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O TESOURO DE SIERRA MADRE

O TESOURO DE SIERRA MADRE (The treasure of Sierra Madre, 1948, Warner Bros, 126min) Direção: John Huston. Roteiro: John Huston, romance de B. Traven. Fotografia: Ted McCord. Montagem: Owen Marks. Música: Max Steiner. Direção de arte/cenários: John Hughes/Fred M. McLean. Produção executiva: Jack L. Warner. Produção: Henry Blanke. Elenco: Humphrey Bogart, Walter Huston, Tim Holt, Bruce Bennett, Bart MacLane. Estreia: 14/01/48

4 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (John Huston), Ator Coadjuvante (Walter Huston), Roteiro
Vencedor de 3 Oscar: Diretor (John Huston), Ator Coadjuvante (Walter Huston), Roteiro
Vencedor de 3 Golden Globes: Melhor Filme/Drama, Diretor (John Huston), Ator Coadjuvante (Walter Huston) 

"O tesouro de Sierra Madre" é um filme extraordinário. E mesmo que não fosse, ele já teria um lugar muito especial reservado na história do cinema: até agora é o único filme a premiar, na mesma cerimônia de entrega do Oscar, tanto o pai quanto o filho. Se John Huston levou pra casa as estatuetas de direção e roteiro, seu pai, o veterano Walter Huston, saiu da festa com o troféu de melhor ator coadjuvante - por um papel que ele quase recusou por não se se tratar do protagonista. Convencido pelo filho não apenas a aceitar o papel mas também a construir o personagem com o máximo de realismo (leia-se sem a dentadura que o veterano ator utilizava), Walter roubou todas as cenas em que aparecia, e só não eclipsou totalmente o ator principal porque o tal ator principal era ninguém menos que Humphrey Bogart, no auge da carreira - mas chegou a preocupar os executivos da Warner, que tinham medo que sua atuação apagasse o brilho de Bogart, um de seus maiores astros.

Porém, antes que brilhasse naquele que é considerado seu melhor desempenho, o veterano ator quase recusou o papel: ainda se considerando ator de papéis principais, ele foi convencido pelo filho depois de muitas tentativas. O próprio diretor não havia pensando em seu pai quando teve a ideia de transformar o livro de B. Traven em filme - em 1935, quando leu o romance e decidiu adaptá-lo, John queria que Walter fosse o protagonista. Já em 1941, quando finalmente parecia que o projeto iria enfim decolar, os atores escolhidos pela Warner para o elenco eram George Raft, Edward G. Robinson e John Garfield. Mas então o destino (na forma da II Guerra Mundial) interferiu nos planos do estúdio e do cineasta: Huston foi dirigir uma série de documentários sobre o conflito e deixou de lado (por um tempo) seu desejo de realizar o filme. Nesse meio-tempo, o roteirista Robert Rossen ficou trabalhando na adaptação e Bogart se tornou, repentinamente, o maior nome da Warner. Com o final da guerra, Huston voltou à Hollywood e pode, finalmente, retomar seu projeto de estimação - e o que Jack L. Warner julgava apenas mais um western B tornou-se um de seus filmes mais caros (e ligeiramente complicados). Um dos primeiros filmes norte-americanos a ser filmado inteiramente no exterior, "O tesouro de Sierra Madre" levou a equipe inteira para o México por quase seis meses e ultrapassou o orçamento inicial em alguns milhões de dólares, para desespero do estúdio - que só reconheceu o valor do resultado final quando o filme tornou-se um clássico adorado pela crítica (o que aconteceu, principalmente, graças a inúmeros relançamentos).


As filmagens no México não foram exatamente um paraíso. Logo que o trabalho começou, na cidade de Tampico, a produção descobriu que eles não mais bem-vindos no local: devido a uma reportagem publicada em um jornal da cidade, o filme faria um retrato pouco lisonjeiro dos mexicanos, o que, logicamente, desagradou aos nativos. O motivo de tal reportagem tão deliberadamente equivocada tinha a ver com o fato de o editor do jornal não ter recebido (por baixo dos panos) o "agrado" que normalmente todos que precisavam da cidade lhe oferecia. O problema chegou até o presidente do país, que, procurado por dois sócios mexicanos de Huston, deu fim ao problema - e o próprio editor acabou morrendo semanas depois, atingido pelo tiro de um marido ciumento. Com as filmagens retomadas - e Walter Huston roubando a cena descaradamente -, parecia que nada iria atrapalhar a equipe, nem mesmo o consultor técnico Hal Croves, indicado pelo autor do livro para acompanhar os trabalhos. O que todos comentavam no set era que Croves era provavelmente o próprio B. Traven, cujo rosto era desconhecido de todos, graças à sua personalidade reclusa e misteriosa. Esposa de John Huston, a atriz Evelyn Keyes, que estava ao lado do marido durante as filmagens, tinha certeza do fato, mas foi embora antes que pudesse confirmá-lo - e antes de descobrir que o cineasta tinha a intenção de adotar uma criança mexicana considerada a mascote do grupo: quando ele voltou para casa com o pequeno Pablo à tiracolo, encontrou Keyes atônita (e pouco disposta a compreender seu gesto, uma vez que o casamento não durou muito).

Filme preferido de diretores como Robert Redford e Paul Thomas Anderson, "O tesouro de Sierra Madre" conta uma história de ambição e ganância, temas caros a John Huston, cuja filmografia insiste em jogar luz sobre personagens dúbios e pouco simpáticos. Os protagonistas são Fred C. Dobbs (Humphrey Bogart) e Bob Curti (Tim Holt), que, sem dinheiro e sem perspectivas, são atraídos pela ideia de encontrar ouro e mudar de vida. Acompanhando o experiente Howard (Walter Huston), os dois partem para as montanhas de Sierra Madre - mas basta que comecem a ter sucesso em sua missão para que a confiança dê lugar à paranoia, e não demora para que todos passem a suspeitar do caráter uns dos outros. O roteiro (reescrito por John Huston) é um primor, dotado de ritmo e identidade próprios, e a direção é simples e eficiente, assim como a fotografia em preto-e-branco de Ted McDord, que utiliza de forma impecável as locações mexicanas. Sem excessos e enxuto, é um filme que sobrevive ao teste do tempo - e, mais importante ainda, melhora a cada revisão. Um clássico por excelência!

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