terça-feira

MORRENDO E APRENDENDO


MORRENDO E APRENDENDO (Heart and souls, 1993, Universal Pictures, 104min) Direção: Ron Underwood. Roteiro: Brent Maddock, S.S. Wilson, Gregory Hansen, Erik Hansen, estória de Gregory Hansen, Erik Hansen, Brent Maddock, S.S. Wilson, curta-metragem de Gregory Hansen. Fotografia: Michael Watkins. Montagem: O. Nicholas Brown. Música: Marc Shaiman. Figurino: Jean-Pierre Dorleac. Direção de arte/cenários: John Muto/Anne Ahrens. Produção executiva: Cari-Esta Albert, James Jacks. Produção: Sean Daniel, Nancy Roberts. Elenco: Robert Downey Jr., Kyra Sedgwick, Tom Sizemore, Charles Grodin, Alfre Woodard, Elisabeth Shue, David Paymer. Estreia: 13/8/93
 

O sucesso avassalador de "Ghost: do outro lado da vida", que em 1990 pegou até mesm a Paramount de surpresa, ao tornar-se um enorme êxito comercial e concorrer ao Oscar de melhor filme (além de ter arrebatado duas estatuetas), fez com que os estúdios de Hollywood começassem a prestar mais atenção em roteiros que explorassem, de uma forma ou outra, a espiritualidade. Nenhum deles resultou em um filme memorável - até mesmo o esperado "A mulher do açougueiro", estrelado pela mesma Demi Moore, fracassou retumbantemente -, mas algumas produções acabaram injustamente renegadas, tidas como subprodutos oportunistas enquanto, na verdade, tinham qualidades o bastante para, no mínimo, fazer uma bela carreira como cult. É o caso de "Morrendo e aprendendo", emocionante e divertida comédia dramática dirigida por Ron Underwood que passou praticamente em branco nos cinemas - e, no caso de países como Inglaterra e Hungria, foi lançado diretamente em vídeo: com um roteiro bem amarrado, atuações precisas e um tom acertadamente nostálgico, o filme cativa logo nos primeiros minutos e, se não chega a ser uma obra-prima ou um marco na carreira dos envolvidos, ao menos não faz feio em sua tentativa de emocionar aos mais sensíveis.

Originado de um curta-metragem de nove minutos dirigido pelo corroteirista Gregory Hansen, "Morrendo e aprendendo" chegou aos cinemas quando seu astro, Robert Downey Jr., já estava devidamente reconhecido como um dos mais promissores astros de sua geração - prestígio alcançado pelos prêmios conquistados por seu desempenho em "Chaplin" (1992). Isso não impediu, no entanto, que naufragasse solenemente nas bilheterias e se tornasse, com o tempo, um dos trabalhos menos lembrados do ator - que, apesar dos pesares, o considera um de seus filmes preferidos. Não é para menos: anos antes de atingir o status de grande astro com "Homem de ferro" (2008), ele teve a oportunidade de exercitar seu timing cômico, seu carisma e seus dotes dramáticos, com um protagonista que, em outros tempos, poderia muito bem ter sido interpretado por Cary Grant. E isso que ele só aparece depois de meia hora de projeção.

 

"Morrendo e aprendendo" começa em 1959, quando duas situações completamente opostas confluem em uma terceira. Em um delas, um trágico acidente com um ônibus causa a morte do motorista e dos quatro passageiros. Em outra, um casal comemora o nascimento do primeiro filho, Thomas, ocorrido quase ao mesmo tempo. Presos à Terra mesmo depois da morte, as vítimas acabam se tornando anjos da guarda do menino, que pelos próximos sete anos, conviverá com eles com naturalidade e segurança - pelo menos até que eles percebam que sua presença está atrapalhando o desenvolvimento natural da criança. Sempre presentes em sua vida, mesmo que invisíveis, os quatro espíritos acabam por voltar à ciência de Thomas anos mais tarde, quando Thomas já é um adulto bem sucedido profissionalmente - ainda que com sérios problemas em assumir um compromisso com a bela namorada, Anne (Elisabeth Shue): procurados pelo motorista do ônibus, Hal (David Paymer), eles descobrem que deveriam ter aproveitado seu tempo ao lado do rapaz para resolver as pendências deixadas no momento de suas mortes. Com os dias contados antes de partirem definitivamente, eles precisam, então, contar com a ajuda do incrédulo jovem para limpar as arestas de suas vidas - o que não é exatamente tarefa das mais fáceis.

Milo Peck (Tom Sizemore), um ladrão de galinhas, embarcou no ônibus depois de arrumar encrenca com um de seus contratantes - que lhe pagou para roubar, de uma criança, uma revista em quadrinhos rara e valiosa. Harrison Winslow (Charles Grodin) sofria com uma timidez atroz, que o impedia de fazer carreira como cantor lírico. Julia (Kyra Sedgwick) estava em crise no relacionamento com o namorado, a quem amava apesar de não ter a coragem de dar um passo definitivo. E Penny Washington (Alfre Woodard), uma mãe solteira, tinha dúvidas a respeito de sua competência materna em cuidar sozinha de três crianças. Com a possibilidade de usar o corpo de Thomas para encerrarem seus ciclos terrenos, os quatro partem em busca de redenção, em uma jornada que envolve risos, lágrimas e música. Para sorte do espectador, cada etapa dessa trajetória é apresentada de forma lúdica e orgânica: até mesmo as coincidências que surgem no caminho dos personagens soam plausíveis - responsabilidade de um roteiro sem medo de mergulhar na emoção e de protagonistas adoráveis, capazes de conquistar o público sem fazer muito esforço. Dirigido com sensibilidade por um Ron Underwood que acabara de assinar "Amigos, sempre amigos" (1991) - que deu o Oscar de coadjuvante a Jack Palance - e passaria à televisão já no começo dos anos 2000, "Morrendo e aprendendo" é uma delícia de sessão da tarde, um filme despretensioso e leve que mostrava, já em 1993, o imenso talento de Downey Jr..

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