OS DELÍRIOS DE CONSUMO DE BECKY BLOOM (Confessions of a shopaholic, 2009, Touchstone Pictures, 104min) Direção: P.J. Hogan. Roteiro: Tracey Jackson, Tim Firth, Kayla Alpert, romances de Sophie Kinsella. Fotografia: Jo Willems. Montagem: William Goldenberg. Música: James Newton Howard. Figurino: Pat Field. Direção de arte/cenários: Kristi Zea/Alyssa Winter. Produção executiva: Ron Bozman, Chad Oman, Mike Stenson. Produção: Jerry Bruckheimer. Elenco: Isla Fisher, Hugh Dancy, Krysten Ritter, John Lithgow, Joan Cusack, John Goodman, Kristin Scott Thomas, Lynn Redgrave, Julie Hagerty. Estreia: 05/02/09
A heroína de "Os delírios de consumo de Becky Bloom" - comédia romântica baseada nos dois primeiros livros de uma série de cinco volumes escritos pela britânica Sophie Kinsela - tem traços de algumas das mais populares personagens femininas a cruzar as telas de sua época. De Bridget Jones - criada por Helen Fielding e interpretada por Renée Zelwegger em dois filmes - ela tem a nacionalidade, o azar nos relacionamentos afetivos e a dificuldade sobre-humana de tirar suas contas do vermelho. De Elle Woods - que catapultou a carreira de Reese Witherspoon nos dois capitulos de "Legalmente loira" - ela herdou o amor incondicional por roupas, acessórios e sapatos de marcas famosas e a incapacidade de sair de casa sem estar vestida dos pés à cabeça com suas griffes preferidas. De Andrea Sachs - a sofrida assistente de Meryl Streep que Anne Hathaway viveu em "O diabo veste Prada" - ela tem a mesma profissão (jornalista) e o ambiente profissional (o mundo editorial, com suas armadilhas e pressões). E com as personagens de "Sex and the city" - série da HBO que também foi transposta para o cinema - ela divide o gosto pelo luxo, pelo romance e pela sofisticação... e a cidade de Nova York, para onde foi transferida pelos roteiristas apenas para uma "maior conexão com o público norte-americano". Com tantas referências na bagagem - apertadas ao lado do figurino caprichado da mesma Patricia Field da série estrelada por Sarah Jessica Parker e do filme com Hathaway - não é de admirar, portanto, que ela tenha passado quase em brancas nuvens. Mesmo com uma bilheteria mundial de mais de 100 milhões de dólares, as aventuras da consumista mais conhecida da literatura feminina não marcou época como suas colegas de shopping-center - matando logo em seu primeiro filme uma possível marca milionária para seduzir pelo visual e pela identificação as espectadoras que leram todos os cinco romances. Culpa do excesso de semelhanças? Da falta de carisma da atriz central? Da crise que tornou a estória um tanto fora de hora? Ou simplesmente falta de interesse da plateia?
Um pouco de tudo, talvez. Mesmo que Hollywood não se canse de contar e recontar as mesmas histórias a ponto de esgotá-las, a renda dos filmes contraria a teoria do cansaço com a falta de imaginação - não se pode esquecer que estamos falando de uma indústria que despeja continuações e mais continuações a cada temporada, sempre com êxitos cada vez maiores. Será então que Isla Fisher tem sua parcela de culpa no sucesso apenas mediano da empreitada? Pode ser. Desconhecida do grande público, Fischer é uma boa atriz, mas não tem o mesmo carisma de Reese Witherspoon - que chegou a ser cotada para o papel, recusando-o por considerá-lo parecido demais com sua Elle Woods. Será que as outras atrizes consideradas para protagonizar o filme teriam melhor sorte? É possível, já que na lista constam nomes como Kirsten Dunst, Rachel McAdams, Emily Blunt, Amanda Seyfried, Lindsay Lohan e até mesmo Anne Hathaway. Mas culpar Fisher - responsável por alguns dos melhores momentos de humor físico do filme - é leviano e até injusto. Então seria a crise econômica a responsável pela recepção morna à produção, que tinha como protagonista uma consumista contumaz? Se a resposta for essa, então como explicar as bilheterias monstruosas de filmes como "Avatar", "Se beber, não case", "Sherlock Holmes" e "Harry Potter e o enigma do príncipe", todos lançados no mesmo ano? Ok, "Becky Bloom" tem uma parcela restrita de público-alvo, mas então onde entra "Lua nova" nessa equação?
Dirigido pelo australiano P.J. Hogan - cujo talento foi mais do que comprovado com o sucesso de "O casamento de Muriel" (94) e "O casamento do meu melhor amigo" (97) - "Os delírios de consumo de Becky Bloom" é uma comédia romântica bobinha e leve, e como tal deve ser considerada e apreciada, apesar do abuso de clichês. Sua protagonista, Rebecca Bloomwood, é uma jovem jornalista que, sem emprego que lhe permita pagar seus excessos financeiros, acaba por encontrar trabalho em uma revista de economia editada pelo charmoso Luke Brandon (o sr. Claire Danes) - filho de uma milionária que tenta esconder suas origens para vencer pelo próprio talento. Com o apelido de "A moça da echarpe verde", ela começa a escrever uma coluna mensal sobre finanças pessoais para leigos e torna-se a sensação da revista. Apaixonada pelo chefe e incapaz de livrar-se do vício em compras - a ponto de brigar com a melhor amiga e passar os dias fugindo de um insistente cobrador que não parece disposto a desistir da caça - ela luta constantemente contra o saldo bancário e sua frustração profissional, já que seu sonho é trabalhar na "Alette", a revista de moda comandada pela fria Alette Naylor (Kristin Scott Thomas).
O fato é que "Os delírios de consumo de Becky Bloom", apesar de alguns acertos, é apenas mais uma sessão da tarde descerebrada que se utiliza de elementos já devidamente testados e aprovados para conquistar o bolso da plateia. Não tem a ironia de "Legalmente loira", o sarcasmo de Bridget Jones, a mordacidade de "O diabo veste Prada" e as geniais sacadas verbais e sexuais de "Sex and the city". Diverte em alguns momentos - é ótima a ideia de ver as manequins das vitrines ganhando vida quando a veem e é sempre um prazer ver Kristin Scot Thomas em cena - mas não consegue evitar a sensação de "mais do mesmo" em vários outros. A decisão da Touchstone em não dar continuidade à série foi acertada: acompanhar Becky Bloom como mãe e esposa certamente não seria uma boa ideia.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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