A BELA E A FERA (Beauty and the Beast, 2017, Walt Disney Films, 129min) Direção: Bill Condon. Roteiro: Stephen Chbosky, Evan Spiliotopoulos, roteiro da animação original de Linda Woolverton. Fotografia: Tobias Schliessler. Montagem: Virginia Katz. Música: Alan Menken. Figurino: Jacqueline Durran. Direção de arte/cenários: Sarah Greenwood/Katie Spencer. Produção executiva: Don Hahn, Thomas Schumacher, Jeffrey Silver. Produção: David Hoberman, Todd Lieberman. Elenco: Emma Watson, Dan Stevens, Luke Evans, Josh Gad, Kevin Kline, Ewan McGregor, Ian McKellen, Emma Thompson, Stanley Tucci. Estreia: 23/02/17
2 indicações ao Oscar: Figurino, Direção de Arte/Cenários
Em 1992, "A Bela e a Fera", animação produzida pela Disney, conseguiu furar um bloqueio histórico e ser indicada ao Oscar de Melhor Filme, anos antes que desenhos animados tivessem uma categoria para chamarem de sua e passassem a ser levados tão a sério quanto qualquer gênero mais "adulto" - e frequentemente também lembrados na corrida à estatueta principal. Na época, ficou apenas com os prêmios tradicionalmente relegados às animações (trilha sonora original e canção), mas abriu um precedente inesperado, já que fazia pouco tempo que o estúdio do Mickey havia readquirido seu status de grande produtor de filmes do gênero. Bem-sucedido nas bilheterias e aplaudido pela crítica, "A Bela e a Fera" se manteve no inconsciente coletivo do público por décadas, até que a mesma Disney teve a ideia de apresentá-lo a novas gerações - mas em formato diferente. A intenção era manter o clima original, parte das canções e a trama central, mas em live-action. Algo assim já havia sido testado em "Cinderela", dirigido por Kenneth Branagh em 2015, mas dessa vez o projeto era muito mais ambicioso: não apenas estenderia o roteiro em 45 minutos (em relação ao original) como contaria com uma atriz de considerável poder de atração, a inglesa Emma Watson, famosa por sua participação na bilionária série cinematográfica "Harry Potter". Além disso, o orçamento seria muito generoso (cerca de 160 milhões de dólares) e o diretor seria o vencedor do Oscar de melhor roteiro, Bill Condon (que arrebatou a estatueta em 1999 por "Deuses e monstros" e tinha no currículo ainda o elogiado "Kinsey: vamos falar de sexo", de 2004). Não tinha como dar errado. E não deu.
Antes mesmo de sua estreia, a nova versão de "A Bela e a Fera" já prometia ser um enorme sucesso: em suas primeiras 24 horas on line, o teaser do filme foi visto quase 92 milhões de vezes, estabelecendo, à época, um recorde. Com suas filmagens terminadas em agosto de 2015, o estúdio deixou a plateia em compasso de espera por cerca de um ano e meio até seu lançamento, em fevereiro de 2017: se foi proposital ou não é uma incógnita, mas o fato é que a estratégia deu certo, e o filme rendeu mais de 174 milhões de dólares em seu primeiro fim-de-semana nos EUA. Ao redor do mundo, a renda total foi de mais de um bilhão de dólares - uma cifra que nem mesmo os mais otimistas executivos ousariam sonhar. A melhor notícia, no entanto, quem recebeu foi o público: apesar do marketing, do orçamento inchado e de precisar atingir um patamar altíssimo de expectativa, a versão em carne e osso de "A Bela e a Fera" é um filme que em nada fica a dever a seu original: é visualmente belíssimo, tem uma trilha sonora da mais alta qualidade, um elenco muitíssimo bem escalado (desde os protagonistas até os coadjuvantes dos quais apenas se ouvem as vozes até o belo final) e um perfeito equilíbrio entre drama, aventura, romance e comédia. Tal conexão, porém, poderia não ter acontecido, caso o elenco escolhido tivesse sido outro - o que poderia muito bem ter acontecido.
Antes que Emma Watson tivesse assinado o contrato para viver Belle - com um cachê de três milhõs de dólares mais percentagem sobre a milionária bilheteria -, vários nomes chegaram a ser considerados: Lily Collins (que viveu Branca de Neve em "Espelho, espelho meu", de 2011), Emmy Rossum (a mocinha de "O fantasma da ópera", lançado em 2004), Amanda Seyfried (que havia soltado a voz em "Mamma Mia!", de 2008), Kristen Stewart (que também interpretou Branca de Neve, em "Branca de Neve e o caçador", em 2011) e Emma Roberts. O papel principal masculino - que exigiria de seu intérprete uma alta dose de paciência para atuar sob uma pesada maquiagem e ter seu rosto escondido sob CGI - também teve alguns nomes considerados antes que Dan Stevens o assumisse: Robert Pattinson, o famigerado vampiro Edward da série "Crepúsculo" esteve na mira do diretor Bill Condon - que assinou os dois últimos filmes baseados nos livros de Stephanie Meyer - e o galã do momento, Ryan Gosling, chegou a ser convidado para o papel, preferindo literalmente cantar em outra freguesia - mais precisamente nos sets de "La La Land: Cantando Estações", que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de melhor ator. Coincidência ou não, Emma Watson fez o caminho inverso: declinou da proposta para ser a protagonista do premiado filme de Demian Chazelle e preferiu realizar nas telas um de seus sonhos de criança. E o veterano Ian McKellen - que havia recusado dublar o relógio Cogsworth na produção de 1991 - dessa vez aceitou o desafio de criar o mesmo personagem. A seu lado, no time de dubladores que só mostram o rosto no desfecho do filme, nomes como os de Ewan McGregor, Emma Thompson e Stanley Tucci.
A trama do filme dessa vez comandado por Condon continua a mesma, diferindo apenas no desenvolvimento maior de alguns personagens: um príncipe, vaidoso e arrogante (Dan Stevens) é amaldiçoado por uma feiticeira e se transforma em um monstro, além de ver seu castelo, sua história e seus empregados apagados da memória de todos os que os conheceram. Seus criados são transformados em objetos e, na nova forma animalesca, ele se isola do mundo, permanecendo em seu castelo longe da vista de todos. Alguns anos mais tarde, ao tentar levar uma rosa do jardim do palácio para sua filha, o solitário Maurice (Kevin Kline) é aprisionado pela fera. Guiada por seu cavalo, que a leva diretamente ao castelo, Belle (Emma Watson), uma bela e voluntariosa jovem, consegue libertar seu pai ao oferecer-se ao posto de prisioneira. Empolgados com a situação, os objetos/criados tentam aproximar Belle da Fera - eles sabem que a única maneira de voltarem à forma original é fazer com que a garota se apaixone por ele apesar de sua aparência. Como todo conto de fadas, "A Bela e a Fera" precisa que o público compre sua história sem maiores questionamentos, e o filme de Condon consegue tal façanha sem fazer muita força. Ao transformar Belle em uma heroína de atitudes decididas, independente e com personalidade de sobra, o roteiro aproxima a trama de um contexto mais apropriado ao século XXI - o que torna o antagonista, Gaston (Luke Evans), ainda mais desagradável mesmo em comparação com uma fera. Inspirada em Katharine Hepburn, a jovem Emma Watson alcança o tom exato da personagem e conduz o espetáculo com segurança e graça. Pode até não agradar a quem não é fã de musicais, mas é inegavelmente um espetacular trabalho de adaptação, visualmente excitante e artisticamente sofisticado - mas sem perder, por um segundo sequer, seu diálogo com qualquer tipo de plateia. Um triunfo!
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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