BELEZA AMERICANA (American beauty, 1999, DreamWorks SKG, 122min) Direção: Sam Mendes. Roteiro: Alan Ball. Fotografia: Conrad L. Hall. Montagem: Tariq Anwar, Christopher Greenbury. Música: Thomas Newman. Figurino: Julie Weiss. Direção de arte/cenários: Naomi Shohan/Jan K. Bergstrom. Produção: Bruce Cohen, Dan Jinks. Elenco: Kevin Spacey, Annette Bening, Thora Birch, Chris Cooper, Wes Bentley, Mena Suvari, Peter Gallagher, Allison Janney, Scott Bakula. Estreia: 01/10/99
8 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (Sam Mendes), Ator (Kevin Spacey), Atriz (Annette Bening), Roteiro Original, Fotografia, Montagem, Trilha Sonora Original
Vencedor de 5 Oscar: Melhor Filme, Diretor (Sam Mendes), Ator (Kevin Spacey), Roteiro Original, Fotografia
Vencedor de 3 Golden Globes: Melhor Filme/Drama, Diretor (Sam Mendes), Roteiro
No final dos anos 90, desmascarar a aparente normalidade do “american way of life” estava sendo uma obsessão do cinema. Todd Solondz criou “Felicidade” e depois o inglês Sam Mendes deu a sua visão do distorcido núcleo familiar ianque em "Beleza americana", que logo que estreou caiu nas graças da crítica e surpreendentemente do público, que ficou extasiado com sua visão menos crua e mais lúdica, mas extremamente contundente e realista (ainda que revestida de uma plasticidade que a torna mais poética). Vencedor de cinco Oscar (filme, diretor, roteiro, ator e fotografia), “Beleza americana” mereceu todo o auê com que foi recebido. Investiga, através do olhar irônico e até carinhoso do roteirista Alan Ball, a transformação de uma típica família suburbana, à primeira vista perfeita, mas que, como manda a campanha publicitária, vista de perto não é assim tão normal. Caetano Veloso assinaria embaixo.
Kevin Spacey, em uma atuação irretocável que lhe rendeu um segundo e merecido Oscar, vive Lester Durnham, um homem cuja vida é dar pena. Executivo de uma empresa que não lhe dá a menor possibilidade de um futuro auspicioso, com uma vida sexual letárgica cujo único momento de prazer é a masturbação matinal debaixo do chuveiro e tendo como ideia de diversão um festival de filmes de James Bond na televisão, Lester tem o vislumbre de uma vida mais completa e feliz quando conhece Angela Hayes (Mena Suvari), a amiga gostosona da filha adolescente, a complicada e quase desleixada Jane (Thora Birch). Com os hormônios a mil, Lester resolve dar um jeito na vida: deixa o emprego, passa a fazer exercícios físicos e, em um último lampejo de regresso à juventude, volta a fumar maconha. Quem não gosta nada dessa nova vida do marido é Caroline (Annette Bening), sua obcecada esposa. Corretora imobiliária, Caroline tenta manter seu casamento de aparências, sua família como um porta-retrato feliz e seu visual impecável e caprichado. Sofrendo com a falta de ambição do marido, ela inicia um romance extra-conjugal com seu rival profissional (Peter Gallagher) e nem percebe o romance da filha com o jovem vizinho Ricky (Wes Bentley), que faz bicos como garçom e nas horas vagas ganha dinheiro traficando drogas às escondidas de seu pai, um rígido militar aposentado (vivido por um extraordinário Chris Cooper).
Uma das maiores qualidades do roteiro de Ball (que o produtor Steven Spielberg mandou filmar sem mexer em uma linha) é o fato de que suas personagens são absolutamente humanos, reais e palpáveis - uma característica dos textos de Ball, criador da magnífica série "A sete palmos". Surpreendentes em suas atitudes, elas nunca fazem o que se espera delas, o que leva o público a surpresas constantes no desenrolar criativo da trama, que leva a um desfecho inesquecível e clássico de nascença - afinal, como não se emocionar com um filme que acaba com os quatro rapazes de Liverpool entoando a bela "Because"??
Oriundo dos palcos ingleses - onde dirigiu Nicole Kidman, por exemplo - Sam Mendes nitidamente tem um senso estético apuradíssimo, capaz de, com a ajuda do veterano diretor de fotografia Conrad Hall, dirigir cenas de visual belíssimo, além de contar com a trilha sonora marcante de Thomas Newman e com diálogos cortantes, bem-humorados e melancólicos. Os diálogos, aliás, são a alma do filme, recitados por um elenco sem um elo fraco sequer. Se apenas Spacey - capaz de transmutar-se em questão de segundos de quarentão excitado a pai zeloso sem dizer uma única palavra - levou o Oscar foi porque o ano realmente estava muito forte (e Deus nos proteja de pensar que a primeira opção para o papel era Chevy Chase (??!!)). Annette Bening está sensacional como a patética e sem esperança de salvação Caroline, o até então subaproveitado Chris Cooper tem uma atuação assustadora e antológica - quem duvida que espere a reveladora cena na garagem de Lester - e os adolescentes Thora Birch, Wes Bentley e Mena Suvari dão aulas de como comportar-se à altura de seus experientes colegas de cena. Tudo isso, logicamente, envolto em uma acurada percepção da alma humana, com todos os seus deslizes e grandezas.
Irônico, perturbador e extremamente comovente, "Beleza americana" é um dos filmes obrigatórios do final do século XX e um dos essenciais da história do cinema.
2 comentários:
Simples assim: O MELHOR FILME DE TODOS OS TEMPOS.
Vi no cinema: adorei.
Vi em dvd: amei.
Vejo sempre.
Concordo quando diz: Kevin Spacey, em uma atuação irretocável.
Belo filme. Ainda prefiro o estilo de Todd Solondz em "Felicidade". Mas, um ótimo filme, sem dúvida.
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