segunda-feira

GREMLINS

GREMLINS (Gremlins, 1984, Warner Bros, 106min) Direção: Joe Dante. Roteiro: Chris Columbus. Fotografia: John Hora. Montagem: Tina Hirsch. Música: Jerry Goldsmith. Direção de arte/cenários: James H. Spencer/Jackie Carr. Produção executiva: Steven Spielberg, Kathleen Kennedy, Frank Marshall. Produção: Michel Finnell. Elenco: Zach Galligan, Phoebe Cates, Corey Feldman, Hoyt Axon, Frances Lee McCain, Polly Holliday. Estreia: 08/6/84

No verão norte-americano de 1984, os cinemas dos EUA foram dominados por animaizinhos estranhos, de origem misteriosa e que, caso não cumpridas as regras para seu bem-estar, se transformavam - de dóceis e encantadores - em criaturas vorazes, cruéis e debochadas. Eram os gremlins, protagonistas de um dos maiores sucessos de bilheteria da década de 1980. Dirigido por Joe Dante, escrito por Chris Columbus e produzido por Steven Spielberg no auge de sua imaginação criativa, "Gremlins" acabou por se tornar um ícone de sua época, um misto de comédia e horror que pegou todo mundo de surpresa com seu senso de humor macabro. Quarta maior bilheteria de um ano que também apresentou ao público os sucessos "Os Caça-fantamas" e "Indiana Jones e o templo da perdição" (este último dirigido pelo mesmo Spielberg que foi seu produtor executivo), o filme de Dante também atingiu, com o passar do tempo, o status de cult por excelência, um filme amado por diversas gerações e que, a despeito de seu jeitão trash, ainda mantém, mesmo depois de mais de trinta anos de idade, o frescor e a originalidade de sua estreia.

A ideia inicial era de fazer "Gremlins" um filme de horror, mas quando o roteiro de Chris Columbus - ainda sem os dois filmes de "Esqueceram de mim" no currículo - chegou às mãos de Steven Spielberg, o já consagrado cineasta achou que era melhor transformar a trama em uma produção dirigida a um público mais jovem. Depois de algumas importantes alterações - inclusive com a exclusão de cenas mais violentas -, Spielberg encontrou em Joe Dante o diretor ideal para a empreitada: conhecido como um fiel discípulo de Roger Corman e alguém capaz de trabalhar com orçamentos apertados, Dante havia chamado a atenção de Spielberg com "Grito de horror" (1981) e parecia a escolha mais apropria - antes disso, até mesmo Tim Burton, ainda sem nenhum longa na carreira havia chamado a atenção do produtor, sendo deixado de lado justamente por sua inexperiência. Com Dante no barco, junto com o roteiro de Columbus e a supervisão atenta de Spielberg, "Gremlins" começou a tomar forma. Se na fase de testes de elenco nomes como os de Emilio Estevez e Judd Nelson foram recusados para o papel que ficou com Zach Galligan, o processo de filmagens obrigou a decisões criativas que modificaram razoavelmente o script de Columbus. Foi por decisão de Spielberg, por exemplo, a divisão entre o bem e o mal, representada pelo terno Gizmo e seus agressivos filhotes (em especial o líder, Stripe) - o criador de "ET: O extraterrestre" (1982) sabia que o público precisaria se identificar com algum dos bichinhos. E a regra de não expor os personagens-título à luz surgiu de uma prosaica falta de confiança de Dante (e da Amblin Entertainment) nos efeitos especiais da época - algo que o próprio Spielberg havia experimentado na pele, durante as filmagens de "Tubarão" (1975).


Quarta maior bilheteria de 1984, "Gremlins" se passa às vésperas do Natal, quando o jovem Billy (Zach Galligan) ganha, de presente do pai, um encantador e desconhecido animalzinho encontrado em posse de um chinês idoso e hesitante. O bichinho - um mogwai, segundo o experiente oriental - é capaz de conquistar o coração até do mais empedernido ser humano, mas, para manter-se dessa forma, seu dono precisa cuidar de três regras importantíssimas: eles não podem ser expostos à luz, não podem ser molhados e muito menos comer depois da meia-noite. Não é preciso ser especialista em cinema para imaginar que as normas não serão cumpridas e que o doce Gizmo será testemunha da proliferação de seus irmãos anarquistas e cruéis. Em bando e vorazes, os gremlins tomam conta da cidade e caberá a Billy e sua paixonite, Kate (Phoebe Cates), resolver a bagunça generalizada. Mesclando um humor sinistro e momentos de suspense, Joe Dante conduz a plateia a uma montanha-russa constante - e que poderia ter sido ainda maior caso a versão original, de 160 minutos, tivesse sido aprovada pela Warner. O estúdio, aliás, teve certos problemas com os órgãos de censura dos EUA, que consideravam o filme pouco palatável para plateias menores de 13 anos: junto com "Indiana Jones e o templo da perdição", o filme de Joe Dante praticamente obrigou a MPAA (Motion Pictures Association of America) a criar uma nova classificação (PG-13), que permitia a entrada de menores de 13 anos desde que acompanhados dos pais.

Divertido e feito com o simples objetivo de entreter, "Gremlins" deu frutos: não apenas teve uma segunda parte, lançada em 1990 e novamente dirigida por Joe Dante, como aproximou dois cérebros criativos. Encantado com o trabalho de Chris Columbus no roteiro do filme, Steven Spielberg esteve envolvido em dois de seus futuros projetos, "O enigma da pirâmide" (dirigido por Barry Levinson) e "Os Goonies" (comandado por Richard Donner), ambos lançados em 1985. Além disso, "Gremlins" - neologismo criado pelo escritor Roald Dahl em seu "Gremlin Lore" - ficou na mente daqueles que o assistiram em seu lançamento como uma diversão um tanto insana, capaz de tirar sarro de coros de Natal, "Branca de Neve e os sete anões" e o american way of life. No fundo, é uma sessão da tarde para quem não tem paciência para filmes água com açúcar.

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