O GRANDE GATSBY (The Great Gatsby, 2013, Warner Bros/Village Roadshow Pictures, 143min) Direção: Baz Luhrmann. Roteiro: Baz Luhrmann, Craig Pearce, romance de F. Scott Fitzgerald. Fotografia: Simon Duggan. Montagem: Jason Ballantine, Jonathan Redmond, Matt Villa. Música: Craig Armstrong. Figurino: Catherine Martin. Direção de arte/cenários: Catherine Martin/Beverley Dunn, Eva Starlite. Produção executiva: Bruce Berman, Shawn "Jay Z" Carter, Barrie M. Osborne. Produção: Lucy Fisher, Catherine Knapman, Baz Luhrmann, Catherine Martin, Douglas Wick. Elenco: Leonardo DiCaprio, Carey Mulligan, Tobey Maguire, Joel Edgerton, Isla Fischer, Jason Clarke. Estreia: 01/5/13
Vencedor de 2 Oscar: Figurino, Direção de Arte/Cenários
Quem conhece o cinema do australiano Baz Luhrmann sabe exatamente o que
esperar de sua adaptação do clássico americano "O grande Gatsby", de F.
Scott Fitzgerald. Deixando de lado a suntuosidade discreta e fleumática
da versão de Jack Clayton, lançada em 1974 e estrelada por Robert
Redford e Mia Farrow - e vencedora do Oscar de figurino - o homem que
deu ao mundo obras que são um louvor incontestável ao kitsch, como "Vem
dançar comigo" e "Moulin Rouge, o amor em vermelho", reitera suas convicções estéticas ao
compor uma sinfonia de cores e opulência que, ao contrário do que se
poderia esperar, casa perfeitamente com a história do romance de
Fitzgerald. Se o filme de Clayton é considerado quase unanimemente chato
pela crítica e pelo público por seguir fielmente o livro, a obra de
Luhrmann irradia luz, calor e paixão na medida certa - ainda que, como
sempre acontece com seus trabalhos, carregue nas tintas em seu começo,
para somente depois envolver a plateia na história.
Tendo em vista seu currículo - onde o luxo e a efervescência cultural
são ingredientes indispensáveis - é quase impossível pensar em outro
diretor mais capaz do que Luhrmann de traduzir em imagens as palavras
clássicas do homem que é também o criador do inesquecível Benjamin
Button. Fotografada com precisão pelo neozelandês Simon Duggan, a
recriação da Long Island dos anos 20 é perfeita em sua concepção: a
ideia do diretor e de seus fieis colaboradores (entre eles a sua mulher,
Catherine Martin, responsável pelo desenho de produção e pelos
figurinos, ambos premiados com o Oscar) não é ser fiel à realidade, e sim, às memórias de quem narra a
estória, no caso, o escritor Nick Carraway (vivido com a habitual falta
de entusiasmo por Tobey Maguire). Com sua visão de literato, Carraway
não deixa de misturar ao real uma pitada bastante grande de poesia e
ludicidade. Os olhos da audiência são os olhos de Carraway, e essa
liberdade de ponto de vista é que transforma "O grande Gatbsy" via
Luhrmann em, mais do que uma história de amor, um espetáculo de forma,
cor e o sempre bem-vindo anacronismo musical que faz a delícia de seus
fãs.
Se em "Moulin Rouge" o cineasta contou uma história passada no final do
século XIX utilizando como trilha sonora nomes tão aparentemente
incongruentes como Madonna, Nirvana, Paul McCartney e David Bowie, dessa
vez ele conta com Beyoncé, Lana Del Rey e Florence Welch como moldura
para suas insanidades visuais. Porém, aqui a música não é o prato
principal, e sim um acompanhamento de luxo a uma trama de amor
desesperado, contada com a sensibilidade e o ritmo do século XXI. Para
tal, Luhrmann volta a contar com Leonardo DiCaprio, a quem ajudou a
transformar em ídolo adolescente em 1996, com sua versão psicodélica de
"Romeu e Julieta". DiCaprio - ainda tentando livrar-se da eterna imagem
juvenil - vive o personagem-título, Jay Gatsby, um milionário conhecido
por oferecer festas gigantescas em sua mansão em Long Island e que
desperta a curiosidade de seu jovem vizinho, um aspirante a escritor que
se vê envolvido no mundo alucinante e festivo dos anos 20. Não demora
muito, porém, para que as razões que levam Gatsby a ser o anfitrião
mais conhecido das redondezas sejam conhecidas: apaixonado por uma
antiga namorada, ele vê nessa vida de pompa e circunstância a
oportunidade de reencontrá-la. O escritor não demora também a descobrir
que tal namorada é sua prima, a bela Daisy Buchanam (Carey Mulligan),
casada com o infiel e pouco dado a delicadezas Tom (Joel Edgerton). O
triângulo amoroso, potencializado pelo caráter violento de Tom e pela
impossibilidade de Daisy em abdicar de sua vida familiar, acaba banhando
o belo litoral em sangue e lágrimas (sempre iluminados com um capricho
arrebatador, dessa vez filmado em 3D).
Se Leonardo DiCaprio não consegue fazer de seu Jay Gatsby uma figura
potente e carismática a ponto de justificar o título do filme - chegando
a ser irritante em alguns importantes momentos - e Tobey Maguire nunca
ultrapassa o seu nível tradicional de interpretação, é inegável que Baz
Luhrmann tem em mãos dois trunfos absolutos em termos dramáticos: Carey
Mulligan e Joel Edgerton. O ator - que esteve em filmes elogiados como
"Reino animal" e "Guerreiro", mas ainda não teve o devido reconhecimento
- encontra o tom perfeito para seu Buchanan, roubando todas as cenas em
que aparece. E Mulligan - que dispensa maiores comentários - cria uma
Daisy etérea, delicada e frágil na medida certa, valorizada pelo
figurino impecável e por seu talento imenso. Se o visual acachapante
criado por Luhrmann é o corpo de "O grande Gatsby", Carey é sua alma, mesmo tendo em suas mãos uma personagem nem sempre amável ou de atitudes compreensíveis. O olhar de Mulligan, expressivo e melancólico, é a tradução perfeita da ressaca que veio depois dos esfuziantes anos 20 retratados por Fitzgerald. Um acerto gigantesco na escolha do elenco e que faz do filme um programa obrigatório.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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Um comentário:
Interessante texto e bela análise. Conheci agora o seu blog, por isso adicionei à minha blogroll. Espero que faça o mesmo, ficaria grata.
Bons filmes,
www.cinemaschallenge.com
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