Best-seller absoluto em todo o mundo, o livro "O Código Da Vinci", de Dan Brown, não demorou em chegar às telas de cinema, em 2006, com o apoio de um invejável time liderado pelo diretor Ron Howard (vencedor do Oscar por "Uma mente brilhante") e pelo ator Tom Hanks (dono de duas estatuetas, por "Filadélfia" e "Forrest Gump: o contador de histórias" e que ficou com um papel disputado pelos maiores astros de Hollywood à época, como Russell Crowe e Hugh Jackman). Com um custo estimado de 125 milhões de dólares, o filme acabou desagradando boa parte da crítica e dos fãs da obra original, e, apesar de ter coletado mais de 750 milhões internacionalmente, ficou longe de ser considerado um fenômeno sequer parecido com o do livro, que vendeu mais de 80 milhões de cópias e causou polêmicas infindáveis com suas teorias a respeito de uma possível descendência de Jesus Cristo. Isso não impediu, no entanto, que Hollywood percebesse que Langdon e suas aventuras poderiam tranquilamente render muito mais - especialmente porque Brown já tinha publicado outro livro com o mesmo personagem e que estava pronto para ser adaptado. Mesmo se passando antes dos acontecimentos mostrados em "Da Vinci", "Anjos e demônios" foi lançado, três anos mais tarde, como uma continuação - e, se não teve a bilheteria esperada, não foi por falta de esforço por parte dos produtores, que tentaram (sem conseguir muito) corrigir as falhas do primeiro filme.
Uma das mais
frequentes críticas feita à "O Código Da Vinci" em seu lançamento
dizia respeito à forma como o roteirista Akiva Goldsman havia traduzido a
estratosférica quantidade de informações sobre História, Arte e Religião do
livro para o filme. Para evitar o didatismo em "Anjos e demônios", o
vencedor do Oscar por "Uma mente brilhante" - que recebeu um salário
recorde de 3,8 milhões de dólares pelo trabalho - enxugou o máximo que pode de
referências históricas aos Illuminati (sociedade secreta surgida no século
XVIII que tem papel preponderante na trama) e concentrou-se nas aventuras de
Langdon pela cidade do Vaticano às vésperas da eleição de um novo Papa. O
roteiro acabou por ter cenas reescritas pelo veterano David Koepp (a pedido de
Tom Hanks) e chegou até o público sem a mesma inteligência de "Da
Vinci" - e com sequências de suspense e ação mornas e apáticas. Nem mesmo
a duração excessiva (quase duas horas e meia de projeção) dá conta de costurar
o exagero de situações criadas pela história, que envolve sequestro de
cardeais, o roubo de antimatéria com intenções criminosas, os famigerados
Illuminati e uma sucessão de cenas que se pretendem chocantes mas que ficam no
meio do caminho entre a violência e o desejo de atrair público de todas as
idades às salas de cinema. O resultado é um filme bem produzido (como era de se esperar haja visto o orçamento gigantesco para uma obra sem efeitos visuais mirabolantes) mas sonolento, incapaz de empolgar ou sequer atiçar a imaginação da plateia como seu antecessor.
Se em "O Código Da Vinci" o protagonista fazia uma turnê pelos pontos turísticos religiosos e históricos de Paris, em "Anjos e demônios" o simbologista mais famoso da literatura mundial é chamado ao Vaticano para tentar evitar uma tragédia de grandes proporções: um grupo de membros dos Illuminati acaba de sequestrar os quatro cardeais favoritos ao posto de novo Papa (após a morte inesperada do último) e pretende matá-los de hora em hora, além de detonar uma explosão capaz de arrasar com a cidade. Tais atos, planejados como uma revanche pela perseguição da Igreja Católica feita à sociedade secreta desde sua criação, ameaçam não apenas a integridade física de todos os religiosos reunidos para o conclave, mas também a própria estrutura da Igreja - o que deixa o carmelengo Patrick McKenna (Ewan McGregor) na difícil situação de lidar tanto com a eleição quanto com a possibilidade de não sobrarem possíveis candidatos ao cargo, já que, além dos desaparecidos, apenas o Cardeal Strauss (Armin Mueller-Stahl) tem condições de assumir tal papel. Nesse meio-tempo, Langdon corre de uma catedral à outra, tentando evitar as mortes dos cardeais usando, para isso, pistas que remetem a antigas anotações guardadas a sete chaves pelas autoridades canônicas.
Substituindo a francesa Audrey Tautou pela israelense Ayelet Zurer (que foi a mulher de Eric Bana em "Munique", de 2005), "Anjos e demônios" consegue evitar a verborragia excessiva de "O Código Da Vinci", mas esbarra em um problema ainda maior: a superficialidade de absolutamente toda a sua narrativa. Enquanto no filme anterior o diretor Ron Howard ilustrava longos discursos com uma edição notável e criativa (mas ainda assim vítima de muitas reclamações), aqui ele simplesmente ignora toda e qualquer vontade de esclarecer a plateia sobre as origens dos Illuminati ou sobre detalhes a respeito das pistas que Langdon vai encontrando em sua busca. O ritmo talvez tenha ficado mais ágil, mas em compensação é difícil de envolver-se com a trama ou com seus personagens. Tom Hanks continua no piloto automático e Ewan McGregor faz o que pode com um personagem que jamais atinge todas as suas possibilidades. No cômputo final, é um filme menor do que seu primeiro capítulo - não empolga, não ensina nem tampouco é memorável. Um entretenimento decente, mas nada além disso. Uma decepção quando se pensa que tem a assinatura de um time de talento inegável e uma produção caríssima.
2 comentários:
Pois eu adorei os filmes, e mais ainda, anjos e demonios
Oi, Funerea... que bom que você gostou, nada pior que assistir a um filme e ficar com aquela sensação de tempo perdido, né? Eu ainda prefiro "O código Da Vinci", mas nenhum deles me agradou completamente. Abraços.
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