UMA VIDA POR UM FIO (Sorry, wrong number, 1948, Paramount Pictures, 89min) Direção: Anatole Litvak. Roteiro: Lucille Fletcher, peça radiofônica de sua autoria. Fotografia: Sol Polito. Música: Franz Waxman. Figurino: Edith Head. Direção de arte/cenários: Hans Dreie, Earl Hendrick/Sam Comer, Bertram Granger. Produção: Anatole Litvak, Hal Wallis. Elenco: Barbara Stanwyck, Burt Lancaster, Ann Richards, Wendell Corey, Harold Vermilyea, Ed Begley. Estreia: 01/9/48
Indicado ao Oscar de Melhor Atriz (Barbara Stanwyck)
Transmitida pela primeira vez em maio de 1943, com Agnes Moorehead no papel principal, a peça radiofônica "Sorry, wrong number" mostrou-se um sucesso incontestável - a ponto de ser reencenada sete vezes até 1960. Em 1948, a Paramount Pictures - que, assim como outros estúdios, procurava incansavelmente por material a ser adaptado para o cinema - resolveu que a trama de suspense escrita por Lucille Fletcher tinha grande potencial para conquistar um público ainda maior do que os ouvintes de rádio. Com um roteiro escrito pela própria Fletcher, o diretor ucraniano Anatole Litvak no comando e a sempre eficiente Barbara Stanwyck como protagonista, "Uma vida por um fio" estreou nos cinemas e confirmou a teoria do estúdio. Além do êxito comercial e de crítica, o filme rendeu à Stanwyck sua quarta e última indicação ao Oscar de melhor atriz - nada mais justo, uma vez que, apesar da qualidade do elenco coadjuvante, é ela quem carrega nas costas, praticamente sozinha, o filme de Litvak.
Em um ano particularmente bem-sucedido de sua carreira - "Na cova da serpente", também dirigido por ele, concorreu a seis Oscar, incluindo melhor diretor -, Litvak demonstrou uma versatilidade rara, conquistando a audiência tanto com o drama estrelado por Olivia de Havilland quanto pelo suspense psicológico com Stanwyck. Filmado em três meses - e em ordem cronológica para facilitar o trabalho de sua atriz central -, "Uma vida por um fio" foi concebido como um conto claustrofóbico, passado em um período de poucas horas e em um único ambiente (com exceção dos flashbacks que vão completando o quebra-cabeça e esclarecendo à protagonista e ao espectador os rumos inesperados da trama. Para esse tom sufocante colaboram muito a fotografia em preto-e-branco de Sol Polito e a trilha sonora minimalista de Franz Waxman - dois elementos que, somados à direção concisa de Litvak, ao roteiro de Fletcher e à atuação de Stanwyck, forjam um filme que cumpre exatamente o que promete: um entretenimento honesto, surpreendente e (mais importante ainda) que respeita a inteligência do público ao criar um desfecho verossímil e corajoso.
A personagem principal do filme é Leona Stevenson, uma milionária mimada cuja saúde não é exatamente das melhores. Filha de um poderoso empresário da indústria farmacêutica, ela é casada com o ambicioso Henry Stevenson (Burt Lancaster), a quem conheceu quando era namorado de sua melhor amiga, Sally (Ann Richards). Confinada a uma cama em sua bela casa em Nova York, ela tem em seu telefone o mais importante contato com o mundo exterior, mas em uma noite como outra qualquer, ela se vê envolvida numa trama perigosa: ao tentar localizar o marido e pedir que volte logo para casa, Leona se vê em meio a uma linha cruzada e ouve dois homens combinando o assassinato de uma mulher dali a algumas horas. Tensa, Leona resolve avisar a polícia do crime iminente, mas é desacreditada. Em pânico, ela inicia uma série de telefonemas para tentar descobrir algo mais sólido a respeito do homicídio - até que, para seu desespero, descobrir que a futura vítima é ela mesma. Uma série de flashbacks explica melhor como as coisas chegaram a tal ponto - enquanto Leona, sozinha e sem condições físicas de fugir, tenta impedir seu trágico fim.
Construído de forma a fazer com que o público acompanhe Leona conforme ela vai juntando as peças do quebra-cabeça que pode salvar sua vida, o roteiro de "Uma vida por um fio" é um belo exemplo de concisão. Com poucos personagens e um senso de urgência que o impede de ter cenas desnecessárias, o filme envolve o espectador sem muito esforço. Graças à atuação impecável de Stanwyck e a direção sóbria de Litvak, a história se desenrola sem maiores problemas de ritmo e, quando chega a seu ato final, apresenta à plateia um encerramento coerente e realista. Elogiado pela crítica e aplaudido pelo público, "Uma vida por um fio" só não agradou à atriz Agnes Moorehead: intérprete de Leona nas inúmeras transmissões de rádio da peça de Lucille Fletcher, ela foi substituída sem maior cerimônia por Barbara Stanwyck e recusou, ofendida, um papel menor na adaptação para o cinema. É difícil saber se, com ela no papel principal, o filme teria o mesmo impacto, mas tal incidente não deixa de mostrar como, desde sempre, Hollywood sempre privilegiou suas crias em detrimento de intérpretes menos badalados. De qualquer forma, "Uma vida por um fio" é um belo suspense que, a despeito de seus problemas de bastidores, sobreviveu facilmente ao teste do tempo.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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