quarta-feira

CORAÇÃO VALENTE


CORAÇÃO VALENTE (Braveheart, 1995, Icon Entertainment International, 177min) Direção: Mel Gibson. Roteiro: Randall Wallace. Fotografia: John Toll. Montagem: Steven Rosenblum. Música: James Horner. Figurino: Charles Knode. Direção de arte/cenários: Tom Sanders/Peter Howitt. Produção executiva: Stephen McEveety, Elisabeth Robinson. Produção: Bruce Davey, Mel Gibson, Alan Ladd Jr. Elenco: Mel Gibson, Sophie Marceau, Patrick McGoohan, Angus McFayden, James Cosmo, Stephen Billington. Estreia: 24/5/95

10 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (Mel Gibson), Roteiro Original, Fotografia, Montagem, Trilha Sonora Original/Drama, Figurino, Som, Efeitos Sonoros, Maquiagem
Vencedor de 5 Oscar: Melhor Filme, Diretor (Mel Gibson), Fotografia, Efeitos Sonoros, Maquiagem
Vencedor do Golden Globe de Melhor Diretor (Mel Gibson)

Atores transformados em diretores tem uma grande simpatia dos eleitores da Academia, fazendo parte de uma quase tradição não oficial que frequentemente os premia com uma baciada de Oscar. Foi assim, por exemplo, com Robert Redford, Kevin Costner e Clint Eastwood, só pra citar alguns nomes nas últimas décadas. Quem também se beneficiou dessa boa vontade foi Mel Gibson: astro de filmes de ação como a série "Máquina mortífera" , o ator americano criado na Austrália começou a se reinventar nos anos 90, mostrando um lado sensível que seus trabalhos anterior jamais deixavam antever. Depois de dividir a crítica como a personagem-título de "Hamlet", de Franco Zefirelli e estrear atrás das câmeras com o belo "O homem sem face", Gibson pegou o mundo de surpresa com o ambicioso "Coração valente", um épico de quase três horas de duração em que conta a história de William Wallace, o maior herói da independência da Escócia. Indicado a dez Oscar e premiado em cinco categorias - inclusive as cobiçadas de melhor filme e diretor - o filme ainda arrecadou mais de 75 milhões de dólares no mercado doméstico, provando que, por trás do polêmico e rude ator de "Mad Max" escondia-se um talentoso e delicado cineasta.

Assumindo o papel central mesmo considerando-se velho demais para isso - ele queria o ator Jason Patric como protagonista - Gibson provou-se, também, bastante esperto. Para garantir a distribuição do filme nos EUA pela Paramount, ele aceitou enfeitar com seu nome os cartazes, sabendo que isso atrairia a audiência, que, do contrário, poderia passar ao largo de uma obra de longa duração cujo protagonista não era exatamente um mito mundial. Idolatrado na Escócia, o herói do filme é retratado pelo roteiro de Randall Wallace de forma mitológica, o que colabora para o envolvimento emocional da plateia. Ao equilibrar com inteligência sequências abismais de batalhas violentíssimas com uma fictícia história de amor e intrigas palacianas, Gibson e Wallace acertam em cheio: apesar de chegar perto de três horas de duração, "Coração valente" flui com uma velocidade ímpar, graças ao ritmo imposto pelo roteiro, ora contemplativo, ora alucinante.



As primeiras cenas já demonstram o cuidado do Gibson diretor, ao estabelecer, em poucos minutos, a personalidade de seu protagonista e sua relação com as demais personagens: ainda criança, o jovem William (interpretado pelo carismático James Robinson) perde o pai e vai morar com o tio, Malcolm (Sean Lawlor), que o ensina a ler, falar outras línguas e utilizar o cérebro com mais frequência do que a força física. Ao retornar ao vilarejo de sua infância (já na pele do Gibson ator), ele a encontra em crise, com a população revoltada com a lei da Primeira Noite, que dá aos nobres o direito de passar a noite de núpcias com as jovens noivas. A morte cruel de sua amada Murron (Catherine McCormack) o empurra indelevelmente à luta contra o governo inglês, na forma do déspota Edward Longshanks (Patrick McGoohan). Juntando um exército inferior em número mas superior em coragem e estratégia, Wallace torna-se uma lenda e desperta a paixão da princesa Isabelle (Sophie Marceau), nora do rei.

Para o público médio, que pouco se importa com licenças históricas, "Coração valente" é uma obra-prima. Ágil, belissimamente fotografado e dirigido com um cuidado evidente, é um filme realizado com alma e que remete aos épicos clássicos dos tempos áureos do cinema - não à toa, seu grande sucesso incentivou outras produções do estilo, quase todas sem a mesma qualidade. A maior diferença entre o filme de Gibson e seus congêneres é que o cineasta realmente sabia o que queria. Editada sem pressa mas nunca com uma lentidão exagerada, a história de William Wallace conquista a audiência justamente por jamais se permitir fugir de seu maior objetivo: contar uma bela história para um público o mais amplo possível. Sintomaticamente, algumas cenas até soam didáticas, mas sem ofender a inteligência dos espectadores.

E seria de uma injustiça imperdoável não louvar o realismo das cenas de batalha orquestradas por Mel Gibson. Realizadas em grande escala, as sequências que contrapoem ingleses e escoceses - violentas, bárbaras e sangrentas - enchem os olhos e os ouvidos, hipnotizando o público na mesma medida em que o diverte. Sim, o roteiro encontra espaço - ainda que pequeno - para um pouco de humor, mais um acerto da produção, que, assim, dá um alívio depois de alguns momentos bastante fortes.

"Coração valente" mereceu ser o vencedor do Oscar de 1995, ainda que tenha disputado a estatueta com os belos "Razão e sensibilidade" e "O carteiro e o poeta". Agradou a crítica, o público e os eleitores da Academia por seu perfeito equilíbrio entre ação, romance e história. Um épico digno de ser assim chamado!

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