FOXCATCHER: UMA HISTÓRIA QUE CHOCOU O MUNDO (Foxcatcher, 2014,
Annapurna Pictures/Media Rights Capital, 134min) Direção: Bennet Miller.
Roteiro: Dan Futterman, E. Max Frye. Fotografia: Greig Fraser.
Montagem: Jay Cassidy, Stuart Levy, Conor O'Neil. Música: Ron Simonsen.
Figurino: Kasia Walicka-Maimone. Direção de arte/cenários: Jess
Gonchor/Kathy Lucas. Produção executiva: Mark Bakshi, Chelsea Barnard,
Michael Coleman, John P. Giura, Tom Heller, Ron Schmidt. Produção:
Anthony Bregman, Megan Ellison, Jon Kilik, Bennett Miller. Elenco: Steve
Carrell, Mark Ruffalo, Channing Tatum, Vanessa Redgrave, Siena Miller,
Anthony Michael Hall. Estreia: 19/5/14 (Festival de Cannes)
5
indicações ao Oscar: Diretor (Bennett Miller), Ator (Steve Carrell),
Ator Coadjuvante (Mark Ruffalo), Roteiro Original, Maquiagem
Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes (Bennett Miller)
Se existe um caminho para conquistar o coração dos eleitores da
Academia, esse caminho deve ser do conhecimento do diretor Bennett
Miller. Desde que lançou seu primeiro longa - a cinebiografia "Capote",
que contava com a brilhante atuação de Philip Seymour Hoffman como o
famoso autor de "À sangue frio" - o cineasta nova-iorquino viu seus três
filmes conquistarem importantes indicações ao Oscar: o primeiro e "O
homem que mudou o jogo" - estrelado por Brad Pitt e Jonah Hill -
chegaram mesmo a concorrer à estatueta de melhor filme, apesar da
qualidade apenas razoável do segundo. Seu novo trabalho (e novamente uma
história verdadeira) é "Foxcatcher, uma história que chocou o mundo",
que, apesar de não ter alcançado a glória de ser indicado na categoria
de de melhor filme, chegou ao páreo de direção, ator (um irreconhecível
Steve Carrell), ator coadjuvante (Mark Ruffalo) e roteiro original. Tido
como um dos favoritos às estatuetas desde que estreou no Festival de
Cannes, em maio passado, o filme foi aos poucos perdendo fôlego e, se
conseguiu atravessar a cobiçada linha que separa as especulações da
realidade é porque conta com um invejável conjunto de atores, todos eles
em momento de grande inspiração: no cômputo geral, "Foxcacther" está
muito longe de ser o filme memorável que poderia ser.
O subtítulo nacional - "Uma história que chocou o mundo" - já é um exagero
desproporcional, uma vez que, antes da estreia mundial, pouca gente
sabia a respeito da tragédia que deu origem ao roteiro (ao menos fora
dos EUA, onde os personagens eram relativamente famosos), mas não é a
pior coisa do filme de Miller, que sofre de uma direção distante e
impessoal que lhe dá um equivocado tom de semi-documentário - uma opção
discutível que acaba por afastar o envolvimento emocional do espectador
com uma história já recheada de personagens ambíguos e frios. Mesmo que
em certos momentos crie algumas cenas de inegável impacto visual - que
acentuam o viés melancólico e denso da trama - o cineasta incorre no
erro de evitar qualquer mudança no ritmo quase letárgico de sua
narração, dando a todos os acontecimentos mostrados a mesma importância
dramática. O que poderia ser inteligente - ir montando aos poucos um
quebra-cabeças de peças aparentemente desconexas - acaba por se mostrar
apenas aborrecido quando se percebe, ao final, que todos aqueles
momentos silenciosos e repetitivos não ajudaram em nada a entender o
principal: o que levou o milionário John Du Pont a tomar a drástica
atitude que inspirou o subtítulo em português.
Não saber muito a respeito da trama ajuda a manter o clima de suspense
que, de certa forma, é um dos trunfos de "Foxcatcher" - mesmo que não se
conheça a história fica claro desde o princípio que algo pouco positivo
irá resultar da aproximação dos personagens, principalmente porque,
reconheçamos, a trilha sonora e a edição soturna dão dicas a esse
respeito. Tudo começa quando o jovem Mark Schultz (Channing Tatum),
lutador olímpico que vive de treinos e palestras motivacionais a
estudantes enfadados, é convidado a visitar a mansão do milionário John
Du Pont (Steve Carrell sem o menor tique cômico), que vive isolado em
uma gigantesca propriedade e tem como sonho criar uma vitoriosa equipe
norte-americana de lutadores. Ele mesmo um treinador e lutador
diletante, Du Pont convence o jovem a juntar-se a outros atletas,
dando-lhe um lugar para morar, comida, boas condições de treino e um
pagamento generoso. A única pedra em seu caminho é Dave (Mark Ruffalo),
irmão mais velho e antigo técnico de Mark, com quem mantém uma forte
relação de carinho familiar. A união entre os dois passa a despertar um
misto de inveja e admiração no multi-milionário - que não tem o melhor
dos relacionamentos com a mãe (Vanessa Redgrave) e leva uma vida
solitária - que resolve, então, chamar Dave para juntar-se a eles em seu
projeto.
Contando sua história sem pressa e muitas vezes abusando da paciência do
público, Bennett Miller tem como maior trunfo sua trinca de atores
centrais. Enquanto Mark Ruffalo já é reconhecido por seu talento
dramático graças a uma série de bons filmes - que incluem a comédia
dramática "Minhas mães e meu pai", que lhe deram sua primeira indicação
ao Oscar, em 2011 - a plateia é pega de surpresa principalmente pelo
trabalho de Steve Carrell e Channing Tatum. Tatum, mais conhecido por
exibir o físico privilegiado em dramas românticos como "Querido John" e
comédias bobas como "Anjos da lei", ainda não é um grande ator, mas seu
esforço em crescer artisticamente é visível na construção corporal de
seu personagem, que foge do estereótipo do galã sedutor com seu andar
pesado, seu olhar perdido e sua forma quase anestesiada de falar. E
Steve Carrell mereceu, com todo o louvor, sua indicação à estatueta de
melhor ator, apresentando um desenvolvimento exemplar de personagem:
mesmo que pouco se explique a respeito de sua natureza no roteiro, ele
consegue, através do olhar vazio e das expressões faciais destituídas de
qualquer emoção, arrepiar e emocionar na medida certa. Em nenhum
momento somos lembrados que, por trás da competente maquiagem e da voz
monocórdia, existe o genial ator cômico do seriado "The Office" e da
refilmagem de "Agente 86". Ponto para ele.
No fim das contas, "Foxcatcher" é um trabalho apenas ok de um diretor
que caiu inexplicavelmente nas graças da Academia - e dos jurados do Festival de Cannes, que lhe deram a Palma de Ouro da categoria. A intenção do
cineasta em retratar o mundo da luta como uma espécie de culto - um
mundo à parte, isolado e cheio de regras - cai no vazio diante de um
roteiro que deixa mais à imaginação do público do que deveria e o final
anti-climático perde a oportunidade de chocar ou surpreender para
parecer apenas mais um acontecimento banal como um treino ou uma corrida
matinal. Nem mesmo as possibilidades homoeróticas da história são
levantadas, tornando tudo apenas um exercício sonolento e quase
arrogante. Ainda bem que tem seus atores.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
JADE
JADE (Jade, 1995, Paramount Pictures, 95min) Direção: William Friedkin. Roteiro: Joe Eszterhas. Fotografia: Andrzej Bartkowiak. Montagem...
-
EVIL: RAÍZES DO MAL (Ondskan, 2003, Moviola Film, 113min) Direção: Mikael Hafstrom. Roteiro: Hans Gunnarsson, Mikael Hafstrom, Klas Osterg...
-
NÃO FALE O MAL (Speak no evil, 2022, Profile Pictures/OAK Motion Pictures/Det Danske Filminstitut, 97min) Direção: Christian Tafdrup. Roteir...
-
ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA (Presumed innocent, 1990, Warner Bros, 127min) Direção: Alan J. Pakula. Roteiro: Frank Pierson, Alan J. Paku...
Nenhum comentário:
Postar um comentário