TERRAS PERDIDAS (A thousand acres, 1997, Touchstone Pictures, 104min) Direção: Jocelyn Moorhouse. Roteiro: Laura Jones, romance de Jane Smiley. Fotografia: Tak Fujimoto. Montagem: Maryann Brandon. Música: Richard Hartley. Figurino: Ruth Myers. Direção de arte/cenários: Dan Davis/Andrea Fenton. Produção executiva: Armyan Bernstein, Thomas A. Bliss. Produção: Marc Abraham, Lynn Arost, Steve Golin, Kate Guinzburg, Sigurjon Sighvatsson. Elenco: Jessica Lange, Michelle Pfeiffer, Jennifer Jason Leigh, Jason Robards, Colin Firth, Keith Carradine, Kevin Anderson, Pat Hingle, John Carroll Lynch, Michelle Williams, Elizabeth Moss, Beth Grant, Bob Gunton. Estreia: 19/9/97
Um rei idoso e poderoso, sentido a morte se aproximar, resolve dividir seu reino entre as três filhas, deflagrando assim um confronto épico de decepções e traições. Escrita por William Shakespeare por volta de 1605, a peça "Rei Lear" serviu de inspiração, desde então, para inúmeros autores dispostos a examinar as raízes da ambição e dos conflitos familiares advindos dela. Um dos livros inspirados na tragédia shakespeareana foi "A thousand acres", escrito por Jane Smiley e vencedor do prestigiado Pulitzer de literatura. Com os direitos vendidos para Hollywood, era apenas questão de tempo para que sua trama chegasse às telas e conquistasse o público - afinal, não tinha como dar errado. Mas deu. Com uma produção problemática que se estendeu por cinco anos, constantes reedições, a rejeição do produto final por sua diretora e um fracasso de crítica e bilheteria, "Terras perdidas" tornou-se mais um na vasta lista de filmes que poderiam ter sido um grande sucesso mas que não passaram de promessa. Uma pena, já que seus ingredientes são excepcionais.
A diretora de "Terras perdidas" é a australiana Jocelyn Moorhouse, cujo filme anterior, "Colcha de retalhos" (95), também tinha uma apurada visão feminina da vida. Suas estrelas, Michelle Pfeiffer e Jessica Lange, são ótimas atrizes, populares e velhas conhecidas da Academia. O elenco coadjuvante conta com Jason Robards, Jennifer Jason Leigh e um então iniciante Colin Firth - sem contar as adolescentes Michelle Williams e Elizabeth Moss, que mal aparecem em cena, como as filhas de Pfeiffer. A trama - como já dito, inspirada em Shakespeare - inclui na receita traumas do passado, doenças incuráveis e um leve viés feminista, mas o roteiro, escrito por Laura Jones, mal consegue alinhavar todos os conflitos propostos pela história original: não fosse a força das atuações de Lange e Pfeiffer - tirando leite de pedra -, o filme de Moorhouse seria um desastre completo (e isso que a própria cineasta pediu para seu nome ser retirado dos créditos depois de assistir à sua primeira versão).
Transferindo a ação de Lear para o interior do Iowa, com suas belas fazendas e cenários de tirar o fôlego, "Terras perdidas" começa justamente quando o fazendeiro Larry Cook (Jason Robards em papel recusado por Paul Newman), viúvo há muitos anos, resolve, como o protagonista shakespereano, dividir as terras de sua fazenda entre suas três filhas. A mais velha, Ginny (Jessica Lange), é quem cuida da rotina do pai, e divide seu tempo entre ele e o marido, Ty (Keith Carradine). A filha do meio, Rose (Michelle Pfeiffer), se recupera de um câncer no seio e leva uma vida doméstica aparentemente tranquila com Peter (Kevin Anderson) e as duas filhas adolescentes. A caçula, Caroline (Jennifer Jason Leigh) é a única que não compartilha do dia-a-dia agrícola da família: estudando para ser advogada e morando longe, é ela quem questiona a decisão do pai - e é ela também que desencadeia o processo de conflito familiar, ao recusar a proposta paterna. A briga entre os dois passa a ser o pano de fundo para uma sucessão de dramas que afloram no seio dos Cook, o que inclui a chegada de um antigo conhecido, Jess Taylor (Colin Firth), que desequilibra a união entre Ginny e Rose.
Michelle Pfeiffer - que lutou para levar o livro de Smiley às telas - está fascinante como Rose, uma mulher amargurada por traumas do passado e que tenta, através da compensação financeira, recompor uma vida de sofrimento. Jessica Lange tem mais trabalho como Ginny, que se transforma de uma mulher frustrada pela falta de filhos no para-raios de uma família altamente disfuncional - e que encontra forças para viver a própria vida justamente quando já se encontrava acomodada em um casamento morno. São as duas que movimentam a trama do filme - a ótima Jennifer Jason Leigh é subaproveitada como Caroline, e Jason Robards, apesar de sempre excelente como déspota, sofre com um personagem maniqueísta, sem nuances ou qualidades redentoras. O resultado é uma obra morna, que desperdiça uma história forte e bons atores em uma trama de telenovela, rasa e desprovida de maior emoção. Para os fãs das atrizes é um show à parte, mas como cinema é, infelizmente, bem medíocre.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
domingo
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