CONTOS PROIBIDOS DO MARQUÊS DE SADE (Quills, 2000, Fox Searchlight Pictures, 124min) Direção: Phillip Kaufman. Roteiro: Doug Wright, peça teatral de sua autoria. Fotografia: Rogier Stoffers. Montagem: Peter Boyle. Música: Stephen Warbeck. Figurino: Jacqueline West. Direção de arte/cenários: Martin Childs/Jill Quertier. Produção executiva: Des McAnuff, Sandra Schulberg, Rudolf Wiesmeier. Produção: Julia Chasman, Peter Kaufman, Nick Wechsler. Elenco: Geoffrey Rush, Kate Winslet, Joaquin Phoenix, Michael Caine, Stephen Moyer, Amelia Warner, Stephen Marcus. Estreia: 22/11/00
3 indicações ao Oscar: Ator (Geoffrey Rush), Figurino, Direção de Arte/Cenários
Para T.
Donatien Alphonse François de Sade, mais conhecido como Marquês de Sade foi um dos mais brilhantes escritores que a França conheceu. Aristocrata de nascimento, Sade tinha no Napoleão Bonaparte um de seus inimigos mais ferrenhos, tendo sido aprisionado diversas vezes não apenas durante o regime do imperador, mas também pelos revolucionários de 1789 – que aparentemente tinham de rebeldes apenas o nome. Quem já teve a oportunidade de ler alguma de suas famigeradas obras – como “Os 120 dias de Sodoma”, “Justine” e “Contos libertinos” – comprovou, sem a menor sombra de dúvida, que mesmo nos dias devassos de hoje, o seu texto, extremamente detalhado e gráfico em suas descrições sexuais, é bastante forte e ainda chocante. Dá pra imaginar, então, o impacto que seus escritos tinham em sua época. E dá também para entender os motivos que levaram o escritor a ser internado em um sanatório e proibido de publicar seus textos. E é precisamente nesse período de sua biografia que se concentra o filme “Contos proibidos do Marquês de Sade”, dirigido com a elegância habitual de Philip Kaufman – que, a exemplo de um seus filmes mais célebres, “Henry & June”, usa o erotismo como aditivo a uma trama já explosiva o bastante.
Baseado em uma peça teatral homônima escrita pelo próprio roteirista Doug Wright, o filme de Kaufman mostra o Marquês (vivido com exuberância pelo ótimo Geoffrey Rush, indicado ao Oscar por seu magnífico trabalho) prisioneiro no asilo Chareton e impedido de publicar seus trabalhos. A proibição, porém, não surte maiores efeitos, pois o escritor consegue contrabandear suas histórias através da bela camareira Madeleine (a sempre excelente Kate Winslet), que, incentivada pela leitura do Marquês, encontra forças para declarar seu amor ao Abade Coulmier (Joaquin Phoenix), responsável pelo sanatório. A repressão ao trabalho do famoso hóspede recrudesce quando chega ao local o radical alienista Royer-Collard (Michael Caine, impecável), enviado pelo próprio Napoleão para calar de vez o escritor.
Amparados por diálogos inteligentes (herança de sua origem teatral) e por uma reconstituição de época competente, Kaufman dirige um elenco de sonhos. O trabalho sensacional de Rush encontra eco na sensível atuação de Kate Winslet, na performance irônica de Michael Caine e um elenco de coadjuvantes sem elos fracos. Até mesmo a edição de Peter Boyle consegue extrair um ritmo cinematográfico de um roteiro que tem nas palavras a base de sua qualidade. São as palavras do Marquês, em busca incessante de exercer seu direito à liberdade de expressão que envolvem as personagem em um ciclo de desejo, inveja e traição que nem mesmo a leveza de seu humor (nigérrimo, obviamente) consegue impedir de chegar a uma tragédia anunciada. São as palavras do autor – sempre verdadeiras, ainda que muitas vezes vulgares e até mesmo excitantes – que criam a atmosfera perfeita para uma desgraça em grande escala que vitima até mesmo as mais inocentes criaturas.
“Contos proibidos do Marquês de Sade” é, sem dúvida, um dos filmes mais impactantes da carreira de Philip Kaufman – e sendo ele o diretor de “A insustentável leveza do ser” isso não é pouca coisa. É um trabalho que consegue ser erótico, sedutor, engraçado e triste sem nunca deixar de ser o que promete desde suas primeiras cenas: um espetáculo ousado e inteligente.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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3 comentários:
Um show de Geoffrey Rush, perfeito como o Marquês de Sade.
Abraço
Nem citou que Joaquin Phoenix aqui está sensacional, né? ele atua muito bem e boas partes de emoção do filme funciona por conta dele! abs
quem dera que os 120 de sodoma fossem verdade ja pensou? q delicia!
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