DO QUE AS MULHERES GOSTAM (What women want, 2000, Paramount Pictures/Icon Entertainment International, 127min) Direção: Nancy Meyers. Roteiro: Josh Goldsmith, Cathy Yuspa, estória de Josh Goldsmith, Cathy Yuspa, Diane Drake. Fotografia: Dean Cundey. Montagem: Thomas J. Nordberg, Stephen A. Rotter. Música: Alan Silvestri. Figurino: Ellen Mirojnick. Direção de arte/cenários: Jon Hutman/Rosemary Brandenburg. Produção executiva: Carmen Finestra, Stephen McEveety, David McFadzean. Produção: Susan Cartsonis, Bruce Davey, Gina Matthews, Nancy Meyers, Matt Williams. Elenco: Mel Gibson, Helen Hunt, Alan Alda, Marisa Tomei, Judy Greer, Sarah Paulson, Bette Midler, Mark Feuerstein, Lisa Edelstein, Loretta Devine. Estreia: 13/12/2000
No ano 2000, poucos astros de Hollywood eram tão confiáveis, em termos de bilheteria, quanto Mel Gibson. Além de popular, ele também agradava à crítica, com desempenhos elogiados como sua interpretação em "O preço de um resgate" (96) e os Oscar conquistados por seu "Coração valente", premiado pela Academia como o melhor filme de 1995. Seu apelo comercial era tão grande que até mesmo um filme previsível e apenas correto rendeu, só no mercado doméstico, mais de 180 milhões de dólares (colaborando para uma arrecadação total de pouco menos de 375 milhões. Tudo bem que sua parceira de cena era Helen Hunt, premiada com o Oscar de melhor atriz pouco tempo antes - por "Melhor é impossível", de 1997 -, mas foi seu carisma o principal responsável pelo êxito de "Do que as mulheres gostam", uma comédia romântica inofensiva e quase esquecível dirigida por Nancy Meyers - a mesma cineasta que se especializaria no gênero, mas com uma dose extra de inteligência e elegância.
Meyers, cuja única experiência havia sido o remake de "Operação Cupido", de 1998 - que ela havia co-dirigido pelo então marido Charles Shyer - foi contratada apenas para reescrever um roteiro concebido pela Touchstone para o estrelato de Tim Allen, um ator de grande sucesso nos EUA mas pouco celebrado internacionalmente. Com o roteiro pronto, ela chegou à conclusão de que ninguém seria melhor do que ela mesma para comandar - e pediu à Paramount, novo estúdio do projeto, para assinar também a direção e a co-produção. Pedido aceito e filme realizado, ficou claro para todos que, mesmo que outros pudessem ter sido o diretor, poucos falariam do assunto com tanta propriedade quanto Meyers. uma mulher bem-sucedida em um campo onde a grande maioria é formada por homens. Muitas das falas de sua protagonista feminina, Darcy Maguire, interpretada com correção por Helen Hunt, poderiam sair diretamente de suas memórias de sobrevivência no mercado de trabalho. Apesar disso, falta um pouco de consistência no resultado final de ""Do que as mulheres gostam": mesmo com algumas sequências bastante inspiradas e uma trilha sonora das melhores - que vão de Frank Sinatra a Alanis Morissette - o filme termina sem explorar todas as situações que apresenta no começo, e apela para um final feliz apressado e superficial, apesar de ter pouco mais de duas horas de duração.
A trama, improvável mas divertida, é mais um capítulo da série de guerras dos sexos que Hollywood sempre promoveu nas telas, com resultados os mais diversos - de Katharine Hepburn/Cary Grant a Meg Ryan/Tom Hanks, passando pelos icônicos Doris Day/Rock Hudson. Gibson vive Nick Marshall, um publicitário mulherengo e pouco sensível às necessidades das mulheres à sua volta - ex-esposa, filha adolescente, colegas de trabalho e eventuais amantes. Talentoso mas famoso por seu machismo, ele acaba perdendo a promoção que buscava para a igualmente competente Darcy McGuire, responsável por ser a responsável por conquistar o mercado feminino. Desgostoso com a situação, Nick se embebeda em seu apartamento e, enquanto tenta sentir o que as mulheres passam com seus rituais de beleza - o que inclui depilação por cera quente -, sofre um acidente doméstico e acorda com um dom inesperado: ouvir o pensamento de todas as mulheres à sua volta. A princípio totalmente desesperado com a novidade, ele descobre, em uma visita a uma terapeuta (interpretação não creditada da sempre ótima Bette Midler), que, em vez de uma maldição, sua nova condição pode ser uma bênção. Com esse novo olhar sobre o fato, Nick resolve utilizá-lo para roubar as ideias de Darcy e recuperar suas chances de promoção. Porém, como em toda boa comédia romântica, ele se apaixona pela nova colega, que, por sua vez, está encantada com a "sensibilidade feminina" de quem ela considerava desprezível pela forma com que tratava o "sexo frágil".
Meyers consegue fazer rir em boa parte do filme, principalmente quando mostra Nick tentando tirar vantagem de seus novos poderes - suas cenas com Marisa Tomei são engraçadíssimas, tanto no esperado encontro entre os dois quanto na revelação de seu "segredo". Os momentos de Nick antes do acidente são igualmente divertidos, apesar da canastrice de Gibson, e sua química com Marisa solta faíscas - o que não acontece com sua dupla com Helen Hunt, uma boa atriz mas dona de um papel que não se presta a maiores voos. Quando brinca e não se leva a sério, o filme de Meyers conquista sem esforço, mas o mesmo não acontece quando decide ser romântico: quando Nick e Darcy começam a se acertar, o bom humor da primeira parte fica de lado e quase assume, inclusive, uma subtrama dramática que aproxima o publicitário de uma jovem estagiária (interpretada por Judy Greer, uma atriz ainda subaproveitada em Hollywood). No final do jogo, pode-se dizer que "Do que as mulheres gostam" ganha mais do que perde, mas o resultado - que tinha tudo para ser uma goleada - é uma vitória apertada, sem o brilho que jogadores como Gibson e Hunt poderiam apresentar. É divertido, mas poderia ter sido muito melhor.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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