K-PAX,
O CAMINHO DA LUZ (K-Pax, 2001, Intermedia Films/Lawrence Gordon
Productions, 120min) Direção: Ian Softley. Roteiro: Charles Leavitt,
romance de Gene Brewer. Fotografia: John Mathieson. Montagem: Craig
McKay. Música: Edward Shearmur. Figurino: Louise Mingenbach. Direção de
arte/cenários: John Beard/Cheryl Carasik. Produção executiva: Susan G.
Pollock. Produção: Robert F. Colesberry, Lawrence Gordon, Lloyd Levin.
Elenco: Kevin Spacey, Jeff Bridges, Mary McCormack, Alfre Woodard, Celia
Weston. Estreia: 22/10/01
Em 1984, Jeff Bridges
arrebatou uma indicação ao Oscar de melhor ator por seu desempenho em
"Starman, o homem das estrelas", onde interpretava um alienígena que
chegava à Terra e confundia cientistas e o coração da jovem Karen Allen.
Quase vinte anos depois, Bridges mudou de lado: em "K-Pax, o caminho da
luz", ele vive um médico psiquiátrico que se vê diante de um novo
desafio na carreira quando um homem encontrado vagando pela estação
central de trens de Nova York alega ser um extraterrestre cuja visita ao
planeta está chegando ao fim. Dirigido pelo inglês Ian Softley - o
mesmo de "Backbeat, os cinco rapazes de Liverpool", que contava os
primórdios dos Beatles na Alemanha - o filme baseado no romance Gene
Brewer é uma mistura bem equilibrada entre drama e ficção científica que
conquista o público tanto pela história intrigante quanto pelo duelo de
atuações entre Bridges e Kevin Spacey - mais uma vez brilhante na pele
do misterioso Prot.
De posse de um inseparável par de
óculos escuros, Prot é encontrado perdido e transferido para o Instituto
Psiquiátrico de Manhattan, onde acaba por cair nas mãos do competente
Mark Powell (Bridges), um médico dedicado à profissão e à família -
ainda que não tenha a melhor das relações com o filho universitário, a
quem não vê há algum tempo. Alegando ser um habitante de um planeta
chamado K-Pax, Prot é posto à prova por uma equipe de astrofísicos que
ficam abismados com seu conhecimento a respeito das inúmeras e
complicadas questões levantadas por eles. Tranquilo e sereno, Prot
afirma viajar entre os planetas através de raios de luz e que tem data
específica para voltar para casa - e, mais preocupante ainda, insiste
que pode levar consigo um dos pacientes da clínica, o que acaba por
gerar uma crise entre eles, todos querendo abandonar a Terra em direção a
um lugar menos sofrido. Sem acreditar nas histórias contadas por Prot, o
médico resolve hipnotizá-lo e, a partir daí, inicia uma investigação
detalhada para tentar descobrir os motivos que podem ser os responsáveis
por seu bizarro comportamento.
Sem
pressa de contar sua história e estabelecendo com calma as relações
entre seus personagens, Softley conduz o espectador com cuidado pelos
corredores do hospital psiquiátrico, pela casa de Powell e pela mente
complexa de Prot sem perder-se nos meandros do roteiro inteligente de
Charles Leavitt, que privilegia o drama em detrimento das implicações
científicas da trama. Mantendo a dúvida sobre a real identidade de Prot
até os segundos finais - e mesmo assim dando margem a diferentes
interpretações - o roteiro brinda a plateia com diálogos sensíveis, que
questionam os conceitos de família, normalidade, felicidade e
interrelações sem soar didático ou condescendente. A escalação certeira
de Jeff Bridges e Kevin Spacey - dois dos maiores atores americanos de
sua geração - ajuda muito em transformar uma premissa que poderia
parecer inverossímil em um instigante quebra-cabeças capaz até mesmo de
emocionar aos mais sensíveis.
Mesmo sem ser um filme
inesquecível - nos EUA passou praticamente em branco nas bilheterias,
mal conseguindo pagar seu custo - e sendo muitas vezes ignorado quando
se fala nas carreiras de Bridges e Spacey (ambos vencedores do Oscar e
respeitadíssimos em todo o planeta), "K-Pax, o caminho da luz" é um
trabalho sensível que borra com inteligência as fronteiras entre o drama
e a ficção científica sem ofender a nenhum dos gêneros e seduz a
audiência sem apelar para efeitos visuais mirabolantes ou violência
gratuita. É simples, é honesto e é uma experiência gratificante. Merecia
melhor sorte!
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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