LAURA, A VOZ DE UMA ESTRELA (Little voice, 1998, Miramax, 97min)
Direção: Mark Herman. Roteiro: Mark Herman, peça teatral "The rise and
fall of Little Voice", de Jim Cartwright. Fotografia: Andy Collins.
Montagem: Michael Ellis. Música: John Altman. Figurino: Lindy Hemming.
Direção de arte/cenários: Don Taylor/John Bush. Produção executiva: Nik
Powell, Stephen Wooley. Produção: Elizabeth Karlsen. Elenco: Jane
Horrocks, Michael Caine, Brenda Blethyn, Ewan McGregor, Jim Broadbent.
Estreia: 18/9/98 (Festival de Toronto)
Indicado ao Oscar de Atriz Coadjuvante (Brenda Blethyn)
Vencedor do Golden Globe de Melhor Ator (Comédia/Musical): Michael Caine
Uma das maiores funções do Golden Globe - prêmio concedido pela Associação de Correspondentes Estrangeiros em Hollywood - é revelar ao público e à Academia que concede os Oscar (normalmente fechada em seus próprios interesses comerciais) alguns filmes que, por má distribuição, orçamentos pequenos ou inúmeros outros motivos, talvez tenham passado em branco pelas salas de exibição. Em 1999 isso aconteceu com "Laura, a voz de uma estrela", adaptação de uma peça teatral inglesa que chamou a atenção para a brilhante atuação de Michael Caine - apesar da vitória no Globe, porém, ele foi ignorado pela Academia, que lembrou-se apenas de indicar sua colega de elenco Brenda Blethyn à estatueta de atriz coadjuvante. Tal fracasso em destacar o filme dentre tantas outras produções, no entanto, não ofusca suas maiores qualidades, que residem justamente no elenco coeso e na atuação hipnótica de Jane Horrocks - para quem a peça original foi escrita - no papel principal.
Laura, a protagonista, é uma jovem inglesa reclusa e tímida que vive trancada em seu quarto, ouvindo os discos das divas que eram os ídolos de seu pai, de quem sente uma saudade devastadora. Sua rotina simples de escutar ad infinitum os álbuns de Judy Garland, Shirley Bassey e Marilyn Monroe só é quebrada pela personalidade exagerada de sua mãe, Mari Hoff (Brenda Blethyn, perfeita na caracterização), uma mulher pouco afeita a sutilezas e generosidades que vê na filha um fracasso completo. Suas vidas sofrem uma profunda transformação, porém, quando uma das conquistas de Mari, o empresário artístico Ray Say (Michael Caine), descobre que, por trás da timidez quase patológica de Laura existe um genuíno talento musical: ao ouví-la, sem querer, imitando as grandes cantoras a que admira, ele vê nela um futuro extraordinário no showbusiness.Com o apoio da ambiciosa Mari, ele tenta convencer a jovem - a quem chamam de LV (Little Voice) - a apresentar-se no clube do semi-fracassado Mr. Boo (Jim Broadbent). Sentindo-se pressionada, a antissocial Laura tem a compreensão apenas do delicado Billy (Ewan McGregor), funcionário da companhia telefônica que se dá melhor com seus pombos-correio do que com as pessoas a seu redor.
Despretensioso e de estrutura simples, "Laura, a voz de uma estrela" conquista basicamente pela construção de seus personagens, delineados com capricho e sutileza, ainda que a princípio pareçam mais estereótipos do que pessoas reais. Conforme a história avança é que as verdadeiras personalidades vão surgindo, mostrando as reais intenções de cada um - assim como as consequências de seus atos os aproxima de um desfecho senão previsível, ao menos coerente e delicado como a protagonista. O romance titubeante entre Laura e Billy (personagem inexistente na versão teatral e criado especificamente para ser vivido por Ewan McGregor) é apaixonante na medida certa, cativando a plateia graças às atitudes desajeitadas dos personagens, envolvidos sem querer em uma situação inesperada e para eles desconhecida. Ainda que não seja o foco central da narrativa, sua história de amor ajuda o espectador a compartilhar da solidão e dos medos dos dois jovens, em um amor puro que contrasta violentamente com o caso entre Mari e Ray, dois seres dotados de extremo egoísmo e ganância - e que os leva à ruína emocional.
Com interpretações fantásticas de Blethyn e Caine, Mari e Ray quase conseguem ser maiores do que a maior das qualidades de "Laura": o talento impressionante de Jane Horrocks em imitar algumas das mais idolatradas divas da música norte-americana. Duas sequências são especialmente brilhantes nesse ponto: primeiro, quando a jovem finalmente cede aos pedidos da mãe e dá um show no palco, sendo aplaudida fervorosamente; e depois, quando enfrenta bravamente Ray, utilizando-se de seu talento para expulsá-lo de sua casa apenas com trechos de músicas antigas. Essas duas cenas são um belo exemplo da força discreta do filme, que seduz imperceptivelmente até que os créditos finais surgem e deixam no público uma sensação de paz e bem-estar. Um belo pequeno filme.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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