FILADÉLFIA (Philadelphia, 1993, TriStar Pictures, 125min) Direção: Jonathan Demme. Roteiro: Ron Nyswaner. Fotografia: Tak Fujimoto. Montagem: Carig McKay. Música: Howard Shore. Figurino: Colleen Atwood. Direção de arte/cenários: Kristi Zea/Karen O'Hara. Produção executiva: Ron Bozman, Gary Goetzman, Kenneth Utt. Produção: Jonathan Demme, Edward Saxon. Elenco: Tom Hanks, Denzel Washington, Jason Robards, Mary Steenburgen, Antonio Banderas, Bradley Whitford, Joanne Woodward. Estreia: 23/12/93
5 indicações ao Oscar: Ator (Tom Hanks), Roteiro Original, Canção Original ("Streets of Philadelphia", "Philadelphia"), Maquiagem
Vencedor de 2 Oscar: Ator (Tom Hanks), Canção Original ("Streets of Philadelphia")
Vencedor do Urso de Ouro de Melhor Ator (Tom Hanks) no Festival de Berlim
Vencedor de 2 Golden Globes: Ator/Drama (Tom Hanks), Canção Original ("Streets of Philadelphia")
Em 1993, Tom Hanks ainda não era levado muito a sério como ator dramático. Ser o primeiro nome nos créditos de filmes como "Quero ser grande" e "A última festa de solteiro" não lhe ajudavam muito nesse sentido - ainda que tenha sido indicado ao Oscar pelo primeiro. Suas tentativas de provar que seu talento iam além de provocar risadas não tinham obtido muito sucesso, como bem prova a equivocada versão cinematográfica de "A fogueira das vaidades", dirigido por Brian De Palma. Por essa razão não deixou de ser uma enorme surpresa para o público que ele tenha sido o ator mais premiado do ano por seu papel em "Filadélfia". Na pele de um advogado soropositivo que vai aos tribunais contra seus ex-empregadores, o simpático protagonista de "Sintonia de amor" e "Splash, uma sereia em minha vida" deu a virada definitiva em sua carreira, entrando pela porta da frente no rol dos atores respeitados pela crítica e por seus pares.
Levemente inspirado em uma história real, "Filadélfia" é dirigido por Jonathan Demme, cineasta que havia arrumado sérios problemas com a comunidade gay com seu filme anterior, o multi-premiado "O silêncio dos inocentes" - vale lembrar que o serial killer do filme tinha a frustração de não ter conseguido uma operação de mudança de sexo... Inconscientemente ou não, aqui ele tenta remediar a situação, elegendo como protagonista um homossexual bem-sucedido, inteligente e de boa formação familiar. Mesmo que tenha soado um tanto assépticas, as escolhas de Demme ao retratar o modo de vida gay serviu, ao menos, para aproximar das salas de cinema uma parcela do público que provavelmente jamais se interessaria por um assunto não exatamente festivo. Espertamente, o roteiro de Ron Nyswaner - indicado ao Oscar - une dois sub-gêneros de filmes bastante populares entre as audiências; um drama de tribunal junto com um filme sobre doenças terminais. Golpe de mestre para cativar o público e abocanhar prêmios. Sorte de todo mundo que Demme é um diretor talentoso, que foge do melodrama barato.
Andrew Beckett (Tom Hanks se saindo muito bem em um papel difícil e que poderia facilmente escorregar para o kitsch) é um advogado competente que, logo depois de tornar-se sócio da firma de direito em que trabalha, é demitido por alegada negligência em um caso importante. Julgando-se vítima de preconceito - por ser homossexual e portador de AIDS - ele procura um colega de profissão, Joe Miller (Denzel Washington) e lhe pede que o represente no tribunal contra seus antigos patrões. A princípio recusando a causa - por ser assumidamente ignorante em relação aos gays, quase um homofóbico - Miller acaba aceitando processar a tradicional firma.
"Filadélfia", a bem da verdade, não dispensa o uso de vários clichês que assolam os filmes de seus estilos - tanto um quanto o outro. No tribunal, o desenrolar do julgamento é tão interessante quanto as cenas que revelam o lado mais humano dos protagonistas - é quase impossível segurar as lágrimas durante a belíssima sequência ao som de "La Mamma Morta", ária interpretadapor Maria Callas. Não apenas a entrega de Hanks à cena é admirável mas também seu desfecho, onde pela primeira vez Joe Miller demonstra a fragilidade que sempre escondera. Aliás, é seguro dizer que "Filadélfia" apresenta o melhor trabalho da carreira de Washington, antes que ele se tornasse uma cópia de si mesmo. A cena em que ele tem seu primeiro contato com um Beckett doente é um primor de sutileza - bem como a demissão de Andrew, em que ele fica à distância de seus empregadores temerosos de um contágio. A agressividade silenciosa dessa cena dá o tom exato da elegância imposta por Demme a seu trabalho.
Motivos para críticas à visão dos produtores não faltam, em "Filadélfia": o parceiro de Andrew, Miguel (Antonio Banderas) poderia ser taxado de mais uma estereotipagem dos latinos nos EUA; a aceitação incondicional de sua família à sua opção sexual e a resiliência da mesma durante o julgamento soa um tanto cor-de-rosa; e a relação entre os dois amantes é praticamente desprovida de calor. Mas é preciso que se leve em consideração que "Filadélfia" é antes de tudo o produto de um grande estúdio (a TriStar) e, mais do que veracidade absoluta, buscava lucro e precisava atingir um grande público. E fazer com que milhares de pessoas voltasse sua atenção para um dos maiores problemas de saúde da história - ainda que uma década atrasada - já faz com que ele mereça ser admirado.
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3 comentários:
Achei seu texto muito rico e muito parecido com a visão que tenho do filme Filadélfia.
Acho importante dizer que Tom Hanks só me agradou nessa produção e em Forrest Gump, não o levo a sério. Acho que ele tem talento. mas, não se arrisca em personagens "fortes". Ele nunca quer ser o vilão e eu entendo que o vilão é importante na carreira de um profissional.
Discordo quando você diz: "Aliás, é seguro diz: "Filadélfia" apresenta o melhor trabalho da carreira de Washington, antes que ele se tornasse uma cópia de si mesmo." Denzel Washington, na minha visão, continuou sendo um grande ator e sua atuação em "Dia de Treinamento" foi uma atuação espetacular, pelo menos eu achei.
Eu gostei muito da trilha sonora também. Virei fã de Bruce..kkk
Belo filme para ser analisado.
É um bom filme, que tem como pontos principais a atuação de Hanks, a direção de Jonathan Demme e o mérito de ter sido produzido numa época em que era necessário discutir o tema com o grande público, em virtude do acesso as informações ser bem menor que nos dias de hoje.
Abraço
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