Lasse Hallstrom - o cineasta sueco que conquistou Hollywood com seu lírico "Minha vida de cachorro", pelo qual concorreu ao Oscar de melhor direção em 1988 - não é nenhum novato quando se trata de comandar filmes cuja gastronomia tem papel preponderante. Em 2000, ele dirigiu Juliette Binoche e Johnny Depp em "Chocolate", que, a despeito de ser apenas razoável abocanhou uma indicação ao Oscar de melhor filme, graças à máquina de marketing da Miramax. Passando por um período de pouca criatividade, assinando filmes fracos como "Querido John" e "Um porto seguro", ambos baseados em romances de Nicholas Sparks, Hallstrom voltou a acertar a mão justamente em uma produção que se utiliza da paixão pela comida como ingrediente central. Produzido por Steven Spielberg e Oprah Winfrey, "A 100 passos de um sonho" arrecadou mais de 50 milhões de dólares nos EUA - contra um orçamento modesto de pouco mais de 20 milhões - e ainda rendeu à Helen Mirren uma inesperada indicação ao Golden Globe de melhor atriz em comédia/musical. Nada mais justo. Apesar de ser despretensioso e simples, o filme é uma deliciosa trama romântica e bem-humorada, que se aproveita do embate cultural entre franceses e indianos para construir uma delicada história de amor e fraternidade, ilustrada com momentos de puro tesão gastronômico.
Apesar do nome de Mirren encabeçar os créditos do filme, o verdadeiro protagonista de "A 100 passos de um sonho" é o jovem indiano Hassan Kadam (Manish Dayal), que chega a um vilarejo da França acompanhado do pai (Om Puri) e dos irmãos, disposto a recomeçar a vida depois da morte da mãe e dos problemas políticos locais que destruíram o restaurante da família. Depois de alugar um prédio que já havia abrigado outros estabelecimentos semelhantes, porém, o clã dos Kadam descobre o motivo pelo qual nada dá certo no lugar: exatamente em frente - a contados cem passos - fica o tradicional e respeitadíssimo restaurante "Le Saule Pleurer", comandado com mão de ferro pela dedicada Madame Mallory (Helen Mirren), que tem como objetivo máximo e urgente conseguir uma segunda estrela dos Guias Michelin - o que o colocaria em lugar de destaque na culinária mundial. Sentindo-se ameaçada pela presença dos estrangeiros, a elegante viúva começa, então, um jogo sujo de trapaças que acaba por aproximá-la ainda mais dos rivais. Enquanto isso, Hassan não consegue esconder a paixão que sente por Marguerite (Charlotte De Bon), uma funcionária de Madame Mallory.
Simpático e sem firulas, "A 100 passos de um sonho" é um filme que conquista pela despretensão. Sem apelar para efeitos visuais ou malabarismos narrativos, é uma obra que cativa aos poucos, graças a personagens desenvolvidos com um mínimo de inteligência e sutileza e uma história que mistura, em doses exatas, romance, drama, comédia e um pouquinho de crítica social. Impossível não se deixar envolver, apesar da duração um tanto excessiva - uns quinze minutos a menos e seria ainda melhor. Ainda assim, é uma bela opção para uma sessão descompromissada para os cinéfilos que valorizam uma boa história e um bom elenco - e Helen Mirren sempre vale uma espiada.
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