Vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro
Festival de Cannes: Melhor Atriz (Marie-Josée Croze), Melhor Roteiro
Normalmente, quando vai escolher o vencedor do Oscar na categoria de Melhor Produção Estrangeira a Academia de Hollywood gosta de praticar a política de boa vizinhança ou optar por filmes de países cuja relevância política e/ou social esteja em voga no momento. Felizmente quando este “As invasões bárbaras” estava no páreo não houve nenhum tipo de polêmica. Um dos mais belos produtos cinematográficos do ano, o filme do canadense Denys Arcand emociona e faz pensar sem apelar para sentimentalismos baratos, graças a um roteiro equilibrado e atuações acima de quaisquer críticas.
Espécie de continuação de “O declínio do império americano”, realizado por Arcand em 1986 – cujos personagens retornam aqui, mais velhos e um tanto mais cínicos – o filme que ganhou dois prêmios em Cannes – roteiro e atriz (Marie-Josée Croze) – conta uma história triste e melancólica, mas com um senso de esperança raramente visto em produções comerciais, sejam elas de que país forem. E talvez justamente por tratar de temas tão universais como amor entre amigos, família e aos ideais, “As invasões bárbaras” tenha conquistado tanta atenção e provocado tantas lágrimas.
A trama começa quando o bem-sucedido empresário Sebastien (Stephane Rousseau), que trabalha no mercado financeiro de Londres, é chamado de volta ao Canadá por sua mãe, que o avisa que seu pai está seriamente doente, precisando de um tratamento para seus últimos momentos. O pai de Sebastien é Remy (o extraordinário Remy Girard), um professor universitário socialista que já teve seus dias de conquistador e que agora vive um casamento quase de aparência com sua nem tão compreensiva mulher. Mesmo sentindo que seus dias estão no fim, ele reluta em aceitar a ajuda do filho – que em sua concepção não passa de um materialista colonizador - em pagar seu tratamento. No entanto, as coisas começam a mudar quando recebe a visita de seu grupo de antigos amigos, todos intelectuais tentando lidar com a passagem do tempo e com a destruição de seus sonhos políticos e sociais. Entre lembranças divertidas com seus amigos e discussões ferrenhas com o filho, Remy ainda faz duas amizades no hospital: uma enfermeira paciente e dedicada e a filha de uma amiga, uma jovem viciada em heroína que encontra nele a inspiração para deixar as drogas.
O roteiro de “As invasões bárbaras” é um primor de delicadeza, inteligência e de um eruditismo que nem de longe soa como pedante. Ao confrontar suas personagens – mais maduras e consequentementes com suas próprias cargas de perdas pessoais e espirituais – com a passagem do tempo e a inevitabilidade da morte, Denys Arcand de uma certa forma faz o inventário de uma geração, sem precisar apelar para lágrimas fáceis. Nem mesmo as cenas entre pai e filho, de uma beleza pungente, consegue tirar a sensação de uma pequena obra-prima sobre as coisas boas da vida. Um filme para ver e rever sempre!
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