OPERAÇÃO VALKYRIA (Valkyrie, 2008, MGM Pictures/United Artists/Bad Hat Harry Productions, 121min) Direção: Bryan Singer. Roteiro: Christopher McQuarrie, Nathan Alexander. Fotografia: Newton Thomas Siegel. Montagem e música: John Ottman. Figurino: Joanna Johnston. Direção de arte/cenários: Lilly Kilvert, Patrick Lumb/Bernhard Henrich. Produção executiva: Ken Kamins, Chris Lee, John Ottman, Dwight C. Schar, Mark Shapiro, Daniel M. Snyder. Produção: Gilbert Adler, Christopher McQuarrie, Bryan Singer. Elenco: Tom Cruise, Kenneth Branagh, Tom Wilkinson, Bill Nighy, Carice Van Houten, Thomas Kretschman, Terence Stamp, Tom Hollander. Estreia: 25/12/08
Bryan Singer começou a carreira chamando a atenção com filmes de suspense sutil e psicológico - "Os suspeitos" (95), que deu o primeiro Oscar à Kevin Spacey, e "O aprendiz" (98), uma adaptação majestosa de um conto de Stephen King, estrelada por Ian McKellen. Depois, fez fortuna com os dois primeiros capítulos de "X-Men", lançados em 2000 e 2003 e que abriram as portas para a febre de adaptações de HQs para o cinema e experimentou o gostinho do fracasso com sua - para muitos - decepcionante visão do Homem de Aço em "Superman, o retorno" (06). Foi para surpresa de muitos, portanto, que seu projeto seguinte tenha sido "Operação Valkyria", um drama de guerra baseado em fatos reais que, ao custo de 75 milhões de dólares e estrelado por Tom Cruise, tornou-se um dos mais bem-sucedidos filmes sobre a II Guerra Mundial de todos os tempos. Mesmo que não tenha feito muito barulho nas bilheterias americanas, a história da mais famosa tentativa alemã de assassinar Hitler rendeu mais de 200 milhões pelo mundo, comprovando o interesse das plateias pelo assunto - e o talento de Singer em transitar confortavelmente pelos mais variados gêneros sem deixar de lado a qualidade de sua obra.
Convencido a embarcar no projeto pelo roteirista Christopher McQuarrie - vencedor do Oscar por "Os suspeitos" e que conheceu a história do Coronel Claus Von Stauffenberg ao visitar um memorial em sua homenagem em Berlim, em 2002 - o jovem cineasta demonstra total domínio das regras do suspense, aplicando-as em um filme de enquadramentos clássicos e narrativa sóbria, que equilibra com inteligência dados históricos com sequências de pura tensão, sem deixar-se cair na tentação de criar uma obra didática ou uma produção superficial. Cercado de uma equipe de confiança - como o diretor de fotografia Newton Thomas Siegel e o editor e compositor John Ottman - Singer consegue a façanha de contar uma história cujo final não é exatamente surpreendente sem nunca perder o interesse da plateia, fisgada por uma trama inacreditável - mas que, por ironia das ironias, aconteceu de verdade. Enfatizando o suspense de cada sequência ao utilizar os princípios básicos do gênero e explorá-los ao máximo, o diretor injeta sangue novo aos filmes de guerra ao substituir a violência explícita pela tensão potencializada de cada close-up no lugar certo ou pela música de Ottman, que comenta a ação sem tornar-se intrusiva e/ou óbvia. Comandando minuciosamente cada cena, ele conduz o espectador a uma viagem das mais interessantes rumo a um dos momentos mais cruciais da história do mundo.
A trama de "Operação Valkyria" se passa em julho de 1944, quando um grupo de soldados alemães, temendo pela sorte do país conforme se aproxima o desfecho da Grande Guerra, decide pôr em prática um audacioso e arriscado plano de eliminar Hitler e assumir o controle de Berlim - e consequentemente de toda a Alemanha. Mesmo sabendo que corre o risco de ser condenado por alta traição (crime punido com a morte), o Coronel Claus Von Stauffenberg (Tom Cruise) assume o papel de líder da conspiração, convencendo outros membros do alto escalão do governo a fazer parte do time de rebeldes e agindo pessoalmente no momento mais importante da ação. Ferido em batalha não muito antes dos acontecimentos, o coronel sabe que seu país está se encaminhando para uma inevitável derrota e, com um elevado senso de patriotismo, deixa em segundo plano até mesmo a família em vias de aumentar. Um personagem heroico e forte, Stauffenberg ressente-se apenas pela representação morna de Tom Cruise, um ator que, promissor nos anos 90, tornou-se um pastiche de si mesmo, incapaz de convencer em papéis que fujam do trivial. Sorte de Cruise é estar cercado de um elenco coadjuvante fabuloso, em que se destacam os sempre eficientes Bill Nighy e Tom Wilkinson, além de Kenneth Branagh e Thomas Kretschmann em papéis infelizmente menores que seu talento.
Visualmente atraente - a reconstituição da Alemanha nazista é um primor, e o figurino de Joanna Johnston é acima de qualquer crítica - "Operação Valkyria" tem muito mais acertos do que erros. Não é um filme perfeito apesar de suas qualidades evidentes nem tampouco risível como faz pensar o (péssimo) trailer, que dá a impressão de ser uma comédia histórica exagerada e fake. É um trabalho de impressionante qualidade técnica que conta uma história de interesse universal, sobre pessoas cuja coragem sobrepujou o medo do pior dos castigos: a morte. É mais um belo filme de Bryan Singer.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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