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O CLUBE

O CLUBE (El club, 2015, Fabula, 98min) Direção: Pablo Larraín. Roteiro: Pablo Larraín, Guillermo Calderón, Daniel Villalobos. Fotografia: Sergio Armstrong. Montagem: Sebastián Sepulveda. Figurino: Estefania Larraín. Direção de arte/cenários: Estefania Larraín. Produção executiva: Juan Ignacio Correa, Mariane Hartard, Rocio Jadue. Produção: Juan de Dios Larraín, Pablo Larraín. Elenco: Alfredo Castro, Roberto Farías, Antonia Zegers, Marcelo Alonso, Jaime Vadell, Alejandro Goic. Estreia: 09/01/15 (Festival de Berlim)

O Oscar de melhor filme de 2015 ficou com "Spotlight: segredos revelados", de Tom McCarthy, que jogava luz em rede de proteção da Igreja Católica a seus sacerdotes acusados de abuso sexual e pedofilia. Meses antes de sua estreia, porém, o Festival de Berlim já apresentava uma outra produção de temática semelhante. Dirigido com crueza pelo chileno Pablo Larraín - um dos maiores expoentes do cinema do país -, "O clube" substitui a claridade das redações jornalísticas pela escuridão da consciência e das consequências de tais atos criminosos. Representante do Chile por uma vaga entre os indicados ao prêmio da Academia, o filme colecionou elogios e prêmios durante toda a temporada - inclusive um valioso Grande Prêmio do Júri no Festival de Berlim e uma indicação ao Golden Globe de melhor produção estrangeira. A boa notícia é que, apesar do tema espinhoso e da recusa de Larraín em fazer qualquer concessão comercial, "O clube" é um filme cuja força permanece na mente do espectador por muito tempo depois da sessão.

Dividido entre filmes incômodos - como "Tony Manero" (2008) - e produções menos provocativas - caso de "No" (2012) e "Jackie" (2016), ambos agraciados com indicações ao Oscar -, Pablo Larraín é um cineasta dos mais contundentes de sua geração. Frequentemente fugindo de linhas narrativas óbvias e protagonistas unidimensionais, seu cinema bate de frente com qualquer tentativa de limitações temáticas ou estéticas. É normal que, em seus filmes, os personagens centrais sejam falíveis e até quase desprezíveis, opção que os afasta de qualquer glamour e, consequentemente, os aproxima do espectador. Há quem veja nessa característica uma grande qualidade; outros, no entanto, rejeitam essa visão realista. O ponto é que, seja uma qualidade ou um defeito, o tom cru da maioria dos filmes de Larraín normalmente serve perfeitamente para ilustrar histórias incômodas, que jamais deixam o público indiferente. E "O clube" é um exemplo inconteste dessa afirmação.


O tal clube do título é, na verdade, uma casa localizada em uma pequena cidade litorânea do Chile, onde vivem quatro padres católicos acusados de má conduta - sejam elas pedofilia, tráfico de bebês ou qualquer outro delito pesado. Nesta casa, os padres são supervisionados - com absoluta liberdade - por uma freira, que também não é exatamente exemplar. Vivendo como se nada tivesse acontecido, os religiosos comem, bebem e jogam em corridas de cachorros e não são perturbados pela vizinhança. Pelo menos não até a chegada de um novo membro, cujo passado é trazido à tona quando uma antiga vítima resolve expô-lo - à base de gritos desesperados em frente à propriedade. Tal incidente resulta em uma tragédia que faz com que o clube - que até então vivia quase esquecido pela Igreja - receba a visita de mais um sacerdote, que chega para investigar o que aconteceu e obriga a todos a encararem, mais uma vez, seus pecados. Sob a ameaça de perderem a impunidade e ver sua casa fechar, os padres se unem - enquanto outras subtramas são lançadas ao roteiro, com maior ou menor importância à narrativa.

O clima de constante tensão é um dos pontos mais fortes de "O clube", especialmente porque a fotografia de Sergio Armstrong faz questão de parecer sempre sombria e claustrofóbica, sem dar chance ao espectador para que respire ou relaxe. Sem buscar o caminho mais fácil para tratar de um assunto tão controverso, o cineasta foge das imagens explícitas e aposta em seus atores, todos excelentes. O tom pessimista é sublinhado pelo cenário - um mar pouco convidativo e uma casa sempre na penumbra - e pela trilha sonora minimalista. Seus personagens não fazem questão de demonstrar qualquer simpatia, e o desfecho (quase) em aberto parece enfatizar o desconforto da plateia em servir de testemunha de uma história que parece expor as piores características do ser humano. Sem a pretensão de soar como um entretenimento ligeiro, "O clube" é quase doloroso de assistir, mas é, também, uma produção imprescindível, que prova mais uma vez o quanto o cinema chileno tem condições de alcançar mercados internacionais.  Assista e tente não sentir-se pesado ao fim da sessão!

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