PONTO DE VISTA (Vantage point, 2008, Columbia Pictures/Relativity Media, 90min) Direção: Pete Travis. Roteiro: Barry L. Levy. Fotografia: Amir Mokri. Montagem: Stuart Baird. Música: Atli Orvarsson. Figurino: Luca Mosca. Direção de art/cenários: Brigitte Broch/Denise Camargo. Produção executiva: Callum Greene, Tania Landau. Produção: Neal H. Moritz. Elenco: William Hurt, Sigourney Weaver, Forest Whitaker, Dennis Quaid, Matthew Fox, Eduardo Noriega, Bruce McGill, Édgar Ramírez, Said Taghamoui, Zoe Saldana, James Les Gros. Estreia: 13/02/08 (Salamanca)
O presidente dos Estados Unidos está na cidade de Salamanca, na Espanha, para fazer parte de uma conferência que irá ditar novos rumos internacionais para o combate ao terrorismo. Transmitido via satélite para o mundo todo, seu discurso na praça central da cidade acaba por transformar-se em uma inesperada tragédia quando ele é atingido por um tiro, apesar dos esforços de sua equipe de segurança, que irá contar então com as imagens amadoras capturadas por um turista americano, que podem esclarecer uma conspiração envolvendo gente do próprio governo americano. A trama de "Ponto de vista" pode não ser das mais criativas, especialmente depois do 11/9, que recolocou o terrorismo como tema favorito de nove entre dez filmes de ação de Hollywood. O que diferencia o filme de Pete Travis em relação a vários outros da mesma temática é a engenhosidade de sua narrativa: ainda que em alguns momentos soe cansativa e/ou exagerada, é ela que mantém aceso o interesse da plateia até o final, com uma série de reviravoltas que, a despeito de sua inverossimilhança, entretém com bastante dignidade - especialmente com a ajuda de um elenco que conta com nomes de prestígio, como William Hurt, Sigourney Weaver e Forest Whitaker.
Como o próprio título sugere, a trama de "Ponto de vista" é contada sob diferentes ângulos, com informações complementares sendo acrescentadas a cada rodada, como peças de um quebra-cabeças que, aos poucos, vai sendo montado diante do espectador, que muda sua percepção a respeito da história quando as reais motivações de seus personagens se revelam e alteram (ou não) o desenrolar da história. Seguindo a tradição de clássicos como "Z", de Costa-Gavras e de tramas políticas como "JFK", de Oliver Stone - mas logicamente sem a mesma ambição e sem o mesmo resultado perturbador e fascinante - o filme de Travis vai e volta no tempo, sempre recomeçando sua narrativa poucos minutos antes do atentado ao presidente e terminando em um ponto que pode dar respostas às questões levantadas pelo roteiro no momento da tragédia. Somando-se a isso alguns dramas pessoais - traumas profissionais, chantagem e até uma improvável história de amor que pode ou não ser sincera - a atmosfera está criada e o cineasta aproveita o roteiro de Barry L. Levy para explorar todas as possibilidades de suspense. Uma pena, porém, que em seu terço final, ele sucumba à tentação de deixar de lado o tom de urgência de seu começo e assuma sua vocação para o filme de ação descerebrado: quando a intriga dá espaço para perseguições e tiroteios - mesmo que bem realizados - é impossível segurar a frustração.
Se existe um protagonista em "Ponto de vista" ele é Thomas Barnes (Dennis Quaid), segurança do presidente norte-americano (William Hurt) que volta a seu antigo cargo depois de um tempo afastado por ter sido ferido em ação. Seu retorno é visto com insegurança pela maior parte dos colegas, inclusive seu parceiro mais próximo, Kent Taylor (Matthew Fox, no auge do sucesso da série "Lost") - nem mesmo a produtora de telejornal Rex Brooks (Sigourney Weaver) está confiante em sua recuperação total, o que acaba se mostrando um tanto acertado quando o presidente é alvejado em pleno discurso. Enquanto ele é socorrido - e mesmo assim corre risco de tornar-se vítima de terroristas infiltrados na equipe de socorro - Barnes e Taylor partem em busca de alguma pista a respeito do atirador e dos mentores do atentado, contando com a ajuda do americano Howard Lewis (Forest Whitaker) - que filmou tudo - e do misterioso Enrique (Eduardo Noriega), que alega ser da polícia espanhola mas tem uma relação mal-explicada com a responsável pelo segundo atentado do dia: uma explosão na praça de Salamanca.
Mesmo que explore mal a presença sempre forte de Sigourney Weaver e apresente algumas resoluções simplistas para algumas das questões levantadas em seu começo, "Ponto de vista" é um entretenimento acima da média. Sua edição ágil e inteligente disfarça com competência as falhas de um roteiro bastante superficial no desenho dos personagens e em suas motivações um tanto clichê, assim como impede que o público descubra com antecedência as reviravoltas da história - ainda que, depois de reveladas em sua totalidade, elas não sejam assim tão surpreendentes. No cômputo geral, é um filme que cumpre o que promete e, maior de suas qualidades, se leva a sério e não resvala na autoparódia que é a sentença de morte de grande parte de seus congêneres
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
domingo
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