TRÊS SOLTEIRÕES E UM BEBÊ (Three men and a baby, 1987, Touchstone Pictures, 102min) Direção: Leonard Nimoy. Roteiro: James Orr, Jim Cruickshank, original de Coline Serreau. Fotografia: Adam Greenberg. Montagem: Michael A. Stevenson. Música: Marvin Hamlisch. Figurino: Larry Wells. Direção de arte/cenários: Peter Larkin/Jacques M. Bradette, Hilton Rosemarin. Produção executiva: Jean-François Lepetit. Produção: Robert W. Cort, Ted Field. Elenco: Tom Selleck, Steve Guttenberg, Ted Danson, Nancy Travis, Margaret Colin, Alexandra Amini. Estreia: 23/11/87
Em 1985, uma singela comédia francesa sobre um trio de amigos solteiros que tem sua rotina transformada com a chegada inesperada de uma menina recém-nascida pegou o mundo de surpresa e se tornou um dos maiores sucessos da temporada - não apenas em seu país de origem, mas também no mercado norte-americano, normalmente avesso a produções realizadas fora de seu domínio. Indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro, "Três homens e um bebê", escrito e dirigido por Coline Serreau, não demorou a chamar a atenção dos estúdios de Hollywood, que viram na trama elementos que casavam perfeitamente com a agenda conservadora do governo Reagan. Parte de um ciclo que festejava o casamento e a família e que gerou filmes como "Presente de grego" (1987), "Ela vai ter um bebê" (1989) e "Olha quem está falando" (1989) - além do polêmico "Atração fatal" (1987), um verdadeiro libelo pró-matrimônio, disfarçado sob um verniz de thriller -, o remake do filme de Serreau encontrou na Touchstone Pictures o lugar ideal para ser desenvolvido, depois de passar pela TriStar e pela Universal: nada como uma ramificação da Disney, afinal, para abrigar um projeto tão inofensivo. E, como não poderia deixar de acontecer, "Três solteirões e um bebê" repetiu, nas bilheterias americanas (e mundiais) o sucesso de seu original e foi ainda mais além, terminando a temporada com uma renda superior a 160 milhões de dólares - um êxito incontestável que permitiu, três anos depois, a realização de uma sequência desnecessária e de pouca repercussão, "Três solteirões e uma pequena dama".
O projeto do remake da comédia francesa contava, em seus primeiros momentos, com a presença da própria Coline Serreau - que chegou a participar da escolha dos atores principais (um processo longo que cogitou os nomes de praticamente todo e qualquer astro ou potencial astro da época). Sua saída de cena deu lugar a Leonard Nimoy - cuja experiência como diretor (restrita a dois longas de "Jornada nas estrelas", um telefilme e alguns episódios de telesséries) não foi suficiente para evitar desgastes com o elenco masculino, frequentemente questionando seus métodos de trabalho. E se a direção de Nimoy não chega a ser brilhante ou dotada de uma criatividade capaz de amenizar a fragilidade do roteiro, tampouco compromete o resultado final. Simpático mas superficial, "Três solteirões e um bebê" diverte (ao menos em sua primeira metade), encanta (graças à simpatia das pequenas Lisa e Michelle Blair) e pode até emocionar aos mais sensíveis, mas carece de personalidade e, afora sua premissa interessante, é pouco memorável e até mesmo decepcionante - principalmente fora do contexto social em que foi lançado.
Entre as dez maiores bilheterias de 1987, ano em que "Três solteirões e um bebê" foi lançado, havia espaço para comédias românticas ("Feitiço da lua" e "Dirty dancing: ritmo quente"), filmes de ação ("Predador" e "Máquina mortífera) e sequências de sucessos já previamente testados ("Um tira da pesada 2" e "007: marcado para a morte"). Buscando uma parcela do público que preferia frequentar as salas de exibição para relaxar e se divertir sem maiores exigências, filmes como o remake comandado por Nimoy tentavam driblar a violência que enchia o cofre dos estúdios ao oferecer produções que pudessem agradar à família inteira - ou seja, sem sexo, sem sangue, sem mortes a rodo ou palavrões ofensivos. "Três solteirões" caiu como uma luva em tais intenções, ao explorar uma situação capaz de arrancar sorrisos até do mais cínico espectador. O problema nem era o fato de exagerar na construção quase infantil de seus protagonistas - um trio de heterossexuais metidos a conquistadores e incapazes da tarefa mais simples do dia-a-dia -, mas sim seu fracasso em expandir a piada única no qual todo o roteiro era baseado. Acrescentar à história uma desnecessária subtrama envolvendo tráfico de drogas não apenas truncava o ritmo a partir da metade - também, de certa forma, tornava quase incoerente seu discurso de "filme família (além de não convencer e ser chata). Retomar o rumo em seus minutos finais - um tanto inverossímeis - até conserta um pouco as coisas, mas qualquer um com um mínimo de exigência percebe que, apesar da premissa adorável, o filme é simplesmente bobo.
A trama segue as aventuras de três amigos que dividem um belo e amplo apartamento em Manhattan: o arquiteto Peter Mitchell (Tom Selleck em papel que chegou a ser considerado para Chevy Chase, Steve Martin, Bill Murray, Jack Nicholson, Paul Hogan e, pasmem, Arnold Schwarzenegger), o cartunista Michael Kellan (Steve Guttenberg, que ganhou o papel de nomes como Tom Hanks, Michael Keaton, John Travolta e Bruce Willis) e o ator Jack Holden (Ted Danson no lugar de Michael J. Fox, Tony Danza, Jeff Daniels, Danny Glover, Kevin Kline, Gary Oldman, Bill Pullman e Dennis Quaid) moram juntos e convivem pacificamente com suas rotinas que envolvem muitas mulheres, festas e absolutamente nenhum compromisso amoroso mais sério. As coisas mudam de figura quando, durante uma viagem de Jack a trabalho, seus amigos descobrem, à porta de sua casa, um bebê de poucos meses, deixado no local por uma antiga namorada. Enquanto lidam com as novas responsabilidades, os colegas acabam se apaixonando pela menina - mesmo que isso atrapalhe suas carreiras, seus fugazes relacionamentos e até seus valores. Quando a mãe do bebê ameaça retomar a filha, porém, eles se sentem incapazes de abrir mão de quem já consideram parte da família.
Sim, é agradável. Sim, o bebê é adorável e algumas situações são realmente engraçadas - especialmente no primeiro ato. E sim, a química entre os três atores centrais (no auge de sua popularidade) funciona como um relógio. Mas no final das contas, é pouco. O roteiro é quase preguiçoso, o desenvolvimento dos personagens é raso (nenhum dos protagonistas soa como alguém de verdade) e, como já dito, algumas subtramas atrapalham o ritmo da história. Porém, quem não se importa com tais "detalhes" terá, certamente, quase duas horas de um entretenimento inofensivo e esquecível.
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