinte e sete anos e também
estudiosa de matemática, ela demonstra grande talento e inteligência,
mas deixa que sua aflição tenha mais influência sobre sua personalidade
do que seu gênio. Seus problemas ficam ainda maiores quando sua irmã
mais velha, Claire (Hope Davis), chega para o funeral e inicia o
processo de levá-la com ela para um recomeço em Nova York - mesmo que
isso não estivesse exatamente em seus planos, principalmente porque
Catherine está iniciando um romance com Harold (Jake Gyllenhaal), aluno
de seu pai que acredita que há a prova de um teorema complicadíssimo
entre os escritos do desequilibrado matemático.
Intercalando
passado e presente como forma de dar ao público a mesma sensação de
desamparo e confusão com que Catherine se depara em sua angústia, o
roteiro dos dramaturgos David Auburn (autor da peça original) e Rebecca
Miller (filha de Arthur e esposa de Daniel Day-Lewis) consegue a proeza
de tratar de assuntos pouco comerciais e até um tanto delicados com
suavidade e leveza, nunca deixando que a trama descambe para o clichê e a
intelectualidade excessiva. Apesar de ter a matemática como ponto de
partida da história, o que se destaca é principalmente a relação de sua
protagonista com os demais personagens e com seu medo de perder a
sanidade. Essa estrutura dramática dá espaço mais do que o suficiente
para seus atores brilharem, especialmente graças aos diálogos densos e à
complexidade das relações interpessoais gerada pela trama. Gwyneth
Paltrow se destaca, em uma interpretação delicada e contida que mostra
dentro de uma atriz muito questionada por ter ganho um Oscar inesperado
vive uma intérprete dedicada e capaz de transmitir os mais variados
sentimentos. Com um olhar expressivo e que dá margem a inúmeras
interpretações, ela consegue sobressair-se até mesmo ao veterano Anthony
Hopkins.
Servindo apenas como base de uma trama
centralizada nos conflitos entre Catherine e sua irmã - chique, bem
resolvida e alienada em relação ao universo científico de sua família -
Hopkins é a presença magnética de sempre, derramando seu fleuma elegante
pela tela mesmo quando seu personagem está à beira da loucura. Seus
embates com Paltrow - em particular a bela cena em que a filha percebe o
estado mental do pai - são fascinantes, em parte graças ao texto forte,
em parte à direção econômica de John Madden, mais uma vez comprovando
seu talento em não deixar-se levar pela vaidade de chamar mais a atenção
que a história ou os atores. Tratando o roteiro como o principal
elemento de seu trabalho, ele faz de "A prova" um filme inteligente e
direto, feito para quem gosta de assistir a bons atores defendendo um
bom texto. Não é para todos, mas nem sempre bom cinema o é.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
sexta-feira
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