terça-feira

FEROCIDADE MÁXIMA


FEROCIDADE MÁXIMA (Fierce creatures, 1997, Universal Pictures, 93min) Direção: Robert Young, Fred Schepsi. Roteiro: John Cleese, Iain Johnstone, ideia "The Fierce Animal Policy", de Terry Jones e Michael Palin. Fotografia: Ian Baker, Adrian Biddle. Montagem: Robert Gibson. Música: Jerry Goldsmith. Figurino: Hazel Pethig. . Direção de arte/cenários: Roger Murray-Leach/Peter Howitt, Stephenie McMillan, Brian Read. Produção executiva: Steve Abbott. Produção: John Cleese, Michael Shamberg. Elenco: Kevin Kline, Jamie Lee Curtis, John Cleese, Michael Palin. Estreia: 23/01/97

Em 1988, o mundo foi tomado de assalto por uma comédia despretensiosa que, unindo o senso de humor nonsense do grupo britânico Monthy Phyton com o cinismo norte-americano, conquistou público (com uma renda acima de 60 milhões de dólares de arrecadação) e a crítica (com três indicações ao Oscar, incluindo direção e roteiro original, levou pra casa a estatueta de ator coadjuvante). "Um peixe chamado Wanda" mesclava, de forma inteligente e ácida, piadas verbais e visuais com uma velocidade estonteante, deu à Jamie Lee Curtis um dos melhores papéis de sua carreira e mostrou às plateias a veia cômica de Kevin Kline, até então celebrado por papéis dramáticos em filmes como "A escolha de Sofia" (1982) , "O reencontro" (1983) e "Um grito de liberdade" (1987). Desde então, entusiasmados com o êxito, os fãs da produção tinham apenas uma pergunta em mente: "quando eles irão se reunir novamente?" Demorou, mas aconteceu. Quase uma década depois, estreava nos cinemas "Ferocidade máxima". A notícia boa: quase todo mundo da equipe original estava de volta (com exceção do diretor Charles Crichton). A notícia ruim: apesar de algumas boas ideias e do talento inquestionável de todos os envolvidos, o filme não apresentava o mesmo frescor de "Um peixe" e naufragou solenemente nas bilheterias mesmo com as mudanças exigidas depois de uma série de exibições-teste.

Talvez o maior problema no caminho de "Ferocidade máxima", além da tentativa de emplacar um filme de piada única estendida à exaustão, tenha sido o excesso de expectativas. Depois de quase dez anos de espera, o público estava ávido por gargalhar à exaustão com as novas besteiras da trupe capitaneada por John Cleese e Michael Palin - este com um papel ainda menor do que o que lhe coube em "Um peixe chamado Wanda". O que encontrou foi o resultado de uma produção problemática, que necessitou de refilmagens depois de pronta - com um novo diretor, Fred Schepsi - e estreou quase um ano depois da data programada. Dotado de algumas cenas realmente engraçadas - em especial aquelas que envolvem o mal-entendido a respeito das aventuras sexuais de Rollo Lee (Michael Palin) - e uma ideia central das mais inusitadas, o filme assinado por Robert Young deixa a desejar principalmente devido à irregularidade do roteiro, que não permite ao espectador se envolver suficientemente com os personagens, e à direção sem os toques de genialidade de Charles Crichton - indicado ao Oscar por "Um peixe chamado Wanda" e deixado de fora do novo filme pela idade avançada de 84 anos de idade, o que prejudicaria o sinal verde para o projeto). Kevin Kline - que ganhou um merecido Oscar pelo filme anterior - faz papel duplo, mas está longe de sua melhor forma, prejudicado por personagens pouco simpáticos, e Jamie Lee Curtis tampouco é explorada em todo o seu potencial, sendo relegada quase a segundo plano. Resta John Cleese, que arranca o máximo de cada cena, utilizando sua experiência de décadas para valorizar cada diálogo e gesto. 

A trama central é um achado: um poderoso e irascível empresário, Rod McCain (Kevin Kline), acaba de comprar, dentro de um de seus vários negócios, um zoológico londrino, o London Marwood Zoo, e contrata para dirigí-lo o tímido e desajeitado Rollo Lee (John Cleese), que tem a dura missão de encontrar uma maneira de aumentar a lucratividade do local. Lee tem a ideia de acabar com os animais dóceis e dedicar o zoológico apenas a feras de alta periculosidade, o que imediatamente causa revolta nos funcionários mais antigos, principalmente no veterano Adrian Malone (Michael Palin), que vê na novidade o risco de perder o emprego. As coisas ficam ainda mais complicadas quando chegam a Londres o filho de Rod, o frívolo Vince (também Kevin Kline) e a sensual Willa Carter (Jamie Lee Curtis), recém-contratada para trabalhar com Lee - por quem se sente surpreendentemente atraída ao julgá-lo um sedutor contumaz. Juntos, Vince e Willa irão testemunhar a batalha dos funcionários, capazes de qualquer coisa para provar que até mesmo os coelhinhos do zoológico são ferozes e perigosos.

Algumas cenas de "Ferocidade máxima" são sensacionais: ao descobrir a armação dos empregados, Lee tenta desmascará-los à custa de uma visitante ferida do zoológico; Willa e Vince ouvem Lee falando com os animais que resgatou e julgam que ele está acompanhado de várias mulheres; uma aranha venenosa escapa enquanto Malone está escondido em um armário para gravar conversas comprometedoras. Infelizmente elas não são o bastante para fazer de "Ferocidade máxima" um sucessor à altura de "Um peixe chamado Wanda", cuja estrutura era muito mais firme e redonda. O elenco ainda é seu maior trunfo - apesar de nem sempre ser completamente explorado -, mas a direção carece de inventividade. Ficam patentes a confusão de bastidores, a troca de diretores, a indecisão do roteiro em focar no zoológico ou nos problemas entre os McCain. É uma pena que todo o potencial da produção não tenha sido atingido e que não tenha se tornado mais um clássico instantâneo. É uma boa comédia, capaz de arrancar uma ou outra gargalhada - mas em comparação com seu antecessor, não deixa de ser decepcionante, apesar de suas qualidades óbvias. 

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