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VOO UNITED 93

VOO UNITED 93 (United 93, 2006, Universal Pictures/StudioCanal, 111min) Direção e roteiro: Paul Greengrass. Fotografia: Barry Ayckroyd. Montagem: Clare Douglas, Richard Pearson, Christopher Rouse. Música: John Powell. Figurino: Dinah Collin. Direção de arte/cenários: Dominic Watkins/Michael Standish. Produção executiva: Liza Chasin, Debra Hayward, Bruce Toll. Produção: Tim Bevan, Eric Fellner, Paul Greengrass. Elenco: J.J. Johnson, Gary Commock, Polly Adams, Opal Alladin. Estreia: 28/4/06

2 indicações ao Oscar: Diretor (Paul Greengrass), Montagem

Uma das datas mais infames da história do mundo, o dia 11 de setembro de 2001 transformou o que o cinema comercial fazia com frequência em uma dura realidade: diante dos olhos de milhares de espectadores, os EUA eram atacados de forma brutal e chocante, sem chance de defesa. O ataque aos prédios do World Trade Center, em Nova York - as famosas torres gêmeas - tornou-se, de cara, em uma derrota do poderio norte-americano, e não demorou muito para que uma pergunta surgisse na mente de todos: quanto tempo demoraria até que tal desgraça servisse de matéria-prima à Hollywood? A resposta não demorou a vir: Michael Moore a utilizou como pontapé inicial para seu extraordinário documentário "Fahrenheit onze de setembro" - em que esculhambou o presidente George W. Bush de tal forma que foi um milagre (ou mais uma manipulação) ele ter sido reeleito - que estreou no Festival de Cannes de 2004 (menos de três anos depois do fato). Foi somente em 2006, no entanto, que os grandes estúdios deram sua contribuição à filmografia sobre o tema: da Warner surgiu o paquidérmico (e sonolento) "Torres gêmeas", de Oliver Stone, e da Universal chegou às telas o tenso (e energético) "Voo United 93", de Paul Greengrass. Com diferentes pontos de vista - o filme estrelado por Nicolas Cage retratava a busca por sobreviventes nos escombros dos prédios destruídos e o semi-documentário de Greengrass narrava os acontecimentos de dentro de um dos aviões sequestrados - os dois filmes acabaram por, juntos, estabelecer um panorama bastante abrangente sobre um dos maiores traumas do povo americano.

Cineasta detalhista e seguro, Greengrass imprime, a cada momento de seu filme, um tom de urgência e tensão tão palpável que não é de admirar que tenha sido indicado ao Oscar de melhor diretor - a produção também foi finalista ao prêmio de melhor edição, o que destaca uma de suas maiores qualidades: a competência em criar um clima de desespero, claustrofobia e impotência sem que para isso seja necessário muito mais do que um roteiro bem estruturado e um exato senso de ritmo e cadência. Para tornar as coisas ainda mais realistas, Greengrass - também famoso pelos dois últimos capítulos da trilogia Bourne - utilizou, entre seus atores, pessoas que realmente participaram ativamente dos fatos, tanto em salas de comando aéreo quanto em posições menos nobres (mas que certamente viveram momentos que jamais esquecerão). Além disso, contou também com a colaboração dos familiares das vítimas, que lhe municiaram com detalhes a respeito de seus gostos pessoais, leituras e músicas - particularidades que podem nem ser percebidas pela audiência, mas que dão ao filme uma sensação de realismo quase documental. Somados à tensão da meia-hora final, esses cuidados fazem de "Voo United 93" uma experiência bem mais satisfatória - emocional e cinematograficamente falando - do que o ambicioso projeto de Stone.


O título do filme refere-se ao voo da United Airlines que, saindo de Newark (Pensilvânia) em direção à São Francisco, tornou-se parte integrante do mais violento ataque terrorista da história. Com 40 passageiros a bordo - mais a tripulação - o voo foi sequestrado por quatro árabes que tinham por objetivo juntar-se a outras três aeronaves em sua missão de atacar prédios importantes dos EUA - além dos dois que bateram nas torres do WTC, outro avião chocou-se também com parte do Pentágono, sede da defesa americana. Atrasada em meia-hora por problemas no embarque, a viagem acabou por ser a única a conseguir ter acompanhamento por parte do controle de tráfego aéreo, que acompanhou seu desenlace inusitado: chocados com o fato de estarem a ponto de morrer tragicamente, os passageiros iniciam uma reação contra ele. Além das dolorosas despedidas aos entes queridos via telefone, um grupo toma a iniciativa de contra-atacar e impedir uma desgraça maior. Sabendo que os terroristas estão armados com uma bomba e facas, eles resolvem também apelar para a violência, mesmo sem ter ideia dos resultados de tal decisão.

Não é preciso ser um especialista em cinema para afirmar que, a despeito de sua primeira metade permeada por um senso de tensão quase palpável, é em sua segunda parte que "Voo United 93" realmente mostra a que veio. Quando o sequestro do avião é finalmente confirmado pelos passageiros, pela tripulação e pelos atônitos comandos terrestres e tem início a sua inesperada reação - único momento em que o roteirista/diretor tomou certas liberdades, pelo motivo de não ter relatos de primeira mão do que aconteceu - o público é brindado com sequências das mais tensas já mostradas pelo cinema hollywoodiano (e que, infelizmente, não precisaram sair da criatividade de nenhum roteirista mais alucinado). Mesmo que se saiba o desfecho da história, é impossível ficar indiferente ao desespero e ao drama de pessoas que, inconformadas com seu trágico final, resolvem tomar seu destino nas próprias mãos. É triste, é inexplicável e é brutal. Como experiência sensorial é um baque. Como cinema, é inesquecível.

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