AMOR POR DIREITO (Freeheld, 2015, Double Feature Films, 103min) Direção: Peter Sollett. Roteiro: Ron Nyswaner. Fotografia: Maryse Alberti. Montagem: Andrew Mondsheim. Música: Johnny Marr, Hans Zimmer. Figurino: Stacey Battat. Direção de arte/cenários: Jane Musky/Joanne Ling. Produção executiva: Hilary Davis, Adam Del Deo, Richard Fischoff, Stephen Kelliher, Taylor Latham, Tiller Russell, Natalia Saenz, Robert Salerno, Gregory R. Schenz, Ameet Shukla, Scott Stone. Produção: Kelly Bush Novak, Julie Goldstein, Phil Hunt, Duncan Montgomery, Ellen Page, Compton Ross, Jack Selby, Michael Shamberg, Stacey Sher, James D. Stern, Cynthia Wade. Elenco: Julianne Moore, Ellen Page, Michael Shannon, Steve Carrell, Josh Charles, Luke Grimes. Estreia: 13/9/15 (Festival de Toronto)
Laurel Hester é uma detetive da polícia de Nova Jersei. Inteligente, corajosa e absolutamente dedicada ao trabalho, ela é respeitada pela corporação e pelos colegas, além de ser considerada uma das mais competentes policiais da cidade. Porém, sem que ninguém de suas relações profissionais saiba, Laurel é lésbica - e tem plena consciência de que assumir sua sexualidade em um ambiente machista e conservador pode ter consequências óbvias em sua carreira, como o deslocamento para o serviço burocrático e seu afastamento da lista de promoções. Mesmo quando se apaixona pela jovem Stacei Andree, que trabalha como mecânica, Laurel sabe que precisa manter seu relacionamento o mais discreto possível, apesar de ser quase obrigada a dividir seu segredo com o parceiro, Dane Wells. Sua condição, no entanto, vem à tona no pior momento de sua vida: diagnosticada com um agressivo e incurável câncer no pulmão, a séria e responsável agente entra na Justiça para exigir que, após a sua morte, sua pensão fique com Stacei, assim como acontece como todos os casais heterossexuais da força policial. O preconceito e a burocracia ameaçam interromper o processo, mas a entrada em cena do militante gay Steven Goldstein - excêntrico, pouco discreto e barulhento - torna o caso algo de interesse nacional.
Foi logo que assistiu à história de Laurel e Stacei, no documentário em curta-metragem "Freeheld", dirigido por Cynthia Wade e vencedor do Oscar da categoria em 2008, que o roteirista Ron Nyswaner resolveu que ela precisava ser contada para um público mais amplo - e com um alcance maior do que o curta original. Também indicado ao Oscar - por seu trabalho em "Filadélfia" (93) - e autor do roteiro do telefilme "Um amor na trincheira" (2003), que narrava a trágica história real do amor entre um jovem soldado e uma transformista, Nyswaner parecia a pessoa mais adequada para explorar todas as dramáticas nuances de uma batalha jurídica que buscava, mais do que apenas justiça, o respeito e a igualdade. Tendo entre seus produtores a própria Cynthia Wade e a atriz Ellen Page - que assumiu sua homossexualidade durante as filmagens, oferecendo um senso extra de realismo ao projeto - "Amor por direito" estreou no Festival de Toronto de 2015 prometendo emocionar o público e dar a largada na disputa pelos principais prêmios da temporada (a saber, Golden Globo e Oscar). Não deu muito certo: saiu sem nenhuma estatueta nos festivais e foi ignorado tanto pela imprensa estrangeira em Hollywood quanto pela Academia - mais por ter sido lançado em um ano bastante disputado do que por falta de qualidades, ainda que o resultado final nunca seja mais do que apenas correto.
Com a direção do pouco conhecido Peter Sollett, cujo trabalho mais famoso é o cult jovem "Nick & Norah: uma noite de amor e música", de 2008, "Amor por direito" tem como seu principal atrativo o nome de Julianne Moore, no papel da corajosa Laurel Hester. Recém premiada com o Oscar de melhor atriz por seu desempenho em "Para sempre Alice", Moore mais uma vez entrega uma atuação caprichada, ainda que esbarre em um roteiro pouco inspirado. Talvez preso em sua tentativa de honrar a trajetória de sua protagonista, Nyswaner pouco ousa em sua narrativa, adotando uma linearidade que por vezes soa bastante apática. Demorando em finalmente chegar ao ponto - e explorando sem necessidade procedimentos policiais para enfatizar a dedicação de Laurel à carreira - o roteiro também parece ter medo de apelar para a emoção: em sua opção de evitar o sentimentalismo, "Amor por direito" falha em seu objetivo de comover o público, apesar do esforço de seu elenco. A história de amor entre Laurel e Stacei, acaba, portanto, sendo menos interessante do que sua batalha judicial por igualdade - um enfoque que acaba por tornar-se o ponto mais certeiro do filme.
Quando abandona o drama romântico para concentrar-se na luta de Laurel e Stacei por seus direitos civis, o filme de Sollett cresce, especialmente quando entra em cena o melhor personagem do filme, o gay judeu interpretado por Steve Carrell (em substituição à Zach Galifianakis). Ator revelado em comédias mas alçado ao status de ator dramático graças a interpretações surpreendentes em filmes como "Pequena Miss Sunshine" (2006) e "Foxcatcher" (2014), Carrell equilibra bem suas duas vertentes de atuação, transformando Steven Goldstein no catalisador de uma corrente de solidariedade e apoio às duas protagonistas mesmo quando seus exageros e extravagâncias correm o risco de por tudo a perder. Seu desempenho vibrante é o contraste perfeito da atuação discreta e sempre eficiente de Michael Shannon, que vive o parceiro profissional de Laurel com sutileza ímpar. Sempre que a história se concentra nas reuniões com os responsáveis por aprovar ou não o pedido de pensão para Stacei, o filme ganha humanidade e relevância - e de certa forma compensa a falta de química entre Julianne Moore e Ellen Page, duas excelentes atrizes, mas que parecem pouco à vontade em cena. Ainda assim, são convincentes o bastante para manter a atenção do espectador até o final. "Amor por direito" pode não ser o grande filme que prometia, mas sua importância e urgência é inegável.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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