segunda-feira

UM AMOR QUASE PERFEITO

UM AMOR QUASE PERFEITO (Le fate ignoranti, 2001, Medusa Distribuzione, 106min) Direção: Ferzan Ozpetek. Roteiro: Ferzan Ozpetek, Gianni Romoli. Fotografia: Pasquale Mari. Montagem: Patrizio Marone. Música: Andrea Guerra. Figurino: Catia Dottori. Direção de arte/cenários: Bruno Cesari. Produção: Tilde Corsi, Gianni Romoli. Elenco: Margherita Buy, Stefano Accorsi, Serra Yilmaz, Gabriel Garko, Erika Blanc, Andrea Renzi. Estreia: 08/02/01 (Festival de Berlim)

A médica infectologista Antonia (Margherita Buy) leva um casamento de sonhos com seu marido, Mássimo, apesar de ter deixado para trás desejos como o de ter filhos e de ter se afastado dos amigos para dedicar-se à relação. Quando Mássimo morre repentinamente, vítima de um atropelamento, ela descobre abismada que ele tinha um caso extra-conjugal há sete anos. A busca por sua rival a leva até o jovem Michele (Stefano Accorsi) e, ainda mais atônita, a médica percebe que seu marido mantinha um relacionamento com o próprio rapaz. A princípio arrasada com a notívia, Antonia acaba se tornando responsável por Ernesto (Gabriel Garko), um jovem soropositivo amigo de Michele e, aos poucos, começa a notar que, ao lado dele Massimo era outra pessoa e que vivia com os amigos do amante como se fizessem todos parte de uma grande família. Ela e Michele passam, então, a conviver como amigos, vendo um no outro a lembrança do seu amor perdido.

Grande sucesso de bilheteria na Itália, seu país natal, “Um amor quase perfeito”, belo drama de Ferzan Ozpetek tem como principal qualidade a forma de apresentar e tratar de um assunto tabu: a bissexualidade. Ao introduzir a Antonia o mundo escondido de seu marido, o cineasta também mostra ao público uma nova maneira de ver um universo normalmente relegado ao estereótipo e ao humor exagerado. A família de amigos de Michele (uma uma interpretação excelente do galã Stefano Accorsi), por exemplo, é um núcleo familiar que foge ao padrão pré-estabelecido, mas é amorosa, leal e solidária. Há a mãezona (vivida pela ótima Serra Yilmaz), o casal bem-sucedido, o transexual fugido da verdadeira família, etc. Todos, no entanto, são personagens bem escritos, sem o ranço politicamente correto e preconceituoso que povoa o cinema comercial de modo geral.


Sem apelar para emoções fáceis ou sentimentos pasteurizados, Ozpetek criou um universo repleto de calor humano e personagens dicotômicos: ninguém é totalmente bom e ingênuo, todos tem seu passado e esperam seu futuro com maior ou menor esperança. Para isso é essencial o talento de seus dois protagonistas, Margherita Buy e Stefano Accorsi, que vive um gay longe das afetações comuns. Com um texto forte, uma trama atual (que encontra um espacinho para uma crítica de leve ao governo turco) e um elenco homogêneo e absolutamente à vontade em suas personagens únicas em suas personalidades e ordinárias em suas grandezas, “Um amor quase perfeito” (um título nacional mais uma vez totalmente sem sentido) é um legítimo representante do ótimo cinema italiano do começo do século.

Em tempo: as “fadas ignorantes” do título original são as pessoas que, mesmo sem o saber, transformam a vida de outras. E é o nome do quadro que Michele manda para Mássimo e que acaba sendo a pista que o revela à Antonia. Uma sutileza a mais em um filme simpático e realista.

Um comentário:

renatocinema disse...

Boa opção.....parece ser um ótimo filme alternativo.

Valeu pela dica.

JADE

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