MAD MAX: ESTRADA DA FÚRIA (Mad Max: Fury Road, 2015, Warner Bros/Village Roadshow Pictures, 120min) Direção: George Miller. Roteiro: George Miller, Brendan McCarthy, Nico Lathouris, personagens criados por George Miller, Byron Kennedy. Fotografia: John Seale. Montagem: Margaret Sixel. Música: Junkie XL. Figurino: Jenny Beavan. Direção de arte/cenários: Colin Gibson/Nicki Gardiner, Katie Sharrock, Lisa Thompson. Produção executiva: Bruce Berman, Graham Burke, Chris DeFaria, Steven Mnuchin, Iain Smith, Courtenay Valente. Produção: George Miller, Doug Mitchell, PJ Voeten. Elenco: Tom Hardy, Charlize Theron, Nicholas Hoult, Zoe Kravitz, Hugh Keays-Byrne, Nathan Jones, Rosie Huntington-Whiteley. Estreia: 07/5/15
10 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (George Miller), Fotografia, Montagem, Figurino, Direção de Arte/Cenários, Efeitos Visuais, Maquiagem, Edição de Som, Mixagem de Som
Vencedor de 6 Oscar: Montagem, Figurino, Direção de Arte/Cenários, Edição de Som, Mixagem de Som, Maquiagem
É fato público e notório que a Academia de Hollywood não é muito chegada em admitir as qualidades de blockbusters de ação quando vai escolher seus preferidos na hora de conceder sua honra máxima - o Oscar. Raramente um filme como "Star Wars" (77), "Caçadores da Arca Perdida" (81) e "A origem" (2010) são reconhecidos com indicações além das técnicas - uma reclamação que não cessa junto ao grande público. Por isso, não deixou de ser uma grande e grata surpresa quando "Mad Max: Estrada da Fúria", quarto capítulo da saga criada por George Miller em 1979, chegou à cerimônia de 2016 com chances de vitória em nada menos que 10 categorias - incluindo melhor filme e diretor. Unanimemente incensado pela crítica, eleito melhor filme pelos críticos de Chicago e Los Angeles - além do National Board of Review - e com uma bilheteria mundial de quase 400 milhões de dólares, a produção não apenas mereceu plenamente as seis estatuetas recebidas como revestiu o gênero de uma aura de respeito e prestígio poucas vezes visto. Não é para menos: um espetáculo visual e cinético avassalador e corajoso em apelar para a violência sem glamourizá-la ou banalizá-la, "Mad Max: Estrada da Fúria" é o filme de ação que os fãs pediram a Deus: impactante, empolgante e divertido sem ser bobo. Além disso, é uma aula de edição, sonorização e fotografia.
O principal mérito de "Mad Max: Estrada da Fúria" foi deixar de lado a reverência aos três primeiros filmes da série, procurando uma nova geração de espectadores que certamente não os assistiram apesar do sucesso. Dessa forma, não apenas o novo capítulo é quase um reset mas também pode ser visto sem nenhuma informação anterior, sem prejuízo da compreensão da história (que, a bem da verdade, quase inexiste). Um filme de ação no sentido mais radical da palavra, "Estrada da Fúria" prescinde de muitos diálogos, mergulhando a plateia em uma experiência sensorial sem pausas - dos primeiros aos últimos minutos só o que se vê na tela é uma sucessão de sequências abismais de adrenalina pura, fotografada com precisão cirúrgica pelo veterano John Seale e editada com energia palpável por Margaret Sixel - esposa do diretor e vencedora do Oscar por seu meticuloso trabalho. Outro grande acerto foi dividir a responsabilidade do protagonismo entre Max (interpretado pelo ótimo Tom Hardy, assumindo o lugar de Mel Gibson sem medo das comparações) e a já icônica Imperatriz Furiosa (em atuação inesquecível de Charlize Theron): com dois personagens centrais que unem as forças na segunda e explosiva metade, o filme de Miller não perde o ritmo em nenhum momento e expande sua narrativa para prováveis sequências - o próprio Tom Hardy já tem contrato assinado para outros três filmes.
Sem explicar muito e deixando para o público preencher as lacunas da história, o roteiro de "Estrada da Fúria" se passa em um futuro pós-apocalíptico, em um deserto australiano carente de água e combustível e dominado pelo déspota Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne), que tem toda a população a seu redor na dependência de seu poder e um grupo de mulheres para lhe dar filhos e eternizar seu império. Revoltada com a situação, uma de suas pessoas de confiança, Furiosa, resolve fugir de seu jugo e, acompanhada de um grupo de outras rebeldes (inclusive a preferida do tirano, grávida), aproveita uma chance de atravessar o deserto e, voltando para casa, desafiar o cruel e violento ditador. No caminho, ela encontra Max, um homem de passado traumático, assombrado por decisões tomadas em sua trajetória e que é escravo de Immortan Joe, servindo como doador compulsório de sangue para os soldados da cidadela. Agressivo e experiente, Max demora a conquistar a confiança de Furiosa, mas quando ela começa a ser perseguida pelo deserto, os dois se unem no objetivo de fugir e destruir a onipotência do sanguinário monstro.
Com dois atos bem definidos - uma fuga na primeira metade e uma corrida na segunda - e personagens fortes e carismáticos, "Mad Max: Estrada da Fúria" é a radicalização dos filmes de ação: não há espaço para piadinhas ou romances, a violência é extrema e desglamourizada, o ritmo é absurdamente alucinante e a história é apenas mera desculpa para efeitos espetaculares - e em sua maioria absoluta sem auxílio de CGI. George Miller surpreende a plateia com momentos de poesia visual desconcertante e em seguida choca com uma sanguinolência cada vez mais rara em uma época em que os filmes precisam ser cuidados com a classificação etária (e com isso fazer mais dinheiro nas bilheterias). Sem preocupações desse tipo, o cineasta conta sua história com energia de principiante e sabedoria de veterano - e consegue deixar de queixo caído não apenas o público mas também seu elenco: nem Charlize Theron nem Tom Hardy tinham ideia de como o resultado final sairia até a primeira e consagradora sessão. Uma obra-prima do gênero, "Estrada da Fúria" pode até ter saído do Oscar sem as principais estatuetas, mas seu lugar está garantido entre os grandes filmes de 2015 - e até da década. Imperdível!
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