UM
CRIME DE MESTRE (Fracture, 2007, New Line Cinema/Castle Rock
Entertainment, 113min) Direção: Gregory Hoblit. Roteiro: Daniel Pyne,
Glenn Gers, estória de Daniel Pyne. Fotografia: Kramer Morgenthau.
Montagem: David Rosenbloom. Música: Jeff Dana, Mychael Danna. Figurino:
Elisabetta Beraldo. Direção de arte/cenários: Paul Eads/Nancy Nye.
Produção executiva: Toby Emmerich, Liz Glotzer, Hawk Koch. Produção:
Charles Weinstock. Elenco: Anthony Hopkins, Ryan Gosling, David
Strathairn, Rosamund Pike, Embeth Davidtz, Billy Burke, Fiona Shaw, Bob
Gunton, Xander Berkeley, Zoe Kazan. Estreia: 11/4/07
Em
seu filme de estreia, o cineasta Gregory Hoblit conquistou o público
com uma instigante trama de tribunal que colocava frente a frente um
advogado vaidoso e arrogante (Richard Gere) e um jovem sacristão
acusado de matar violentamente um arcebispo. O filme era "As duas faces
de um crime" e, além de ter dado a primeira chance no cinema a Edward
Norton - que a aproveitou como poucos, chegando ao páreo do Oscar de
coadjuvante - mostrou em Hoblit um cineasta correto e atencioso com os
atores e o texto. Tais características são claras também em "Um crime de
mestre", lançado mais de uma década depois e que, assim como em seu
primeiro filme, junta em cena um ator veterano e um talento promissor,
no caso, Anthony Hopkins - o eterno Hannibal Lecter - e Ryan Gosling,
iniciando uma trajetória de bons papéis e filmes menos esquecíveis como
"Cálculo mortal". E a menção ao mais famoso canibal do cinema não é
casual: mesmo sendo um grande ator, é impossível não perceber em sua
atuação como o milionário Ted Crawford traços bem nítidos do papel que
lhe deu a estatueta da Academia.
O olhar frio, o
calculismo e um certo tom de superioridade ao restante da humanidade são
algumas das similaridades entre Lecter e Crawford, um milionário do
ramo da aviação que, ao descobrir o relacionamento extra-conjugal de sua
esposa, Jennifer (Embeth Davidtz), planeja sua morte com requintes de
artista: ao chegar em casa depois de um encontro com o amante, Jennifer é
atingida com um tiro no rosto e é internada em coma. Acuado pela
polícia dentro de sua mansão, Crawford confessa o crime e é preso
imediatamente. O defensor público escalado para cuidar de seu caso é o
ambicioso Willy Beachum (Ryan Gosling), jovem advogado em vias de dar um
salto na carreira e tornar-se sócio de uma conceituada firma da qual
faz parte a sedutora Nikki Gardner (Rosamund Pike) - com quem ele acaba
se envolvendo romanticamente. Acontece que Beachum não está muito
interessado no caso por considerá-lo perdido - o suspeito, afinal de
contas, fez uma confissão à polícia e foi preso em flagrante. No
entanto, uma surpresa na condução das preliminares do julgamento o faz
mudar de ideia: defendendo a si mesmo diante do juiz, Crawford põe em
dúvida a veracidade de sua confissão ao revelar, durante um depoimento,
que o policial que o prendeu, Robert Nunnaly (Billy Burke), era o amante
de sua mulher.
Por
vezes o roteiro de "Um crime de mestre" exagera nas tecnicalidades do
direito penal americano, mas nada que o público acostumado a uma
constante dieta de filmes do gênero não consiga acompanhar sem
dificuldade, principalmente porque Hoblit tem pleno domínio do ritmo de
seu filme, impedindo qualquer queda no interesse pela trama. É lógico
que o duelo de interpretações entre Gosling e Hopkins dá um molho
especial à narrativa, fotografada com elegância e sofisticação em
ângulos de câmera criativos e que enfatizam o tom de quebra-cabeças da
história. E se Hopkins repete à exaustão os tiques que lhe deram fama, o
jovem Gosling deita e rola com a oportunidade de contracenar com um dos
monstros sagrados do cinema: ficando com o papel para o qual também foi
testado Chris Evans - o futuro Capitão América das telas - ele entrega
uma atuação visceral que lhe conduziu em seguida ao posto de uma das
maiores promessas de Hollywood (não à toa, ele recebeu uma indicação ao
Oscar de melhor ator por seu desempenho no independente "Half Nelson" às
vésperas da estreia de "Um crime de mestre" nos EUA). Suas cenas com
Hopkins - tensas e calcadas basicamente no talento dos atores - e com
Rosamund Pike - banhadas em uma tensão sexual na dose certa - são,
certamente, as melhores do filme.
"Um crime de mestre"
não é um filme brilhante, mas tem qualidades o bastante para satisfazer o
gosto dos fãs do gênero, com suas viradas, seus diálogos inteligentes e
um final que, apesar de não atingir todo o seu potencial, é coerente e
verossímil. Além do mais, nada é mais instigante do que testemunhar um
duelo de interpretações entre dois ótimos atores de gerações diferentes.
Um programa de nível para quem prefere utilizar o cérebro ao invés dos
músculos.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
terça-feira
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Um comentário:
Um crime de mestre e uma boa filme, esta historia é muito interessante, eu gosto muito deste tipo de roteiro, te mantém no suspense até o final. O que mais eu gostei deste filme é a musica com a que a ambientaram cada situação da historia. Adoro as filmes Ryan Gosling por que ele sempre surpreende com os seus papeis, pois se mete de cabeça nas suas atuações e contagia profundamente a todos com as suas emoções. Adoro porque sua atuação não é forçada em absoluto. Excelente filme, desfrutei muito, recomendo seu filmografia!
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