DESPEDIDA EM LAS VEGAS (Leaving Las Vegas, 1995, Initial Productions/Lumière Productions, 111min) Direção: Mike Figgis. Roteiro: Mike Figgis, romance de John O'Brien. Fotografia: Declan Quinn. Montagem: John Smith. Música: Mike Figgis. Figurino: Laura Goldsmith. Direção de arte/cenários: Waldemar Kalinowski/Florence Fellman. Produção executiva: Stuart Regen, Paige Simpson. Produção: Lila Cazès, Annie Stewart. Elenco: Nicolas Cage, Elisabeth Shue, Julian Sands, Steven Weber, Valeria Golino, Xander Berkeley. Estreia: 27/10/95
4 indicações ao Oscar: Diretor (Mike Figgis), Ator (Nicolas Cage), Atriz (Elisabeth Shue), Roteiro Adaptado
Vencedor do Oscar de Melhor Ator (Nicolas Cage)
Vencedor do Golden Globe de Melhor Ator/Drama (Nicolas Cage)
Em um de seus grandes contos, o escritor gaúcho Caio Fernando Abreu afirmou: "Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra." Não se pode dizer com certeza se "especial" é o adjetivo mais adequado para definir as almas de Ben Sanderson e Sera, os protagonistas do filme "Despedida em Las Vegas", mas uma coisa é certa: no meio de todo o exagero de luzes neon e a energia pesada da cidade do jogo, eles se encontraram, se reconheceram e se apaixonaram. Talvez a paixão avassaladora que os uniu tenha sido uma válvula de escape de suas vidas desesperançadas, mas ela existiu. E, sob um depressivo som de blues, nasceu e morreu com a velocidade de uma rodada de blackjack.
Baseado em um romance do escritor americano John O'Brien - que cometeu suicídio logo que o filme começou a ser produzido, o que dá uma ideia do teor baixo-astral da trama - "Despedida em Las Vegas" é o filme mais importante da carreira do cineasta Mike Figgis, também autor do roteiro e da música original. Indicado em 4 importantes categorias do Oscar de 1995, deu a Nicolas Cage quase todos os prêmios possíveis do ano, graças a sua inspirada atuação, além de ter ressuscitado (ainda que por pouco tempo) a carreira da atriz Elisabeth Shue. Organicamente triste, deprê e barra-pesada, é também mais uma prova de que pouco dinheiro não é desculpa para mediocridade: feito a um custo inferior a 4 milhões de dólares, rendeu mais de 30 milhões nos EUA e foi uma das mais premiadas obras do ano. Paradoxalmente, porém, sua maior qualidade é também seu maior problema: o tom de decadência física e moral que perpassa o filme, ainda que fascine a crítica, afasta o público médio. Azar do público médio, que prefere Nicolas Cage bancando o super-herói em tramas risíveis.
Em "Despedida em Las Vegas", o sobrinho de Francis Ford Coppola se entrega de corpo e alma a uma personagem doente, decadente e cuja existência carece de maior razão de ser do que litros e litros de álcool. Abandonado pela mulher - segundo suas palavras, não sabe se a perdeu por beber ou bebe por tê-la perdido - demitido do emprego de roteirista de Hollywood e sem vontade de seguir uma vida que não lhe parece nem um pouco atraente, Ben Sanderson resolve sair de Los Angeles e ir para Las Vegas com o único objetivo de beber até morrer. Lá, ele conhece a bela Sera (Elisabeth Shue), uma prostituta linda e explorada por um cafetão lituano (Julian Sands), que desabafa com um analista nunca mostrado. Maltratada pela vida e extremamente solitária, ela acaba se envolvendo com Ben mesmo sabendo de sua propensão à auto-destruição.
É impressionante a entrega de Nicolas Cage ao papel de Ben. Ator de tipos excêntricos, ele encontra no anti-herói criado por O'Brien o papel de sua vida e o interpreta com uma dedicação comovente, fazendo dele um ser humano real, com qualidades e defeitos. Em nenhum momento ele busca a aprovação ou a compaixão da audiência, nem procura ser artificialmente carismático. Fotografado cruamente por Declan Quinn - que dá uma certa beleza malcólica à decadência de quartos de hotéis baratos e sarjetas - seu caminho em direção à morte anunciada é pontuado por canções de Sting e as luzes que fazem da capital americana do jogo um paraíso artificial - aliás, o cenário escolhido para o capítulo final de sua jornada não poderia ser mais adequado.
E se Cage fez por merecer todos os elogios e prêmios que levou por sua atuação - que lhe dão crédito o bastante para que se tente ignorar 90% dos filmes que ele fez a partir de então - ele encontra em Elisabeth Shue a parceira ideal. Mais lembrada como a namoradinha de Michael J. Fox nas duas últimas aventuras de "De volta para o futuro" e de Tom Cruise em "Cocktail", Shue surpreende com a segurança que imprime em uma personagem difícil e complexa. Linda e sedutora, ela também consegue ser frágil, como mostra a angustiante sequência em que é violentada por clientes adolescentes. Seu olhar desiludido frente à falta de expectativas de sua vida solitária já justifica a indicação ao Oscar - que perdeu para a veterana Susan Sarandon. Sua arrasadora cena de sexo com Ben, nos últimos minutos de projeção é tudo que cineastas metidos a cult gostariam de fazer e não conseguem.
Não dá para recomendar "Despedida em Las Vegas" para qualquer público. É sentido demais, triste demais, tudo demais. Retrata o desespero humano em seu expoente máximo, ainda que silencioso e/ou agressivo. E isso definitivamente não é palatável a todo mundo.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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2 comentários:
fo-da.
adoro "Despedidas em Las Vegas". Todos os homens queriam uma Sera em suas vidas =)
Não sou fã de Nicolas Cage, entretanto, nessa produção sua atuação é espetacular.
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