O ENCANTADOR DE CAVALOS (The horse whisperer, 1998, Touchstone Pictures, 172min) Direção: Robert Redford. Roteiro: Eric Roth, Richard LaGravenese, romance de Nick Evans. Fotografia: Robert Richardson. Montagem: Hank Corwin, Freeman Davies, Tom Rolf. Música: Thomas Newman, Gwil Owen. Figurino: Judy L. Ruskin. Direção de arte/cenários: Jon Hutman/Gretchen Rau, Hilton Rosemarin. Produção executiva: Rachel Pfeffer. Produção: Patrick Markey, Robert Redford. Elenco: Robert Redford, Kristin Scott Thomas, Sam Neil, Dianne Wiest, Chris Cooper, Scarlett Johanssen, Cherry Jones, Kate Bosworth. Estreia: 15/5/98
Indicado ao Oscar de Melhor Canção ("A soft place to fall")
Quem conhece a filmografia de Robert Redford como cineasta sabe muito bem que o galã transformado em diretor oscarizado - pelo belo "Gente como a gente", de 1980 - tem um ritmo todo particular de contar as histórias que escolhe apresentar à plateia. Foi assim, por exemplo, com "Nada é para sempre" (92), que ilustrava uma trama familiar e fraternal com o ritmo suave da pesca, e com "Quiz show, a verdade dos bastidores" (94), que escancarava a corrupção da televisão americana em plenos anos 50 como um cerebral filme de detetives da década de 70. Não houve surpresa nenhuma, portanto, quando ele lançou "O encantador de cavalos", seu filme seguinte: baseado em um romance de Nick Evans que teve seus direitos comprados por Redford antes mesmo de ser publicado, o filme se desenvolve lentamente diante dos olhos do espectador, oferecendo a ele a oportunidade de envolver-se gradualmente com a trama, os personagens e as belas imagens captadas pela câmera do veterano Robert Richardson - Oscar por "JFK", de Oliver Stone. A quem está acostumado com a edição quase alucinante da maioria do filmes pós-anos 80, pode parecer chato e enfadonho - o estilo convencional do cineasta muitas vezes é assim considerado - mas aqueles que aceitarem experimentar podem se surpreender com uma bela e emocionante história de amor e reparações sentimentais.
Logo nos primeiros minutos de projeção Redford já mostra que não está disposto a brincadeiras, com uma impressionante sequência que mostra um trágico acidente envolvendo um caminhão e dois cavalos em um estrada coberta de uma neve escorregadia e traiçoeira. O resultado do desastre - dirigido com sensibilidade e delicadeza que equilibram suas consequências funestas - é a morte da adolescente que cavalgava um dos animais (que também acaba se tornando uma vítima fatal) e a amputação de parte da perna da outra menina, a tímida Grace (Scarlett Johansson em início de carreira). Seu cavalo, Pilgrim, sobrevive, mas fica extremamente ferido a ponto de tornar-se sério candidato à eutanásia. Quem impede tal desfecho é Annie (Kristin Scott Thomas), editora-chefe de uma revista nova-iorquina que acredita que matar o animal seria o golpe de misericórdia no sofrimento de sua filha, Grace. Disposta a curar o cavalo - e consequentemente ajudar na recuperação da garota, com quem vive um relacionamento difícil - ela viaja até Montana com o objetivo de convencer o famoso "encantador de cavalos" Tom Booker (Redford em pessoa, pela primeira vez sendo dirigido por ele mesmo) a aceitar o trabalho de recuperar a saúde de Pilgrim.
Não é preciso ser especialista para adivinhar que Booker não apenas irá tratar do cavalo, mas também irá consertar a relação entre mãe e filha, colaborar na autoaceitação de Grace em sua nova condição, questionar o modo de vida urbano e estressante de Annie e, lógico, envolver-se romanticamente com ela, que passa por um período conturbado no casamento com Robert (Sam Neill). Nadando contra a corrente do cinema comercial americano, porém, Redford trata dessa sessão de terapia conjunta e atípica sem pressa, de forma quase contemplativa e onírica, que valoriza cada fotograma, cada expressão de seus atores - e entre os coadjuvantes estão os ótimos Dianne Wiest e Chris Cooper - e cada deslumbrante cenário de Montana. É óbvio que essa decisão em levar a história a seu próprio tempo estica a duração do filme a quase três horas de duração, o que pode incomodar aos mais inquietos, mas é louvável a coragem de Redford em desafiar as normas ao assinar uma produção que ainda por cima tem a ousadia de contar uma história de amor pudica e discreta, ao contrário dos amores histéricos que frequentam as salas de exibição. Tudo bem, sua química com Kristin Scott Thomas - uma das maiores atrizes de sua geração - não é das melhores, mas o fato de seu relacionamento sustentar-se basicamente em olhares e intenções faz dele um dos mais maduros e interessantes da década, apesar do fracasso do filme nas bilheterias (talvez justamente por romper os padrões comerciais do gênero).
E é interessante também como Redford encontra um generoso espaço em seu drama romântico para mostrar o tratamento que seu personagem oferece ao cavalo de Grace - e que, afinal, dá título ao filme. As cenas em que Tom Booker e Pilgrim interagem - e posteriormente incluem a menina em sua relação - são emocionantes na medida certa, evitando o sentimentalismo fácil ao mesmo tempo em que conquistam o público com sua delicadeza ímpar, enfatizada pela bela fotografia e pela trilha sonora de Thomas Newman. "O encantador de cavalos" é um filme para plateias adultas, que estão cansadas das fórmulas desgastadas expostas com ritmo de videoclipe. É suave, maduro e muito bonito.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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