4 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Ator Coadjuvante (Michael Clarke-Duncan), Roteiro Adaptado, Som
Em 1994, Frank Darabont encantou público e crítica com seu belo “Um sonho de liberdade”, que conquistou indicações ao Oscar de melhor filme, ator e roteiro adaptado e tornou-se, com o tempo, obra de referência quando o assunto é filmes passados em presídios. Em sua segunda incursão atrás das câmeras, o cineasta voltou a buscar na obra do escritor Stephen King a inspiração para seu trabalho. Dessa vez baseado em um romance e não mais em um conto – o que lhe deu ainda mais liberdade para exercitar seu próprio ritmo de contar histórias – Darabont entregou ao público o emocionante “À espera de um milagre”, que, apesar de utilizar o ambiente claustrofóbico de um corredor da morte como cenário para sua trama jamais se deixa resvalar para o monótono. Além disso, utiliza elementos sobrenaturais inexistentes em “Um sonho de liberdade”. Para sorte do público, porém, ele os usa com parcimônia e inteligência raras. Resultado: uma renda superior a 180 milhões de dólares somente no mercado americano e quatro indicações ao Oscar, inclusive a Melhor Filme (curiosamente, como já havia acontecido com seu filme anterior, o diretor foi preterido em sua categoria...)
O filme começa em um lar de idosos, quando o ancião Paul Edgecomb cai em sentidas lágrimas ao assistir ao filme “O picolino”, estrelado por Fred Astaire. Questionado a respeito, ele resolve contar então a uma colega a trágica e emocionante história que testemunhou em 1935, quando, ainda relativamente jovem (e vivido por Tom Hanks) era o responsável principal pelo Corredor da Morte de seu condado. Justamente na época em que passava por uma séria infecção renal, Edgecomb travou conhecimento com John Coffey (Michael Clarke Duncan), um gigantesco negro com voz de trovão e aparência assustadora que foi condenado à morte pelo assassinato de duas meninas brancas. Coffey chega à Milha Verde – como é conhecido o corredor devido à cor de seu piso – e passa a fazer companhia a outros condenados que aguardam a execução, como o francês Delacroix (Michael Jeter), o descendente indígena Arlen (Graham Greene) e o barra-pesada Billy The Kid (Sam Rockwell), que tem o caráter tão repugnante quanto sua aparência física.
Coffey seria apenas mais um apenado se não fosse uma intrigante particularidade: ele tem o dom de fazer milagres e jura inocência do crime pelo qual foi condenado. Aos poucos, tanto Edgecomb quanto seus colegas Brutal (David Morse) e Dean (Barry Pepper) começam realmente a questionar sua culpa. Depois de testemunharem a cura da infecção de Paul e da grave doença da esposa de seu chefe – além da ressurreição de Mr. Jingles, o ratinho de estimação de um dos prisioneiros – eles passam a perguntar-se se teriam coragem de matar um milagre de Deus. Como o próprio Edgecomb declara, “o que eu vou dizer a Deus quando Ele me perguntar porque eu matei um milagre dEle? Que era meu trabalho?”
Mais uma vez Frank Darabont conta a história em seu próprio tempo e ritmo. Ele não tem pressa em apresentar suas personagens nem tem vergonha de gastar preciosos minutos mostrando sua relação com um ratinho (relação que se mostrará crucial à trama, diga-se de passagem). Novamente todos os diálogos do filme são importantíssimos, todos os detalhes são significativos e todas as personagens estão em cena por motivos bastante fortes. Existe maniqueísmo, sim, senão não seria uma obra de Stephen King (os vilões são poços de crueldade e os mocinhos são puros e inocentes, e o milagroso John Coffey, apesar do tamanho, tem até mesmo medo de escuro!!), mas essa clara divisão entre o bem e o mal é imprescindível ao roteiro. Os efeitos visuais e sonoros são discretos e não chamam mais a atenção do que o desenvolvimento das personagens e o andamento da história, o que sempre é um alívio. E os atores merecem um capítulo à parte.
Tom Hanks demonstra sua maturidade como ator, mantendo-se discreto e generoso em dar espaço a seus colegas de elenco, todos aliás, de se tirar o chapéu. Doug Hutchinson, que vive o cruel guarda Percy – e que trabalha no presídio graças à influência de sua família – é um dos vilões mais odiosos de todos os tempos: mesquinho, rancoroso e ambicioso, ele é capaz de qualquer coisa para satisfazer seus desejos (e acaba sendo o responsável pela execução mais angustiante da história do cinema). Hutchinson – saído de dois episódios da série “Arquivo X”, onde vivia um homem que se alimentava de fígado humano – sai-se muito bem em seu único trabalho realmente marcante nas telas. E tem ótima companhia. Sam Rockwell, na pele do insuportável Billy The Kid, também faz seu trabalho bem além da chamada obrigação profissional. Mas é, sem dúvida, Michael Clarke Duncan quem mais brilha. Ex-guarda-costas de gente como Bruce Willis, ele chegou a ser indicado ao Oscar de coadjuvante por sua emocionante atuação como a aparentemente perigoso mas surpreendentemente afável John Coffey, responsável pelos momentos mais comoventes do longa.
E sim, “À espera de um milagre” é um filme bastante longo. São mais de três horas de duração com raros momentos de alívio em uma trama densa, potente e por vezes cruel - e sua introdução e epílogo poderiam ter sido tranqüilamente editados na versão final. Mas ao mesmo tempo, é uma ode à bondade, ao ser humano e a Deus. Pode levar às lágrimas, mas dificilmente pode ser considerado deprimente. E é um espetáculo difícil de esquecer. Mais uma vez Frank Darabont merece aplausos.
2 comentários:
Prefiro Um Sonho de Liberdade...mas, como não sou fã de Tom Hanks entendo que A Espera de um Milagre é um filme mais meloso do que sincero.
Mas, é um filme agradável.
Grande filme, ótimo história e um elenco de primeira. As mais de três horas passam rapidamente em virtude da qualidade do filme.
O diretor Frank Darabont ainda não tem o reconhecimento que merece.
Abraço
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