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AS VINHAS DA IRA


AS VINHAS DA IRA (The grapes of wrath, 1940, 20th Century Fox, 129min) Direção: John Ford. Roteiro: Nunnally Johnson, romance de John Steinbeck. Fotografia: Gregg Toland. Montagem: Robert Simpson. Música: Alfred Newman. Figurino: Gwen Wakeling. Direção de arte/cenários: Richard Day, Mark-Lee Kirk/Thomas Little. Produção: Darryl F. Zanuck. Elenco: Henry Fonda, Jane Darwell, John Carradine, Charley Grapewin, Dorris Bowdon, Russell Simpson, John Qualen. Estreia: 24/01/40

07 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (John Ford), Ator (Henry Fonda), Atriz Coadjuvante (Jane Darwell), Roteiro, Montagem, Som
Vencedor de 2 Oscar: Diretor (John Ford), Atriz Coadjuvante (Jane Darwell)

Publicado em 1939, depois de exaustiva pesquisa que incluiu viagens do próprio autor junto àqueles que pretendia retratar, "As vinhas da ira", de John Steinbeck, não demorou para se tornar um dos maiores clássicos da literatura norte-americana, especialmente por mostrar, em suas páginas, o doloroso destino do país durante a Grande Depressão, consequência da quebra da bolsa de valores de Nova York, ocorrida dez anos antes. Imaginar as palavras do livro em imagens cinematográficas talvez fosse um tanto árduo e deprimente, mas, vez ou outra, Hollywood consegue ousar e surpreender. Pelo pagamento vultoso de cem mil dólares, Steinbeck vendeu os direitos de filmagem de seu romance para a 20th Century Fox - exigindo, em troca, o máximo de fidelidade e respeito possível à obra original. Apaixonado pelo material, o chefão do estúdio, Darryl F. Zanuck, acatou os pedidos e, supervisionando o projeto de perto, como algo pessoal, realizou um de seus melhores trabalhos à frente do estúdio - um filme perfeitamente equilibrado entre entretenimento e arte, que não apenas emocionou o público como encantou a crítica e a Academia, que lhe indicou a sete Oscar e lhe premiou em duas importantes categorias, entre elas a de melhor diretor.

A estatueta de melhor diretor, entregue a John Ford, não deixou de ser uma surpresa: conhecido em Hollywood por sua visão política conservadora, o cineasta tampouco era famoso por sutilezas emocionais - seu maior sucesso até então havia sido "No tempo das diligências" (1939), que praticamente moldou as regras do western, gênero no qual ele se consagraria no futuro, muitas vezes acompanhado de John Wayne. Porém, de posse do material de Steinbeck e do roteiro preciso de Nunnally Johnson (editado por Zanuck em pessoa), Ford realizou um filme poderoso e emocionante, que não deixa de cutucar a política social da época mas busca principalmente contar uma história, forte e contundente o bastante para falar por si mesma. Fotografado com o cuidado de sempre por Gregg Toland (oscarizado por "O morro dos ventos uivantes", de 1939, e em vias de consagrar-se definitivamente com "Cidadão Kane", de 1941), "As vinhas da ira" é, também, assustadoramente atual em seus questionamentos e reivindicações. Se durante as filmagens o tema chamou a atenção dos paranoicos membros do governo norte-americano a ponto de Ford e Steinbeck serem investigados pelo Senado durante a época do infame macarthismo - que "caçava" comunistas atuantes na indústria de cinema -, hoje em dia seu grito a favor dos desfavorecidos e da luta por condições dignas de trabalho e qualidade de vida não soam nem um pouco obsoletos ou ultrapassados. Muito pelo contrário, é uma obra necessária e de suma importância histórica.


Em uma atuação antológica, Henry Fonda recebeu sua primeira indicação ao Oscar na pele de Tom Joad, o filho pródigo que retorna à fazenda da família, em Oklahoma, depois de quatro anos na prisão. Logo em sua chegada ele descobre, desolado, que a crise econômica do país está obrigando todos os proprietários do local a abandonarem suas casas - tomadas pelos bancos. Até mesmo a fazenda de seu tio já está perdida, e Joad se une a seus familiares em uma jornada atrás de uma vida mais digna na Califórnia, onde, segundo um anúncio distribuído pelas ruas, existem grandes possibilidades de trabalho. Em uma caminhonete caindo aos pedaços, Joad embarca com os pais, os avós, o tio, os sobrinhos e um amigo (ex-pastor) e vai testemunhando condições precárias de vida em acampamentos itinerantes, onde crianças, adultos e idosos passam por todo tipo de dificuldade com a esperança de melhores dias. Sofrendo perdas no percurso, Joad passa a tomar consciência social e se envolver em movimentos de resistência - para desespero de sua mãe (Jane Darwell), que tem medo de vê-lo novamente atrás das grades.

Fonda, que aceitou assinar um contrato longo com a 20th Century Fox apenas por ser apaixonado pelo personagem, é a intérprete ideal para Tom Joad. Seu rosto quase impassível transmite, através dos olhos, um turbilhão de sentimentos que faz com que sua atuação, silenciosa, reflita, através das imagens realistas de Gregg Toland, um período dos mais críticos dos EUA. John Steinbeck em pessoa louvou o desempenho de Fonda, e se tornou seu amigo pessoal, apaixonado pela forma com que o ator transformou suas palavras em ações. Nem mesmo o final - menos pesado do que no romance - chegou a incomodar o autor, que alguns anos mais tarde veria outro livro seu, "A leste do Éden", ser adaptado por Elia Kazan e estrelado por James Dean, com o nome de "Vidas amargas" (1955). Emocionante sem ser melodramático, político sem soar panfletário e clássico sem o peso do tempo a pesar sobre seus ombros, "As vinhas da ira" é, talvez, o melhor filme de John Ford - e, ironicamente, o mais atípico de sua carreira.

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