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PASSAGEIROS

PASSAGEIROS (Passengers, 2008, TriStar Pictures/Mandate Pictures, 93min) Direção: Rodrigo Garcia. Roteiro: Ronnie Christensen. Fotografia: Igor Jadue-Lillo. Montagem: Thom Noble. Música: Edward Shearmur. Figurino: Katia Stano. Direção de arte/cenários: David Brisbin/Carol Lavalee. Produção executiva: Joe Drake, Nathan Kahane. Produção: Julie Lynn, Judd Payne, Matthew Rhodes, Keri Selig. Elenco: Anne Hathaway, Patrick Wilson, Dianne Wiest, David Morse, Andre Braugher, Clea DuVall, William B. Davis, Don Thompson, Ryan Robbins. Estreia: 24/10/08

Diretor do sensível "Coisas que você pode dizer só de olhar para ela" e de alguns episódios da aclamada "A sete palmos", o colombiano Rodrigo Garcia - filho do escritor Gabriel Garcia Marquez - parece não ser, a princípio, o cineasta mais apropriado para contar a história repleta de suspense de um grupo de sobreviventes de um desastre aéreo que tentam superar o trauma com a ajuda de uma jovem terapeuta com problemas familiares. Porém, essa dúvida a respeito de sua adequação à trama é desfeita com poucos minutos de "Passageiros": apesar do tom sombrio e do permanente clima de tensão, o roteiro de Ronnie Christensen - autor de filmes B de pouca repercussão - oferece ao diretor um material rico também em possibilidades dramáticas, que lhe permite explorar, sem prejuízo de nenhum dos enfoques, tanto um belo drama psicológico quanto um suspense elegante, que dispensa sustos baratos ao optar por um viés mais espiritualista da história.

Talvez o maior acerto de "Passageiros" seja Anne Hathaway no papel central de Claire Summers, uma jovem terapeuta que é chamada por seu professor, Perry (Andre Braugher), para servir como conselheira de um grupo de sobreviventes de um grave acidente aéreo ocorrido recentemente. Uma pessoa fechada e introvertida que tem problemas de relacionamento com a única irmã, Claire relutantemente aceita a missão e começa uma série de sessões com os traumatizados passageiros - que tem, cada um a seu modo, uma visão diferente do que aconteceu na ocasião do acidente. Enquanto tenta investigar o que realmente ocasionou a queda do avião, Claire passa a sofrer a perseguição de um dos funcionários da companhia aérea (David Morse) e começa a perceber que seus pacientes estão misteriosamente desaparecendo, um a um. Certa de que algo muito errado está acontecendo, ela ainda começa a envolver-se com um dos pacientes, o charmoso Eric (Patrick Wilson), que, desde o desastre, passou a se comportar como um homem a quem foi dada uma nova chance. Mas, afinal, qual a verdade sobre a tragédia? E como realmente Claire poderá ajudar a essas pessoas?


Levantando suas questões aos poucos, conforme vai apresentando os personagens e estabelecendo suas ligações, o roteiro de "Passageiros" não chega a ser uma obra-prima de criatividade, mas tem o grande mérito de não tratar o espectador como burro. Espalhando pistas sobre a grande revelação final durante todo filme, o roteirista e o diretor não apelam para soluções tiradas da manga, preferindo contar sua história em um ritmo próprio, que equilibra as cenas românticas entre Claire e Eric com momentos de uma suave tensão. Essa opção de enfatizar o lado sensível da trama em detrimento de sustos e violência acaba sendo o grande diferencial do filme de Garcia em relação a outros similares: intercalando delicadeza e mistério, "Passageiros" pode agradar a gregos e troianos, ainda que corra o risco de, por sua indecisão (ou ousadia, dependendo do ponto de vista), deixar de ser um marco em qualquer um dos gêneros. Com o tempo, será lembrado como romance, drama ou suspense? Ou simplesmente irá tornar-se mais um clássico das madrugadas televisivas?

É fácil gostar de "Passageiros", uma vez que tudo parece estar no lugar certo: o elenco talentoso, a direção sutil, o roteiro com reviravoltas suficientes para segurar a atenção, a história interessante. Mas mesmo assim, fica a impressão de que falta a ele um algo a mais que o mantenha na memória do espectador e faça dele um grande filme. É emocionante, é surpreendente e é um entretenimento dos mais agradáveis. Mas dificilmente vai mudar a vida de alguém, ainda que seja sempre um prazer ver Anne Hathaway e Patrick Wilson em cena (melhor esquecermos de "Os miseráveis" e "O vizinho", não é mesmo?).

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