TINA (What's love got to do with it, 1993, Touchstone Pictures, 118min) Direção: Brian Gibson. Roteiro: Kate Lanier, livro "I, Tina", de Tina Turner, Kurt Loder. Fotografia: Jamie Anderson. Montagem: Stuart Pappé. Música: Stanley Clarke. Figurino: Ruth Carter. Direção de arte/cenários: Stephen Altman/Rick Simpson. Casting: Reuben Cannon. Produção executiva: Roger Davies, Mario Iscovich. Produção: Doug Chapin, Barry Krost. Elenco: Angela Bassett, Laurence Fishburne, Rae'Ven Kelly, Khandi Alexander, Jenifer Lewis, Sherman Augustus. Estreia: 09/6/93
2 indicações ao Oscar: Ator (Laurence Fishburne), Atriz (Angela Bassett)
Vencedor do Golden Globe de Melhor Atriz Comédia/Musical (Angela Bassett)
Era uma vez uma jovem negra com uma voz extraordinária que conheceu e se apaixonou pelo líder de um grupo musical e, depois do casamento, percebeu que seu príncipe era na verdade um sapo. Submetida a todo tipo de violência física e psicológica, ela só teve forças pra levar a vida adiante quando encontrou o budismo e a auto-estima, que a fizeram tornar-se uma das maiores estrelas da música pop mundial. Essa sinopse, inacreditável em sua coleção de clichês, é, por mais difícil que possa parecer, absolutamente verdadeira. E sua protagonista uma cantora de projeção internacional: Tina Turner.
Baseado na autobiografia de Tina, escrita com a colaboração do jornalista Kurt Loder, o filme "Tina", produzido pela Touchstone Pictures (surpreendemente uma subsidiária da Disney tocando em assuntos polêmicos) tem todos os elementos de uma história edificante e com mensagens do tipo "levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima" e seu roteiro e direção não fogem do que já vem sendo visto e ouvido desde, no mínimo, "Nasce uma estrela", com Judy Garland. O que o salva de ser apenas mais uma cinebiografia esquecível e puxa-saco são as escolhas de seus protagonistas: para viverem Tina Turner e de seu marido/descobridor/algoz Ike foram escolhidos dois dos melhores atores negros de sua geração, Angela Bassett e Laurence Fishburne. Sintomaticamente, ambos foram indicados ao Oscar por seus trabalhos impecáveis - e Bassett levou um Golden Globe para casa.
Fishburne, que está na estrada desde um pequeno papel em "Apocalypse now", de 1979, agarra com unhas e dentes o papel de Ike, forte e assustador, ainda que transformado, graças ao roteiro maniqueísta, em um homem desumano e cruel, desprovido de qualquer humanidade ou qualidades redentoras, e cuja força das músicas é relegado a segundo plano. Seu olhar frio, sua voz tonitruante e seu físico avantajado em relação à frágil Tina criada por Bassett dão a ele cenas chocantes, tiradas de letra por um ator seguro e com inteligência suficiente para tirar leite de pedra.
Mas é Angela Bassett quem brilha mais fortemente, no papel de sua vida. Desde a juventude sonhadora de Tina até sua glória absoluta - passando por momentos de desespero profundo - Bassett pinta e borda, mesmo quando não tem mais a fazer em cena do que sofrer os abusos de Fishburne. Até mesmo os trejeitos de Tina a atriz consegue reproduzir sem parecer uma mera cópia ou caricatura - o que fica evidente nos excelentes números musicais reproduzidos com energia pelo diretor Brian Gibson. A trilha sonora, inclusive, é uma das melhores da década, englobando desde o início r&b de Ike Turner até o auge pop de Tina como artista-solo. É impossível não envolver-se!
"Tina" foge do destino amargo dos filmes-tributo graças ao talento inquestionável de seu elenco e da qualidade de sua produção (o figurino de Ruth Carter também merece ser destacado). Dentro de seu gênero - repleto de filmes que beiram perigosamente o medíocre - pode figurar tranquilamente entre os produtos bem-sucedidos.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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Um comentário:
Adoro filmes "biográficos" esse eu não conhecia. Belo comentário em bela indicação.
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