SANGUE PELA GLÓRIA (Bleed for this, 2016, Verdi Productions, 117min) Direção: Ben Younger. Roteiro: Ben Younger, estória de Ben Younger, Pippa Bianco, Angelo Pizzo. Fotografia: Larkin Seiple. Montagem: Zachary Stuart-Pontier. Música: Julia Holter. Figurino: Melissa Vargas. Direção de arte/cenários: Kay Lee/Kim Leoleis. Produção executiva: David Gendron, Michael Hansen, Myles Nestel, Joshua Sason, Martin Scorsese, Michelle Verdi, Lisa Wilson. Produção: Bruce Cohen, Noah Kraft, Pamela Thur, Emma Tillinger Koskoff, Chad A. Verdi, Ben Younger. Elenco: Miles Teller, Aaron Eckhart, Ciarán Hinds, Katey Sagal, Ted Levine, Amanda Clayton. Estreia: 02/9/16 (Festival de Teluride)
Em 2005, o diretor Ben Younger lançou a comédia romântica "Terapia do amor", estrelada por Meryl Streep e Uma Thurman - que revelava um senso de humor inteligente e com altas doses de realismo. Demorou, no entanto, mais de dez anos para que o cineasta voltasse para trás das câmeras - e surpreendentemente, com um filme radicalmente diferente do anterior. Uma história real, dramática e inspiradora, "Sangue pela glória" pode não ser exatamente original, revolucionário ou mesmo marcante, mas, realizado pela mísera quantia de seis milhões de dólares e filmado em meros 24 dias (segundo o próprio Younger), é uma produção honesta e simpática, valorizada pela atuação de Miles Teller, um jovem ator em ascensão que demonstra comprometimento e dedicação a cada novo trabalho. Assumindo de corpo e alma o protagonismo de uma história tão inacreditável quanto emocionante, Teller demonstra segurança necessária para tornar críveis mesmo algumas reviravoltas que, em mãos menos competentes, poderiam soar totalmente inverossímeis - apesar de terem realmente acontecido.
Parte de uma série de filmes que inclui os já clássicos "Rocky, um lutador" (1976), "Touro indomável" (1980) e "Menina de ouro" (2004), "Sangue pela glória" nem de longe tenta ser ousado em sua narrativa, seja ela visual ou verbal. O roteiro - escrito pelo próprio diretor - é simples, linear e sem grandes arroubos de criatividade, preferindo manter seu diálogo direto com a plateia ao invés de buscar artifícios modernosos. A edição segue a mesma ideia, assim como a fotografia naturalista, que evita filtros e efeitos para concentrar-se no desenvolvimento da trama: tudo no filme segue a mesma linha de extrema discrição, o que é uma espécie de alento em uma época em que qualquer produção sonha em ser épica. No entanto, essa sutileza em excesso também acaba por prejudicar um pouco o resultado final: por mais talentoso que Teller seja, por mais dramática que seja a história contada, sua conexão sentimental com a plateia não é tão satisfatória quanto poderia: ao abdicar de grandiosidade, Younger também opta por fugir do sentimentalismo - por consequência, impede uma maior empatia do público com seu personagem central.
Vinny Pazienza é um jovem lutador de boxe, talentoso e quase arrogante, que se dedica ao esporte com a mesma intensidade com que costuma apostar em cassinos e desafiar campeões de sua categoria. No auge de sua ascensão profissional, no início da década de 90, ele sofre um violento acidente de carro e, em consequência disso, vê ameaçada até mesmo a possibilidade de voltar a andar. Depois de passar por um doloroso e sacrificante tratamento, porém, Vinny resolve provar a todos que é capaz não apenas de caminhar novamente, mas de voltar aos ringues. Com a ajuda de seu treinador, Kevin Rooney (Aaron Eckhart), o rapaz desafia o próprio destino e surpreende a família, os amigos e o público ao anunciar que está pronto para voltar ao boxe - em uma categoria superior àquela de antes do acidente. Seu pai, Angelo (Ciarán Hinds), a princípio temeroso dos resultados da quase irresponsabilidade do filho, acaba por ser de crucial importância para sua autoconfiança - que inspira todos à sua volta.
Quem assistir à "Sangue pela glória" procurando por um grande filme, inesquecível e intenso, certamente irá se decepcionar, uma vez que o roteiro apresenta todos os clichês possíveis do gênero (herói sofredor que dá a volta por cima, o treinamento desgastante, o treinador compreensivo, o clímax final). Porém, quem buscar um entretenimento rápido e competente dentro de suas limitações, irá encontrar nele uma pequena pérola. Miles Teller tem carisma o bastante para conquistar o espectador, Aaron Eckhart está irreconhecível como Rooney, as cenas de luta são dirigidas com cuidado e em nenhum momento a narrativa escorrega no piegas. Não é um marco do cinema, mas tampouco uma produção frouxa e desinteressante: é um daqueles filmes que passam rápido, mas que também desaparecem rapidamente da memória. Mas vale pela volta de Younger, um talento a ser desenvolvido.
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