DIÁRIO DE UM ADOLESCENTE (The Basketball Diaries, 1995, New Line Cinema, 102min) Direção: Scott Kalvert. Roteiro: Bryan Goluboff, livro de Jim Carroll. Fotografia: David Phillips. Montagem: Dana Congdon. Música: Graeme Revell. Figurino: David C. Robinson. Direção de arte/cenários: Christopher Nowack/Harriet Zucker. Produção executiva: Chris Blackwell, Dan Genetti. Produção: Liz Heller, John Bard Manulis. Elenco: Leonardo DiCaprio, Mark Wahlberg, Lorraine Bracco, Bruno Kirby, James Madio, Patrick McGaw, Juliette Lewis. Estreia: 27/01/95 (Festival de Sundance)
Quando "Diário de um adolescente" estreou, no Festival de Sundance de 1995, Leonardo DiCaprio já tinha no currículo uma indicação ao Oscar de coadjuvante - pelo filme "Gilbert Grape: aprendiz de sonhador" (1993) - mas ainda não era o ídolo juvenil no qual se tornou após o sucesso de "Romeu + Julieta" (1996) e "Titanic" (1997). Isso explica porque o filme de Scott Kalvert não arrebentou nas bilheterias e chamou muito mais a atenção da crítica do que do público. Baseada em um cultuado livro de Jim Carroll - adorado pelo ator River Phoenix, por exemplo, que, segundo boatos, era um nome considerado para o papel central -, a produção serviu principalmente para confirmar que DiCaprio já era, ainda bastante jovem, um ator muito acima da média. Mesmo que nem sempre ele consiga escapar do exagero em alguns momentos de sua atuação, na pele do rebelde e desajustado Jim ele se sobressai a ponto de mal dar espaço aos companheiros de cena - dentre os quais estão Juliette Lewis (em uma participação especial como uma prostituta juvenil) e Mark Wahlberg (começando na carreira de ator depois da consagração como o rapper Marky Mark e das campanhas de cuecas Calvin Klein).
Publicado em 1978 e imediatamente alçado a cult, o livro de memórias de Jim Carroll - que faz uma participação especial no filme, em uma cena com DiCaprio - virou também um símbolo da contracultura, com sua descrição corajosa e sem romantismo de uma adolescência regada a drogas, bebida, prostituição e contravenções pesadas. Sua adaptação tem o mérito de tentar manter-se fiel ao estilo iconoclasta de Carroll, mas a inexperiência do cineasta em longas-metragens faz com que sua estrutura quase episódica afaste o público de um envolvimento maior com seu protagonista, um jovem francamente pouco simpático que apenas o carisma de Leonardo DiCaprio consegue deixar menos desagradável. Jim é um rapaz que vive sozinho com a mãe (Lorraine Bracco), em um bairro barra pesada de Nova York. Apesar das dificuldades financeiras, estuda em um bom colégio, faz parte do time de basquete e leva uma vida cujos maiores sobressaltos dizem respeito a suas aventuras com um grupo de amigos que, assim como ele, passam o dia provocando autoridades (pais, professores, treinador) em busca de adrenalina. Essa busca acaba levando Jim aos braços da heroína e à decadência física e moral - tudo devidamente registrado em seus escritos pessoais, que descrevem todas as sensações de sua viagem ao inferno.
Vindo do universo dos videoclipes (vários de Marky Mark, inclusive, além de trabalhos com Cyndi Lauper, New Kids on the Block e Rod Stewart), o diretor Scott Kalvert é, como se poderia esperar, mais afeito às imagens do que às palavras, o que lhe permite criar algumas sequências bastante criativas visualmente - especialmente nos delírios do protagonista, que vão desde chacinas no ambiente escolar até alucinações causadas pela abstinência. DiCaprio se esforça em transmitir todas as nuances de seu complexo personagem, mas nem sempre a direção de Kalvert consegue atingir todas as possibilidades dramáticas do texto de Carroll. Explorando ao máximo a fotografia crua e sem glamour de David Phillips, o cineasta despe Nova York de qualquer beleza ou charme, desviando sua câmera para becos sujos, ruas mal iluminadas e paisagens pouco convidativas. Fugindo ao máximo de qualquer traço de sentimentalismo, ele só se curva à emoção nas cenas de Jim com seu melhor amigo, Bobby (Michael Imperioli), que está morrendo de leucemia no hospital: antes de seu casamento com as drogas pesadas, são os únicos momentos em que o protagonista dá mostras de ser menos do que um adolescente irascível e desagradável - uma característica que dificulta a empatia da plateia e quase prejudica o filme como um todo.
Realizado com coragem e verdade, "Diário de um adolescente" peca, apesar disso, pelo fato de não apresentar nada de novo em relação a seu tema principal. A trajetória de Jim rumo ao fundo do poço pode ter sido lançada antes dos junkies niilistas de "Trainspotting: sem limites" (1996), mas está longe de ser novidade para o público que testemunhou o pesadelo de Christiane F. no filme alemão de 1981 - este sim um petardo chocante e angustiante em sua realidade nua. Com uma direção mais firme - que explorasse o talento de DiCaprio e controlasse seus excessos de iniciante - e uma produção que soasse menos amadora, o filme seria inesquecível. Como está, é um bom cartão de visitas para o jovem ator e uma adaptação fiel de um clássico de seu tempo. Nada mal, mas aquém do que poderia ser.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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