A FANTÁSTICA FÁBRICA DE CHOCOLATES (Charlie and the Chocolate Factory, 2005, Warner Bros/Village Roadshow Pictures, 115min) Direção: Tim Burton. Roteiro: John August, romance de Roald Dahl. Fotografia: Philippe Rousselot. Montagem: Chris Lebenzon. Música: Danny Elfman. Figurino: Gabriella Pescucci. Direção de arte/cenários: Alex McDowell/Peter Young. Produção executiva: Bruce Berman, Graham Burke, Felicity Dahl, Patrick McCormick, Michael Siegel. Produção: Brad Grey, Richard D. Zanuck. Elenco: Johnny Depp, Freddie Highmore, Helena Bonham Carter, Noah Taylor, Missi Pyle, James Fox, Deep Roy, Christopher Lee, David Kelly, Adam Godley. Estreia: 10/7/05
Indicado ao Oscar de Figurino
Quando foi anunciado que a Warner planejava um remake de "A fantástica fábrica de chocolate" - cuja primeira versão, estrelada por Gene Wilder em 1971, havia se tornado um clássico instantâneo e cult por excelência - uma torrente de boatos inundou as páginas de jornais que cobriam Hollywood. Segundo tais notícias, nomes como Martin Scorsese, Robert Zemeckis, Barry Levinson e Gary Ross estavam em negociação com os produtores para comandar o projeto - antes que Tim Burton, talvez a escolha desde sempre mais apropriada, fosse formalmente anunciado como diretor e garantisse seu ator preferido, Johnny Depp, como dono do papel principal, o excêntrico Willy Wonka, que Wilder imortalizou no início da década de 70. Com Depp dentro do barco, acabaram-se as especulações também a respeito de quem lideraria o elenco adulto da adaptação - uma briga que incluía tanto atores previsíveis, como Nicolas Cage, Jim Carrey, Bill Murray, Mike Meyers e Michael Keaton quanto absurdos inimagináveis, como Brad Pitt, Patrick Stewart, John Cleese, Leslie Nielsen, Robert DeNiro e... Dwayne Johson (até o cantor Marilyn Manson declarou interesse no papel) - e também com a briga pelo papel do ingênuo e sonhador Charlie Bucket, o protagonista infantil: Depp recomendou a Burton o talentoso Freddie Highmore, com quem havia trabalhado no sensível "Em busca da Terra do Nunca" e na tela, parece impossível que o escritor inglês Roal Dahl tenha pensado em outro ator quando escreveu seu romance (mesmo que Highmore, à época, nem estivesse planejando nascer).
Exterminando o tom kitsch do filme original, Tim Burton cercou-se de um respeitável time de profissionais para levar às telas a história de Dahl - com muito mais fidelidade do que a versão de 1971 e sob as bênçãos da família do escritor. Além de seus habituais colaboradores - Chris Lebenzon na edição e Danny Elfman na trilha sonora - o cineasta ainda contou com o talento da figurinista Gabriella Pescucci (Oscar por "A época da inocência" e que acabou recebendo uma nova indicação ao prêmio por seu trabalho em vestir Wonka e cia) e do desenhista de produção Alex McDowell (que criou um mundo fascinante e colorido que é uma festa para os olhos da audiência e um universo dos sonhos para as crianças). Substituindo o exército de atores que interpretavam os Oompa-Loompas do primeiro filme (os operários pigmeus da fábrica) por um único ator (o extraordinário Deep Roy, uma revelação que quase rouba a cena interpretando centenas de extravagantes criaturas) e imprimindo seu estilo visual inconfundível a cada sequência, Tim Burton literalmente reinventa (e quase ignora) o filme de Mel Stuart.
A trama, logicamente, é a mesma, e o roteiro de John August (que também escreveu "Peixe grande" para Tim Burton) é brilhante, equilibrando com precisão a ironia, o sentimentalismo e o apelo ligeiramente bizarro do livro de Dahl: Willy Wonka (Johnny Depp exercitando sua tendência ao exagero em papel sob medida para seu histrionismo) é o recluso e singular dono de uma gigantesca fábrica de chocolate que, anos depois de tê-la fechado a qualquer contato humano após atos de traição, resolve lançar um concurso que agita consumidores do mundo inteiro. Para escolher uma criança para ganhar um grande e misterioso prêmio, ele distribui cinco convites dourados dentro de suas barras de chocolate, que dão direito a uma visita guiada à fábrica, acompanhados de um dos pais. É assim que o guloso Augustus Gloop, a mimada Veruca Salt, a competitiva Violet Beauregarde e o nerd Mike Teavee conseguem - cada um por um meio duvidoso e/ou antiético - seu passaporte para o programa, ao contrário do que acontece com o ingênuo Charlie Bucket, de família extremamente humilde e cujo pai acaba de perder o emprego. Cada um com seu interesse, todos se reunem diante da imponente fábrica no dia marcado e, sob os auspícios de Wonka - que teve uma infância complicada e ainda sofre com os traumas relativos a seu pai dentista (participação especialíssima do veterano Christopher Lee) - fazem uma excursão inesquecível por um colorido mundo de fantasia.
Mesmo sendo um cineasta com tendência ao exagero - e tendo como protagonista um ator com igual pendor - Tim Burton consegue o que parecia impossível com sua versão de "A fantástica fábrica de chocolate": agradar a gregos e troianos, ou seja, a todos àqueles que assistiram à primeira versão da história e também à gorda fatia de público que nunca teve acesso à tresloucada atuação de Gene Wilder (e bota gorda nisso, já que o filme de 2005 faturou mais de 200 milhões de dólares nas bilheterias americanas). Sua visão do livro é feérica, engraçada, frequentemente cafona e impossível de desagradar. É Tim Burton em um de seus melhores momentos sem nunca deixar de lado a origem literária da história ou perder de vista o tom infantil da trama - e ainda é fascinante para qualquer tipo de audiência. Uma vitória.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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