NO VALE DAS SOMBRAS (In the valley of Elah, 2007, Warner Independent Pictures/Summit Entertainment, 121min) Direção: Paul Haggis. Roteiro: Paul Haggis, estória de Paul Haggis e Mark Boal. Fotografia: Roger Deakins. Montagem: Jo Francis. Música: Mark Isham. Figurino: Lisa Jensen. Direção de arte/cenários: Laurence Bennett/Linda Sutton-Doll. Produção executiva: Emilio Diez Barroso, Erik Feig, David Garrett, Bob Hayward, James Holt, Stan Wlodowski. Produção: Laurence Becsey, Paul Haggis, Steven Samuels, Patrick Wachsberger. Elenco: Tommy Lee Jones, Charlize Theron, Susan Sarandon, Jason Patric, James Franco, Jonathan Tucker, Josh Brolin, Frances Fisher, Zoe Kasdan. Estreia: 01/9/07 (Festival de Veneza)
Indicado ao Oscar de Melhor Ator (Tommy Lee Jones)
Na metade da primeira década dos anos 2000 poucos nomes eram tão quentes em Hollywood quanto o de Paul Haggis. Roteirista de dois filmes vencedores do Oscar em anos consecutivos - "Menina de ouro" em 2005 e "Crash, no limite", que ele também dirigiu, em 2006 - ele assinou também o script de "Cartas de Iwo Jima", que concorreu à estatueta no ano seguinte e parecia que tinha tudo para marcar presença também na cerimônia de 2008 com "No vale das sombras", que tinha na receita alguns ingredientes aparentemente infalíveis para cair no gosto da Academia: relação entre pai e filho, guerra no Iraque e atores já devidamente consagrados - Tommy Lee Jones, Charlize Theron e Susan Sarandon. Porém, para surpresa de muitos, quando a lista de indicados foi divulgada, o filme mostrou-se praticamente ignorado: apenas Lee Jones foi lembrado, com uma indicação que parecia mais um prêmio de consolação do que merecimento. Nada mais justo: apesar de algumas qualidades óbvias, "No vale das sombras" é mais do mesmo, um misto entre drama, guerra e policial que não consegue empolgar em nenhum dos gêneros. É correto, nunca brilhante.
Tommy Lee Jones - em papel recusado por Clint Eastwood, que o recomendou a Haggis - interpreta, com o mesmo tom de enfado e falta de entusiasmo de sempre, o sargento aposentado Hank Deerfield, que sai de sua pequena cidade do interior do Tennessee para investigar o desaparecimento de seu filho caçula, Mike (Jonathan Tucker), recém-chegado ao Novo México depois de uma missão de 18 meses no Iraque. Lutando contra a burocracia da polícia e dos militares locais, ele tenta descobrir por conta própria o que aconteceu com o rapaz, até que sua investigação muda tragicamente de rumo quando os restos mortais do jovem são localizados, queimados e abandonados em um matagal. Com a ajuda da detetive Emily Sanders (Charlize Theron, sempre competente) - uma mãe solteira que luta contra o machismo e a misoginia dos colegas - Deerfield precisa usar de sua experiência e de sua determinação para romper o bloqueio de mentiras e meias-verdades do quartel e dos colegas do filho e chegar à verdade. Enquanto isso, em casa, sua esposa, Joan (Susan Sarandon, a ponto de roubar a cena em cada momento), lida com a perda do segundo filho - o primeiro morreu em um acidente aéreo quando estava em serviço, também militar.
O maior problema de "No vale das sombras" é sua indecisão: ao optar por uma miscelânea de gêneros, Paul Haggis tenta abarcar todos com a mesma desenvoltura, quando fica óbvio até ao menos atento espectador que tal ambição fica seriamente comprometida quando a trama não tem força suficiente para amparar tanto. O desenrolar da investigação de Deerfield é interessante e seus métodos são igualmente empolgantes, mas o desfecho criado pelo roteiro é anti-climático e seu relacionamento com Emily e seu filho pequeno nunca ultrapassa o superficial e o clichê - a ponto de ele usar uma história para dormir como metáfora para o tema do filme, a luta de Davi contra Golias. O excesso de lugares-comuns do roteiro também é perceptível a qualquer um, especialmente quando chega aquele momento fatídico em que a detetive se rebela contra a mesquinharia de seus colegas e resolve unir-se ao abnegado pai em busca da verdade sobre o filho. Em mãos menos capazes e talentosas, perigava ser intragável. Felizmente Theron é sensacional e Lee Jones, apesar de repetir ad nauseum todos os trejeitos de sempre, consegue convencer como um homem turrão e decidido. Eles salvam o filme da vala comum dos telefilmes semanais e dão um verniz de inteligência até mesmo quando a trama dá sinais de que não tem muito a oferecer.
Longe de ser um filme ruim, "No vale das sombras" acaba se ressentindo das expectativas que criou com a assinatura de Haggis, o elenco de astros e o tema momentoso. Se tivesse escolhido um gênero e se mantido nele, com personagens menos superficiais e uma trama menos previsível, poderia ter se transformado no grande filme que pretendia ser. Como está, é apenas uma produção ok, que entretém, mantém a atenção, mas desaparece da memória do público assim que termina a sessão. Convenhamos, é muito pouco.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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