O PREDESTINADO (Predestination, 2014, Screen Australia/Screen
Queensland, 97min) Direção: The Spierig Brothers (Michael e Peter).
Roteiro: The Spierig Brothers, estória de Robert A. Heinlein.
Fotografia: Ben Nott. Montagem: Matt Villa. Música: Peter Spierig.
Figurino: Wendy Cork. Direção de arte/cenários: Matthew Putland/Vanessa
Cerne. Produção executiva: Michael Burton, Gary Hamilton, Matt Kennedy,
James M. Vernon. Produção: Paddy McDonald, Tim McGahan, Michael Spierig,
Peter Spierig. Elenco: Ethan Hawke, Sarah Snook, Noah Taylor,
Christopher Kirby, Christopher Sommers, Cate Wolfe. Estreia: 08/3/14
(South by Southwest Festival)
Em 1999, dois irmãos pegaram o mundo da ficção científica de surpresa com um dos filmes mais impactantes e criativos do gênero em muitos anos. Eram Larry e Andy Wachowski, e seu filho, "Matrix", fascinou crítica e público, além de abiscoitar quatro Oscar - efeitos especiais, montagem, som e efeitos sonoros - e dar origem a uma trilogia que ainda hoje influencia muitos cineastas. Quinze anos mais tarde, outra dupla de irmãos - Michael e Peter Spierig - abdicou das pirotecnias visuais e, de posse de um conto do mestre Robert A. Heinlen (autor do clássico "Duna"), assinou um dos mais interessantes exemplares do gênero a surgir nas telas em muito tempo. Injustamente ignorado pela plateia, "O predestinado" pode e deve ser descoberto no mercado de dvd/bluray: sem apelar para orçamentos milionários e apostando basicamente na força de sua história, o filme é simplesmente sensacional em sua complexidade e fatalismo, e apresenta ao público uma atriz a se prestar atenção, a ótima Sarah Snook.
O protagonista da intrincada história é Ethan Hawke, excelente na pele de um agente policial, parte de um grupo de elite a quem são permitidas viagens no tempo para impedir crimes e prender seus autores - uma trama que lembra "Minority report, a nova lei", que Steven Spielberg dirigiu baseado em conto do mesmo Philip K. Dick de "Blade Runner, o caçador de andróides". Na caça por um terrorista chamado pelas autoridades de "Detonador sussurrante", que irá provocar a morte de dez mil civis na explosão de uma bomba em Nova York no ano de 1975, o rapaz se disfarça de barman e trava conhecimento com um misterioso cliente que, depois de beber um pouco demais, lhe conta sua trágica e inacreditável história, que envolve treinamentos para o Programa Espacial americano, bebês sequestrados e intervenções cirúrgicas radicais. Sabendo que há alguém responsável pelas desventuras de seu novo amigo, o agente lhe propõe que viaje com ele ao passado para acertar suas contas.
O ideal é que se saiba o mínimo possível sobre a trama de "O predestinado" para que mais o filme dos irmãos Spierig surpreenda o espectador com suas imprevisíveis reviravoltas, mas mesmo em uma segunda sessão é fascinante perceber o cuidado dos cineastas em dar pistas sobre o desfecho da história sem explicitar nada - algo que M. Night Shyamalan fez com maestria com seu "O sexto sentido". Com uma bela fotografia em tom amarelado de Ben Nott emoldurando uma narrativa rocambolesca e repleta de níveis, a produção oferece à plateia mais do que simplesmente um jogo de gato e rato entre o agente que busca um criminoso desconhecido: versando sobre assuntos importantes como o livre arbítrio e a força do destino, o filme dá um nó na cabeça da audiência sem nunca apressar seu ritmo, que destoa da velocidade tradicional dos filmes de sua geração. O roteiro não tem pressa em resolver tudo que propõe, enfatizando mais o suspense do que a ficção científica - ainda que seja inegável que seu núcleo seja nitidamente da tradição dos grandes escritores do gênero.
E além da qualidade do texto e da direção inspirada, outro elemento faz de "O predestinado" um filme a ser cultuado: a atuação brilhante de Sarah Snook. Na pele da tímida Jane, que descobre ainda na juventude seu imenso talento em fugir das convenções e o utiliza para superar as humilhações e tristezas que cruzam seu caminho, Snook dá conta de um dos personagens mais complexos e inusitados do cinema dos últimos anos. Injustamente ignorada pelas cerimônias de premiação, ela rouba a cena com uma transformação física e emocional das mais corajosas já vistas nas telas. Em um duelo de interpretação com Ethan Hawke ela acaba saindo-se vitoriosa mesmo diante da vasta experiência do colega. Ela é, sem dúvida, o corpo e a alma de um dos filmes mais subestimados da temporada 2014. Imperdível!
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
sábado
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