FRANCES HA (Frances Ha, 2012, RT Features/Pine Discrict Pictures, 86min) Direção: Noah Baumbach. Roteiro: Noah Baumbach, Greta Gerwig. Fotografia: Sam Levy. Montagem: Jennifer Lame. Direção de arte: Sam Lisenco. Produção executiva: Fernando Loureiro, Lourenço Sant'anna. Produção: Noah Baumbach, Scott Rudin, Rodrigo Teixeira, Lila Yacoub. Elenco: Greta Gerwig, Mickey Sumner, Michael Esper, Adam Driver, Grace Gummer. Estreia: 01/9/12 (Festival de Telluride)
Woody Allen encontra a Nouvelle Vague. O que parece no mínimo improvável
é o que acontece em "Frances Ha", do cineasta independente
Noah Baumbach, conhecido pelos dramas familiares "A lula e a baleia" e
"A família Savage". Dessa vez com uma abordagem menos densa - mas nem
por isso menos melancólica sob sua superfície descolada - Baumbach usa
vários elementos do movimento do cinema francês dos anos 60 para contar a
história de uma jovem comum buscando seu lugar no mundo - uma das
principais diretrizes das obras de cineastas como Truffaut e Godard, que
viravam suas câmeras para anti-heróis que tinham como principal
qualidade a normalidade. Frances, a protagonista interpretada pela
corroteirista Greta Gerwig, é simples em suas atitudes, mas conquista a
simpatia do espectador justamente por isso.
Trabalhando em uma companhia de dança - na qual pretende se estabelecer
como professora, apesar de não ter talentos especiais para isso - e
dividindo um apartamento com a melhor amiga, Sophie (Mickey Sumner), com
quem mantém uma relação de adoração e plena confiança, Frances não é
espetacularmente dotada, não é linda, luta com suas finanças e é quase
frustrada profissionalmente. Depois de terminar um namoro não
particularmente caloroso por não querer abandonar Sophie, ela vê sua
rotina alterada quando é a amiga que lhe deixa sozinha, preferindo morar
em outro bairro. Enquanto pula de casa em casa tentando encontrar um
lugar para encaixar-se, ela busca também encontrar-se como pessoa, nunca
perdendo, porém, seu jeito próprio e leve de encarar os problemas.
Fotografado em um preto-e-branco que tanto cria a nostalgia buscada pelo
diretor como remete mais uma vez à nouvelle vague, "Frances Ha" tem na
simplicidade uma de suas maiores qualidades. O roteiro é direto, fácil e
objetivo, com um senso de humor inteligente e sutil, mesmo quando entra
no terreno complexo dos relacionamentos interpessoais - daí a
comparação ao cinema de Woody Allen. Frances é engraçada, desajeitada e
romântica em sua busca quixotesca por uma felicidade que nem ela mesma
sabe onde está, o que facilita muito a empatia do público. Interpretada
por uma promissora Greta Gerwig - que usa em sua personagem muito de sua
própria personalidade, como a cidade natal - é uma personagem
encantadora como há muito o cinema americano não apresentava e a
indicação de Gerwig ao Golden Globe de melhor atriz em comédia/musical foi
apenas o primeiro passo em direção a uma carreira que tem tudo para ser bem-sucedida em um futuro próximo.
No final das contas é impossível não se deixar seduzir pela beleza
singela e delicada de "Frances Ha", uma pequena - menos de 90 minutos -
mas intensa pérola que é o melhor filme de Baumbach justamente por não
ter grandes pretensões. Forjando como sempre uma história sobre gente como a gente, o cineasta faz um gol de placa com um filme simples como a vida deveria ser. E tem como não simpatizar com um filme que se utiliza de "Modern love", o hino de David Bowie, como parte fundamental da narrativa?
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
segunda-feira
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