CAPÍTULO 27 (Chapter 27, 2007, Peace Arch Entertainment Group, 84min) Direção: J.P. Schaefer. Roteiro: J.P. Schaefer, livro "Let me take you down", de Jack Jones. Fotografia: Tom Richmond. Montagem: Andrew Hafitz, Jim Makiev. Música: Anthony Marinelli. Figurino: Ane Crabtree. Direção de arte/cenários: Kalina Ivanov/Amanda Carroll. Produção executiva: Gilbert Alloul, Rick Chad, John Flock, Gary Howsam, Jared Leto, Lewin Webb. Produção: Naomi Despres, Alexandra Milchan, Robert Salerno. Elenco: Jared Leto, Lindsay Lohan, Ursula Abbott, Brian O'Neill. Estreia: 25/01/07 (Festival de Sundance)
O mundo inteiro parou em prantos em 08 de dezembro de 1980, quando o ex-Beatle e ídolo de várias gerações John Lennon morreu assassinado a tiros em frente ao prédio que morava, em Nova York - o infame Dakota onde Roman Polanski filmou "O bebê de Rosemary" doze anos antes. Seu assassino, preso imediatamente, era um fã chamado Mark David Chapman, que alegou ter cometido o crime incentivado pela leitura do clássico americano "O apanhador no campo de centeio", de J.D. Salinger. Os três dias imediatamente anteriores ao homicídio, sob o ponto de vista de Chapman, é o tema de "Capítulo 27", filme de J.P. Schaefer baseado no livro "Let me take you down", publicado em 1992 e, apesar de sua estreia no Festival de Sundance e da atuação impressionante de Jared Leto no papel principal, passou praticamente em brancas nuvens junto ao público e à crítica. Leto, um dos produtores executivos do filme, chegou a engordar 30 quilos para dar vida ao torturado Chapman, mas, apesar de seu esforço, não chamou tanta atenção quanto deveria dos membros da Academia - que quase uma década mais tarde, reconheceriam sua dedicação no caminho contrário, ao emagrecer assustadoramente para viver um travesti em "Clube de Compras Dallas", que finalmente lhe rendeu um Oscar.
Enxuto e claustrofóbico, "Capítulo 27" começa com a chegada de Chapman em Nova York, vindo alegadamente do Havaí, onde mora sua mãe. Hospedado em um hotel de quinta categoria - e dividindo espaço com prostitutas, traficantes e homossexuais - ele passa a frequentar com assiduidade a calçada em frente ao prédio onde vive Lennon, Yoko Ono e seu filho pequeno, Sean, com quem ele tem um encontro fortuito em um passeio pelo Central Park ao lado de outra fã dedicada, Jude (Lindsay Lohan). Introvertido e um tanto assustador com seus modos e lapsos de agressividade, ele tenta, sem muito sucesso, fazer amizade com os porteiros do prédio e com as pessoas que rodeiam o cantor, com o objetivo de conseguir com ele um autógrafo na capa de seu disco mais recente, "Double Fantasy". Enquanto discute com os outros fãs assuntos diversos - como a coincidência que envolve o fato de Polanski ter dirigido um filme sobre cultos satânicos no mesmo prédio onde mora o autor da canção "Helter skelter", que o psicótico Charles Manson usou como inspiração para a chacina que vitimou a mulher do diretor, a atriz Sharon Tate - Chapman também não consegue se livrar das palavras do livro de Salinger, com cujo protagonista Holden Caufield ele se identifica às raias da obsessão. Suas intenções - que ficam claras desde as primeiras cenas - é matar Lennon, escrevendo o capítulo final do livro, o de número 27.
Não é difícil entender porque a recepção tão fria ao filme de Schaefer: com um roteiro frágil, sustentado apenas pelos pensamentos doentios e muitas vezes desconexos de seu protagonista, a produção esbarra inevitavelmente no problema de contar uma história cujo final todos conhecem sem acrescentar a ela nenhum dado relevante ou interessante o bastante para sustentar um filme inteiro. Jared Leto está fascinante no papel, conseguindo impressionar com uma interpretação que ultrapassa a simples transformação física para mostrar, através do olhar e da maneira como se movimenta em cena, um turbilhão interno dos mais aterrorizantes: não é à toa que ele engole tudo à sua volta sempre que está em cena, em um tour de force que antecipava em vários anos o quão alto ele poderia subir em termos dramáticos. Seu trabalho é tão avassalador que até mesmo a normalmente carismática Lindsay Lohan fica quase desaparecida em cena, em um papel pequeno que muitas vezes soa apenas como um alívio de normalidade diante dos distúrbios de Chapman.
"Capítulo 27" não é um grande filme, muito pelo contrário: apesar de curto, muitas vezes parece aborrecido e desnecessariamente metido a tentar compreender os meandros psicológicos de seu protagonista. Mesmo assim, vale a pena ser conhecido, já que a atuação de Jared Leto é uma das mais interessantes de seu tempo - e ter como pano de fundo a morte de Lennon, um ídolo extremamente relevante e eterno para a música pop, é um bônus para todos aqueles que tentam entender o que aconteceu naquela fatídica noite de dezembro quando o sonho realmente acabou. Vale uma espiada.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
quinta-feira
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