ESCOBAR: PARAÍSO PERDIDO (Escobar: Paradise Lost, 2014, Chapter 2/Jaguar Films/Nexus Factory, 120min) Direção: Andrea Di Stefano. Roteiro: Andrea Di Stefano, adaptação de Andrea Di Stefano, Francesca Marciano. Fotografia: Luis David Sansans. Montagem: David Brenner, Maryline Monthieux. Música: Max Richter. Figurino: Marilyn Fitoussi. Direção de arte/cenários: Carlos Conti/Camila Arocha. Produção executiva: Benicio Del Toro, Josh Hutcherson, Luis Pacheco. Produção: Dimitri Rassam. Elenco: Benicio Del Toro, Josh Hutcherson, Brady Corbet, Claudia Traisac, Ana Girardot, Carlos Bardem. Estreia: 06/9/14 (Festival de Toronto)
O colombiano Pablo Escobar é um dos personagens mais fascinantes da história moderna. Não à toa, é o protagonista da série de TV "Narcos" - onde é interpretado pelo brasileiro Wagner Moura - e dá título à estreia de Andrea Di Stefano (ator que fez o papel do padre que quase enlouquecia com os questionamentos do protagonista de "As aventuras de Pi") como cineasta. Na pele de Benicio Del Toro - que assina o filme como produtor executivo, assim como seu colega de elenco Josh Hutcherson - o traficante de drogas mais famoso do mundo nem é o protagonista de "Escobar: paraíso perdido", mas sua onipresença (temida e ao mesmo admirada por boa parte de seus conterrâneos) é que norteia e dá o tom de suspense de uma produção que merecia ter tido uma acolhida mais generosa por parte da plateia e da crítica. Mesmo não sendo uma história verídica - os elementos reais estão misturados a uma trama fictícia criada pelo diretor e por Francesca Mariano - é um filme de prender o espectador na cadeira até os minutos finais, graças a um roteiro esperto, uma direção eficiente e um elenco surpreendente, liderado pelo jovem Josh Hutcherson, que segura praticamente sozinho os dois terços finais da narrativa com uma força de veterano.
Hutcherson - que ainda na infância estrelou o singelo "ABC do amor" e depois virou astro ao lado de Jennifer Lawrence na série "Jogos vorazes" - interpreta o canadense Nick, que chega à Colômbia no final dos anos 80 acompanhado do irmão, Dylan (Brady Corbet), para realizar o sonho de viver perto da natureza e do surf. Logo que chega ao país, ele conhece a bela Maria (Claudia Traisac), com quem inicia um apaixonado relacionamento. Não demora muito para que ele seja apresentado, então, ao tio dela, o político local Pablo Escobar (Benicio Del Toro), adorado pela população mais humilde graças a seus esforços em melhorar-lhes as condições de vida. Sabendo do carinho de Maria pelo tio, Nick acaba por fechar os olhos para o fato do dinheiro da família vir do tráfico de cocaína - e até para a chocante evidência de que Escobar é capaz de matar seus desafetos sem piscar os olhos. Algum tempo depois, quando a polícia descobre a origem da renda de Escobar e ele entra em guerra com o governo do país, Nick resolve ir embora junto com Maria, o irmão e a cunhada, mas um pedido do tio o obriga a mudar seus planos.
Em um esperto flashback que anuncia ao espectador que o paraíso de Nick em terras comandadas por Escobar tem os dias contados, o filme de Di Stefano começa realmente depois de mais de uma hora de projeção - o que não quer dizer que antes disso não seja interessante, muito pelo contrário, já que estabelece com competência todas as regras para seu terço final. É somente depois que Nick se vê obrigado a acatar as ordens do traficante (e elas não são nada agradáveis, como se poderia prever) que "Escobar: paraíso perdido" mostra realmente a que veio. Sem apelar para a violência explícita, o cineasta mergulha o espectador em um pesadelo de tensão e suspense capaz de deixar qualquer um sem fôlego. Escorado basicamente na atuação do jovem Hutcherson - que se mostra à altura do desafio - Di Stefano constroi uma narrativa sufocante e imprevisível, que vai crescendo até atingir um grau de emoção que não deixa de ser inesperada no filme de um diretor estreante. Não é um filme impecável, mas para uma primeira tentativa não deixa de ser muito admirável.
E quanto a Benicio Del Toro não é preciso falar muito. Um dos atores mais talentosos de sua geração, Del Toro comanda a ação mesmo quando não fala nada, com seu olhar amedrontador e seu vozeirão. Pablo Escobar aparece pouco, se comparado com o real protagonista, o jovem Nick, mas não é preciso muito tempo de tela para que o espectador saiba exatamente o perigo que seu personagem representa, a força que ele tem e o poder que ele emana. Coisas que só grandes atores conseguem fazer. E é impossível assistir-se à "Escobar: paraíso perdido" sem tremer sempre que Benicio entra em cena - e até mesmo quando sai dela. Uma excelente pedida.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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