FORREST GUMP, O CONTADOR DE HISTÓRIAS (Forrest Gump, 1994, Paramount Pictures, 142min) Direção: Robert Zemeckis. Roteiro: Eric Roth, romance de Winston Groom. Fotografia: Don Burgess. Montagem: Arthur Scmidt. Música: Alan Silvestri. Figurino: Joanna Johnston. Direção de arte/cenários: Rick Carter/Nancy Haigh. Produção: Wendy Finerman, Steve Starskey, Steve Tisch. Elenco: Tom Hanks, Sally Field, Robin Wright, Gary Sinise, Mykelty Williamson, Haley Joel Osment. Estreia: 06/7/94. Bilheteria nos EUA: U$ 329.691.196
13 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (Robert Zemeckis), Ator (Tom Hanks), Ator Coadjuvante (Gary Sinise), Roteiro Adaptado, Fotografia, Montagem, Trilha Sonora Original, Direção de Arte/Cenários, Efeitos Visuais, Som, Efeitos Sonoros, Maquiagem
Vencedor de 6Oscar: Melhor Filme, Diretor (Robert Zemeckis), Ator (Tom Hanks), Roteiro Adaptado, Montagem, Efeitos Visuais
Vencedor de 3 Golden Globes: Melhor Filme/Drama, Diretor (Robert Zemeckis), Ator/Drama (Tom Hanks)
É engraçado como alguns filmes conseguem um diálogo imediato com a plateia, mesmo que aparentemente nada tenham a ver com ela. Talvez seja culpa do cinismo que assolava o cinema americano dos anos 90, talvez seja porque o público estava precisando de uma espécie de super-herói humano, mas o fato é que "Forrest Gump, o contador de histórias", de Robert Zemeckis simplesmente superou toda e qualquer expectativa de seu estúdio (a Paramount Pictures) e, com uma renda superior a 300 milhões de dólares somente no mercado americano, tornou-se parte do inconsciente coletivo não apenas de uma nação, mas do mundo todo. Com sua mistura perfeita entre comédia, drama e efeitos visuais impecáveis, a adaptação do romance de Winston Groom foi o grande vencedor do Oscar de 1994 em seis categorias - incluindo as principais: filme, diretor e ator (o segundo consecutivo de Tom Hanks). O melhor de tudo é que mereceu o sucesso todo.
"Forrest Gump" é um filme difícil de resumir. O protagonista - vivido magistralmente por Hanks - é um rapaz de QI abaixo da média que, desde a infância traumática (abandonado pelo pai, com problemas nas pernas) contou com a superproteção da mãe (interpretada com gosto por Sally Field, apenas dez anos mais velha do que Hanks na vida real). Graças a ela, Gump estudou em uma escola para crianças normais, onde conheceu e se apaixonou à primeira vista pela doce Jenny (interpretada por Robin Wright na idade adulta). Sem dar importância a suas limitações, o rapaz entra na universidade devido a seu dom como esportista, volta da guerra do Vietnã condecorado (depois de salvar a vida de quase todo o seu pelotão), inicia um bem-sucedido negócio no ramo da pesca de camarão, torna-se ídolo do ping-pong e estampa capas de revistas depois que resolve correr país afora. Nesse ínterim, conhece três presidentes americanos, é testemunha do caso Watergate, trava conhecimento com Elvis Presley e John Lennon e em momento algum esquece ou desiste de proteger a mulher por quem é loucamente apaixonado.
Forrest Gump, o protagonista, é uma das mais carismáticas personagens da história do cinema americano. Ingênuo, simples e amoroso, Gump é uma espécie de alter-ego lúdico de qualquer pessoa da plateia. Homens ou mulheres, adultos ou crianças, todos se envolvem positivamente com sua trajetória: ele não deseja ser herói ou ídolo, ele simplesmente o é, por acaso puro e simples. Presente sempre no lugar certo e no momento exato, Forrest Gump é testemunha ocular da história americana e o fato de não ser nada além de um "caipira" do Alabama faz com que o público se identifique com ele de forma incondicional. Ao contrário do protagonista de "Rain Man", por exemplo, ele não é genial com números ou irritantemente metódico: ele é um homem com inteligência abaixo da média mas com um coração imenso e fiel.
Metódico somente o trabalho de Tom Hanks: em uma atuação consagradora, o único ator a conseguir o feito de arrebatar 2 Oscar consecutivos (o outro foi Spencer Tracy) construiu um Forrest Gump exemplar. Somente seu meticuloso trabalho vocal e corporal já lhe justificaria a estatueta, mas além disso, ele consegue humanizar sua personagem sem nunca escorregar na tentação de transformá-la em uma aberração simpática. Na interpretação de Hanks, Gump é um ser humano e não uma personagem inverossímil e, para isso, ele conta com um elenco coadjuvante de peso. Além de Field - já acostumada a conquistar o público sem muito esforço - a bela Robin Wright e o experiente Gary Sinise não ficam atrás em matéria de intensidade. Wright - na época mais conhecida por ser namorada de Sean Penn - alcança o equilíbrio perfeito entre as insanidades e a melancolia de sua Jenny, uma jovem marcada por uma infância violenta e uma vida adulta sofrida e inconstante. E Sinise - indicado ao Oscar de coadjuvante - vive um Tenente Dan Taylor excepcional (e para isso também conta a perfeição dos efeitos visuais que lhe arrancam as pernas na maior parte do filme).
Os efeitos visuais, aliás, merecem um capítulo à parte: ao misturar com extrema perfeição cenas do filme com imagens de arquivo, Robert Zemeckis atingiu um nível de excelência que é capaz de assombrar mesmo depois de quase 17 anos. Sem deixar que o aspecto técnico sobressaísse em relação ao nível emocional da trama - por si só empolgante o suficiente - o cineasta provou que, mais do que um diretor conectado aos avanços dos efeitos visuais, ele é acima de tudo um real artista, cuja principal preocupação é contar uma boa história. E uma boa história não é o que falta a "Forrest Gump".
O roteiro excepcional de Eric Roth - também vencedor do Oscar - é um primor de inteligência, bom-humor e ritmo. Em nenhum momento "Forrest Gump" é previsível ou carece de ritmo. Equilibra piadas irônicas com cenas de partir o coração. Alterna uma música original belíssima de Alan Silvestri com uma seleção de canções dos anos 60 de encantar os ouvidos. Mas, acima de tudo, jamais subestima a inteligência e a sensibilidade do espectador. Um clássico instantâneo e um dos filmes mais importantes da história do cinema!
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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4 comentários:
Sou "não fã" declarado de Tom Hanks, acho que ele poderia ter um grande vilão para me conquistar. Mas, não sou burro. Ele é o dono do filme e junto com o ótimo roteiro fazem desse, um verdadeiro ícone da sétima arte.
Bela história com ótima atuação.
Filme obrigatório.
Um dos melhores filmes que já vi. Sensacional!!! Uma reconstrução da história norte-americana sob o olhar de um idiota burocrata sortudo que acaba se tornando herói nacional. Tá aí a crítica aos EUA nas entrelinahs do filme.
A atuação de Tom Hanks foi tão boa que qualquer filme que ele fez depois do "Forrest Gump", eu pesava que quem estava atuando era o Gump e não o Hanks! hehe
Adoro aquela parte em que ele ensina o Elvis a dançar.
DEMAIS!!!!
Esse filme é Fodástico, com o perdão da palavra... !!!
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