No começo de 1997, poucos programas de tv eram tão populares e queridos quanto "Friends" - cujo sucesso só fez aumentar ainda mais nas temporadas seguintes. Nenhuma surpresa, portanto, que seus astros tentassem o caminho natural rumo em direção ao cinema, ainda considerado um veículo mais nobre e com mais status. Enquanto Jennifer Aniston já começava a brilhar em comédias românticas - como "Nosso tipo de mulher" (1996) e "Paixão de ocasião" (1997) -, Courteney Cox ganhava ainda mais fama com o primeiro capítulo de "Pânico" (1996) e Lisa Kudrow apostava na comédia, com "Romy & Michelle" (1997), o elenco masculino buscava arduamente ser reconhecido além de seus personagens mais célebres. Se David Schwimmer havia tentado a sorte no elogiado mas pouco visto "O primeiro amor de um homem" (1996) - ao lado de uma Gwyneth Paltrow pré-Oscar - foi Matthew Perry quem deu o passo mais bem-sucedido. Tudo bem que "E agora, meu amor?" não foi um sucesso avassalador de bilheteria - nem tampouco chegou a fazer barulho nas cerimônias de premiação do ano -, mas o romance dirigido por Andy Tennant conseguiu mostrar, ainda que de forma tímida, que o intérprete do sardônico Chandler Bing tinha mais a oferecer do que piadas ininterruptas.
Simples e inofensivo, o filme de Tennant - que se especializaria em comédias românticas no decorrer dos anos 2000 - serve como um veículo perfeito para o carisma de Perry, um ator simpático e talentoso, capaz de provocar a identificação do público masculino sem maiores dificuldades. Na trama, ele interpreta Alex Whitman, um homem comum, que trabalha como supervisor no mercado de construção civil enquanto leva uma vida quase tediosa, se envolvendo aqui e ali em relações fugazes e sem profundidade. Uma dessas relações acontece durante uma viagem a Las Vegas, quando ele conhece a mexicana Isabel Fuentes (Salma Hayek) e passa a noite com ela. O que parecia apenas mais um caso passageiro logo se revela algo mais complicado, porém: alguns meses depois do encontro, a bela fotógrafa ressurge em sua vida com a notícia de que está grávida. Atônito com a novidade - e ciente de que a jovem não tem o menor interesse em interromper a gravidez, por motivos religiosos e morais -, Alex a pede em casamento. Mesmo diante do fato de que se conhecem muito pouco e que suas diferenças culturais e sociais podem ser um empecilho para o relacionamento, os dois se casam - e descobrem, com o passar dos meses, que estavam certos quanto às dificuldades de um compromisso tão precoce.
Se há alguma diferença entre "E agora, meu amor?" e dezenas de filmes do gênero é em sua tentativa - nem sempre feliz, mas bem intencionada - de retratar o choque cultural que nasce do encontro entre Alex e Isabel, duas pessoas de mundos cuja distância pode ser facilmente subestimada em um primeiro olhar. Alex tem uma relação quase distante com os pais (interpretados por Jill Claybourgh e John Bennett Perry, pai de Matthew também na vida real), enquanto Isabel tem a família - numerosa, ruidosa e onipresente - como base de sua existência. Isabel é católica fervorosa - e seu novo marido não é exatamente um sujeito religioso. Alex tem planos profissionais que pedem que ele more em Nova York; a futura mãe de seu filho não tem a menor intenção de abandonar Las Vegas e seu clamoroso clã. Tais diferenças - administráveis em um namoro, mas pouco remediáveis quando se começa uma família - formam o conflito que é praticamente todo o roteiro do filme. O problema é que, apesar de talentosa, a dupla central falha no principal: não há química entre o casal, e a paixão que surge entre eles soa pouco crível, tornando difícil o principal objetivo de uma comédia romântica, que é torcer pelo casal de protagonistas.
"E agora, meu amor?" é, na verdade, e em seu favor, um entretenimento despretensioso, que cumpre o que promete. Se não consegue ultrapassar os limites do mediano é somente porque o roteiro foge de qualquer ousadia narrativa e/ou profundidade dramática. Salma Hayek é linda - e em papel oferecido à Jennifer Lopez, que o recusou para estar em "Anaconda" (1997) -, mas não é exatamente uma atriz de grandes recursos (levaria ainda quase meia década para concorrer ao Oscar por "Frida" (2002)) e Matthew Perry, simpático e carismático, faz o que pode para extrair substância de um personagem muito aquém de seu talento cômico - e, segundo ele, foi durante as filmagens que um acidente de jetski aprofundou ainda mais seu vício em remédios controlados, problema que o atormentou durante décadas. Leve (até demais), "E agora, meu amor?" é o programa ideal para os fãs dos atores e do gênero. Mas não entrega mais do que se poderia esperar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário